quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

BRASIL : EU QUERO MEU DINHEIRO APLICADO NO MEU PAÍS.




BRASIL É O OITAVO PAÍS COM O MAIOR NÚMERO DE ANALFABETOS.

Relatório mapeou os principais desafios da educação no mundo.

Dos 150 países analisados, apenas 41 atingiram meta de investimento.


Um relatório divulgado nesta quarta-feira (29)pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) aponta que o Brasil aparece em 8° lugar entre os países com maior número de analfabetos adultos. Ao todo, o estudo avaliou a situação de 150 países.
De acordo com a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2012 e divulgada em setembro de 2013, a taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais foi estimada em 8,7%, o que corresponde a 13,2 milhões de analfabetos no país.
Em todo o mundo, segundo o 11° Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, da Unesco, há 774 milhões de adultos que não sabem ler nem escrever, dos quais 64% são mulheres. Além disso, 72% deles estão em dez países, como o Brasil. A Índia lidera a lista, seguida por China e Paquistão.
O estudo também mapeou os principais desafios da educação no planeta. A crise na aprendizagem não é só no Brasil, mas global. Para a Unesco, o problema está relacionado com a má qualidade da educação e a falta de atrativos nas aulas e de treinamento adequado para os professores.
No Brasil, por exemplo, atualmente menos de 10% dos professores estão fazendo cursos de formação custeados pelo governo federal, segundo dados do Ministério da Educação (MEC). Entre os países analisados, um terço tem menos de 75% dos educadores do ensino primário treinados.
Sobre os investimentos na área, das 150 nações analisadas, apenas 41 atingiram a meta da Unesco, ou seja, aplicaram em educação 6% ou mais de seu Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todas as riquezas geradas. O Brasil é um deles, mas o gasto anual por aluno da educação básica é de cerca de R$ 5 mil. Em países ricos, esse valor é três vezes maior.
Meta até 2015
No Fórum Mundial de Educação realizado em 2000, 164 países (entre eles, o Brasil), 35 instituições internacionais e 127 organizações não governamentais (ONG) adotaram o Marco de Ação de Dacar, em que se comprometem a dedicar os recursos e esforços necessários para melhorar a educação até 2015.
Na ocasião, foram traçados seis objetivos: os países devem expandir os cuidados na primeira infância e na educação; universalizar o ensino primário; promover as competências de aprendizagem e de vida para jovens e adultos; reduzir o analfabetismo em 50%; alcançar a paridade e igualdade de gênero; e melhorar a qualidade da educação.
Segundo o relatório da Unesco, esse compromisso não deve ser atingido globalmente, apesar de alguns países terem apresentado avanços nos últimos anos.
Em todo o mundo, a taxa de alfabetização de adultos passou de 76% para 82% entre os períodos de 1985-1994 e 1995-2004. Mas, por região, os índices ainda permanecem bem abaixo da média na Ásia Meridional e Ocidental e na África Subsaariana (ao sul do deserto do Saara), com aproximadamente 60%. Nos Estados Árabes e no Caribe, as taxas estão em cerca de 70%.
Fonte : G1

BRASIL : ONDE IREMOS PARAR ?

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

ONDAS DE FRIO E CALOR. O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

Extremos de frio e calor podem estar indicado o novo normal com a mudança climática, por Sérgio Abranches


