domingo, 24 de abril de 2011

MUNDO ÁRABE-PROTESTOS










Direto de Beirute

A onda de protestos que agita o mundo árabe há quatro meses, e que viu duas revoluções serem consumadas no Egito e Tunísia, expôs a importância que terá o Islã político na nova ordem democrática na região. Parceiros de liberais seculares e comunistas nos levantes populares em vários países, os islamistas serão fundamentais na consolidação das mudanças políticas no Oriente Médio, segundo disseram analistas.

EGITO-MAPA

Receosos no início, os países ocidentais, especialmente os Estados Unidos e europeus, apoiaram mudanças pró-democracia no Egito e Tunísia, e vêm dando apoio aos rebeldes na Líbia que tentam derrubar o líder Muammar Kadafi, há 42 anos no poder. Entretanto, o crescimento de movimentos islâmicos variados, de moderados aos mais conservadores, e a falta de nitidez de suas agendas sócio-políticas preocupa os governos ocidentais.


MANIFESTAÇÕES NA TÚNISIA

No Egito, muitos grupos, como a Irmandade Muçulmana, mais moderada, e os movimentos Salafistas, mais conservadores, ainda não deixaram claro como participarão da vida política no país. Muitos egípcios temem um Estado baseado em uma forma mais conservadora do Islã.

CONFLITOS NO EGITO

Na Tunísia, grupos islamistas desejam maior participação no processo democrático, mas parte da população ainda não sabe que tipo de governo querem: se secular ou baseado na religião.



Entre os rebeldes líbios que lutam contra as forças leais a Kadafi, há muitos que se consideram islamistas, inclusive vários jihadistas que treinaram no Afeganistão com militantes da Al-Qaeda, de Osama Bin laden. Eles alegam, no entanto, que não possuem a mesma visão extremista da organização terrorista e disseram a diversos jornalistas internacionais que estavam agradecidos ao Ocidente pela ajuda contra Kadafi.



SITUAÇÃO POR PAÍS

REVOLUÇÃO
MUDANÇAS NO GOVERNO
CONFLITO ARMADO
GRANDES PROTESTOS
PEQUENOS PROTESTOS

Segundo o analista político Ayman el-Amir, da prestigiada revista semanal egípcia Al Ahram, liberais secularistas e os ocidentais estão desconfiados com as intenções dos partidos islamistas. "Mas ser islâmico não quer dizer ser conservador, e só o tempo dirá se egípcios e tunisianos poderão ter uma democracia lado a lado com partidos islâmicos mais conservadores", disse.

Ele explica que diferente de outros movimentos, os partidos islamistas são mais propensos a uma única ideologia que, geralmente, os coloca em conflito com forças mais liberais da sociedade. "O desafio que atualmente enfrentam é se eles ficarão presos aos seus dogmas e tentarão dominar o atual momento de mudanças sócio-políticas ou aceitarão fazer parte de um campo mais amplo de idéias", disse el-Amir.

Islã político

De acordo com o analista, os movimentos islâmicos estão em todos os países que hoje também passam por levantes populares - Síria, Jordânia, Iêmen e Bahrein -, além de Marrocos e Argélia, que também passam por pequenos protestos de sua populações.

"O fator islâmico está presente em todos estes países e não pode ser ignorado nem colocado à margem, já que o Islã político faz parte da sociedade árabe e pode ser um importante aliado na consolidação da democracia na região se as forças moderadas e o diálogo prevalecerem".

Por décadas, muitos destes movimentos sofreram repressões e prisões, como no Egito e Tunísia. Agora eles sabem que com a liberdade vem as responsabilidades com o novo cenário político", completou el-Amir.

O colunista político egípcio Hani Shukrallah explicou que os levantes árabes foram movimentos nacionalistas que reuniram liberais e islamistas em prol de uma causa: liberdade e democracia. "No Oriente Médio se diz que Islã e política estão inseparáveis. Mesmo alguns liberais secularistas em vários países árabes possuem uma ligação com religião - sejam eles cristãos ou islâmicos. No caso do Islã, a questão não é se vai ter função em determinar o futuro da região, mas qual papel terá", disse Shukrallah.

Para ele, embora as velhas ideologias ainda existam, os movimentos islamistas passam por mudanças e conflitos entre a velha guarda e jovens islâmicos mais liberais e que desejam ver o Islã tendo um papel justo e eficaz.

"Um exemplo é a Irmandade Muçulmana do Egito, que vem vivendo um confltio interno entre os jovens mais moderados e liberais e os velhos líderes mais conservadores".

Um grupo que preocupa os movimentos seculares no Egito, Tunísia e outros países são os Salafistas, grupo influenciado pela Árabia Saudita e adeptos de uma visão mais estrita do Islamismo, que prega uma sociedade mais conservadora e com leis baseadas na sharia (lei islâmica).

Ocidente
Cristãos Coptas no Egito, cerca de 10% da população de 80 milhões do país, temem que um aumento do poder da Irmandade Muçulmana e Salafistas no país poderia colocá-los em rota de colisão com suas agendas mais conservadoras.

Mas com a Irmandade passando por transformações e divergências internas entre liberais e conservadores, são os Salafistas que permanecem como uma incógnita. Alguns deles declaram que respeitarão as diferentes visões e uma sociedade pluralista.

Para Shukrallah, é muito cedo para analisar se liberais e islamistas conseguirão ou não resolver as diferenças fundamentais e chegar a um ponto em comum nas demcoracias que emergirem no mundo árabe. "Mas eles são parte do jogo e o Ocidente deve entender isso e não marginalizá-los".

Segundo ele, a influência das potências ocidentais é limitada no que ao alcance dos corações e mentes dos movimentos políticos na região. E o melhor que o Ocidente tem a fazer é deixar que esse processo de engajamento entre forças liberais e islamistas no mundo árabe aconteça sem sua interferência.

"Ao invés disso, o que deveria acontecer uma iniciativa de união entre estas diferentes ideias, sem a mão da velha guarda de ambos os lados e do Ocidente, para que as revoluções não sejam sequestradas ou sabotadas por grupos extremistas".

Um comentário:

juliana.loss disse...

Muito bom seu post. Estou sentindo falta de mais debates sobre o que de fato está acontecendo nestes países. Muitas coisas permanecem incógnitas não só pela dificuldade de se obter informações reais mas também pela falta de interesse já que ainda não está afetando a ordem internacional de maneira tão abrupta para que houvesse maior preocupação.