aquecimento global

[Ecopolítica] Tremenda onda de frio produz situações dramáticas e letais nos Estados Unidos e no Canadá. Brutal onda de calor que eleva os termômetros no Rio de Janeiro para além dos clássicos 40 graus Celsius e na Austrália para a fronteira dos 50 graus Celsius. A sensação térmica no Rio anda batendo os 51 graus Celsius. São temperaturas mortais. O frio pode provocar queimadas severas na pele e hipotermia, muito rapidamente. O calor pode também causar queimaduras sérias e morte por desidratação e agravamento de cardiopatias. Riscos de extremos de temperatura que ameaçam principalmente pobres desabrigados, crianças e idosos. Esses extremos juntos são uma espécie de amostra do tipo de cenário “moderado” que os cientistas prevêem para o futuro, se não conseguirmos estancar as emissões de gases estufa e, posteriormente, reduzir reduzir sua concentração na atmosfera.
Esse frio intenso no Hemisfério Norte tem explicação clara. Os cientistas sabem o que está acontecendo. Onde não há consenso é no que eles chamam de “questão da atribuição”. Em palavras simples, se é possível ou não atribuir esse cenário caótico ao aquecimento global e à mudança climática. Hoje, diferentemente do passado recente, cientistas experientes e reconhecidos, já dizem em público que os padrões alterados de tempo que têm se repetido nos últimos anos podem e devem ser atribuídos à mudança climática causada pela concentração de gases estufa que já está em curso. A redução do gelo no Pólo Norte causa aquecimento do Oceano Ártico no Hemisfério Norte e a difusão do calor latente pela atmosfera ártica. Esse aquecimento enfraquece os corredores de vento polar, o “jestream”, que passa a ter um padrão de circulação serpenteante, em velocidades mais baixas em algumas áreas e mais abrangente. Quando isso acontece o tempo fica caótico em boa parte dos Estados Unidos e em alguns pontos da Europa, como o Reino Unido. Afeta o padrão de tempestades de neve e chuva, de furacões e secas no Hemisfério Norte.
O Oceano Árctico está aquecendo em velocidade muito superior à de outras áreas. Neste período, a temperatura média ficou -17 grau Celsius,. O aquecimento e a perda de gelo polar mudam dramaticamente a atmosfera superior. A forte corrente de ar polar na atmosfera superior, em situações antes normais de temperaturas mais baixas, ficava “fechada” em torno do Pólo Norte. Mas, sobrecarregada de calor do Oceano Ártico, ela se “solta” e avança na direção sul, adotando uma trajetória sinuosa e provocando situações climáticas extremas.
Os cientistas mais convictos, como Michael Mann, autor do célebre gráfico conhecido como “taco de hóquei”, não têm mais problema em dizer que os extremos que temos experimentado nos últimos anos são parte do processo de mudança climática provocado pelas emissões humanas. Um processo já em curso. O aquecimento dos pólos tem sido apontado pela quase unanimidade (com as exceções pouco respeitáveis – a maioria – e alguns – muito poucos – sérios que ainda não se convenceram. Todos os sérios apontam a margem ainda significativa de indeterminação, que dificulta atribuir à mudança climática determinados fenômenos específicos. Mas isso nem toca na validade da hipótese de mudança climática por causas humanas em curso e com trajetória de alto risco.
Os extremos do final de 2013 e início de 2014 são impressionantes. Nevascas violentas e temperaturas muito baixas, com sensações térmicas impressionantes atingiram os Estados Unidos e o Canadá. Pelo menos metade do EUA está coberta de neve e experimentando temperaturas de congelar. A sensação térmica em alguns lugares chegou a – 55 graus Celsius. Em Manitoba, no Canadá, as temperaturas chegaram aos níveis de Marte, incríveis – 52 graus Celsius, na passagem de ano. Em muitos lugares do EUA e do Canadá, as temperaturas estão muito abaixo das registradas no Pólo Norte nos últimos dias, que não passaram de bem comportados (para a época) – 21 graus Celsius.
Mas o EUA não está congelando por toda parte. Na California nem está tão quente, nem chovendo ou nevando significativamente. Ao, contrário, o estado vive intensa seca. Há um sistema de alta pressão parado na região, que desvia o corredor de ar polar para o norte, rumo a partes do Canadá e do Alaska. Como resultado, 85% do estado vive uma longa estiagem, com o a menor grau de umidade desde 1849, quando o índice começou a ser medido. Em Los Angeles a precipitação foi apenas 24% da média “normal”. Em São Francisco, 16% da média anual em 2013.
Esse ondulante corredor de ar polar está também produzindo estragos no Reino Unido. Ondas de mais de 15 metros, ressacas violentas com marés muito elevadas e chuvas de enormes e destrutivas pelotas de granizo estão provocando inundações e destruição na costa britânica. Rodovias e estradas de ferro foram destruídas e a maré tem provocando inundações que avançam facilmente sobre os diques e barreiras. breaching the defenses.
Já a Austrália está fervendo, como o Rio de Janeiro. A seca e as queimadas voltaram a atingir parte do país. O ano de 2013 foi o mais quente jamais registrado, com temperaturas chegando a 50 graus Celsius, no começo de 2014.
Cá do nosso lado, a Argentina acaba de sair da pior onda de calor dos últimos 107 anos. Ela provou uma série de grandes apagões em boa parte do país. No Rio, temos uma onda de calor que nos últimos dias levou a sensação térmica a níveis de 50-51 graus Celsius, com temperaturas entre passando dos 42 graus Celsius nas partes mais quentes. O Nordeste vive a pior seca dos últimos 30 anos. Onde choveu para aliviar a seca houve fortes inundações. Inundações mataram no Espírito Santo e Minas Gerais e afetaram também o Rio, no finalzinho de 2013.
Esse cenário de tempo enlouquecido é um retrato moderado do cenário futuro que pode ocorrer se não tomarmos medidas mais agressivas para conter a mudança climática, reduzindo a zero, em tempo hábil, nossas emissões de gases estufa. Por outro lado, é sempre bom lembrar que tempo não é clima. Esses eventos climáticos cíclicos vão e voltam, mas, aí sim, por causa do clima em mutação, de forma mais frequente e mais intensa, até deixarem de ser cíclicos e se tornarem, de fato, o “novo normal”. Por enquanto, vamos vivendo de anormalidade em anormalidade, com muitos políticos, grupos de interesses e cientistas de baixa qualificação, dizendo que tudo passará, e que vivemos tempos normais.
Sérgio Abranches, PhD, sociólogo, cientista político, analista político e escritor. Escreve sobre Ecopolítica. É comentarista da rádio CBN, onde mantém o boletim diário Ecopolítica. Autor de Copenhague: Antes e Depois, Civilização Brasileira, 2010, sobre a política global do clima; e de O Pelo Negro do Medo, romance, Record, 2012. Prêmio Jornalistas&Cia HSBC de Imprensa e Sustentabilidade: Personalidade do Ano em Sustentabilidade 2011. Prêmio Chico Mendes de Jornalismo Socioambiental 2013 (rádio).
EcoDebate, 28/01/2014

CAATINGA : EXTRAÇÃO ILEGAL DE MADEIRA.

A Caatinga pede Socorro.
Extração Ilegal de madeira deste Bioma, usado como Matriz Energética…
[EcoDebate] Diariamente dezenas de caminhões abarrotados de Madeira extraída irregularmente da Caatinga, cortam a principal via de ligação do estado de Pernambuco (BR 232). Semanalmente são centenas de caminhões empilhados de madeiras da vegetação nativa como: Melanoxylon brauna (Braúna), Poincianella bracteosa(Catingueira), Zizyphus Joazeiro (Juazeiro ou juá), Caesalpinea ferrea (Jucazeiro), Anadenanthera colubrina (Angico), Spondiastuberosaarruda (Umbuzeiro), Platycyamus regnellii (Pereiro)Lithraea molleoides (Aroeira Branca), Casearia Cambessedesia(Marmeleiro), Mimosa tenuiflora (Jurema preta), Anadenanthera Macrocarpa (Angico Vermelho) entre outras. Que estão sendo impiedosamente desmatadas e praticamente extintas em várias regiões do Semiárido Brasileiro, especialmente na divisa do sertão Pernambucano e Paraibano com o Agreste destes mesmos estados.
A região do agreste por ser um Ecótono (área de transição) entre a Mata Atlântica e a Caatinga, possui uma das maiores densidades demográficas do mundo neste tipo de clima. Devido a essa densidade os recursos naturais vêm sendo exauridos sem qualquer controle desde o século XVI. Os poucos fragmentos vegetais que ainda restam, estão sendo usados como Matriz Energética para várias atividades desenvolvidas nesta região, exterminando com essa prática, não só a Flora como também a Fauna e os demais recursos que dependem deste ciclo para sobreviver.
É triste ver, centenas e centenas de metros cúbicos de madeira nativa de nossa já fadada vegetação sendo extraída de maneira irregular de locais onde por lei deveriam está sendo protegidas, as APPs (Áreas de Proteção Permanente), como confere a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, e tendo em vista o disposto nas Leis 4.771, de 15 de setembro e 1965, 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Estabelece parâmetro, definições e limites de uso destas áreas. Segundo a Lei, precisam ser Preservadas entre outros, os seguintes locais:
(I) – nível mais alto: nível alcançado por ocasião da cheia sazonal do curso d`água perene ou intermitente; (II) – nascente ou olho d`água: local onde aflora naturalmente, mesmo que de forma intermitente, a água subterrânea;
(III) – vereda: espaço brejoso ou encharcado, que contém nascentes ou cabeceiras de cursos d`água, onde há ocorrência de solos hidromórficos, caracterizado predominantemente por renques de buritis do brejo (Mauritia flexuosa) e outras formas de vegetação típica; (IV) – morro: elevação do terreno com cota do topo em relação a base entre cinquenta e trezentos metros e encostas com declividade superior a trinta por cento (aproximadamente dezessete graus) na linha de maior declividade; (V) – montanha: elevação do terreno com cota em relação a base superior a trezentos metros; (VII) – base de morro ou montanha: plano horizontal definido por planície ou superfície de lençol d`água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota da depressão mais baixa ao seu redor; (VII) – linha de cumeada: linha que une os pontos mais altos de uma sequencia de morros ou de montanhas, constituindo-se no divisor de águas; (VIII) – restinga: depósito arenoso paralelo a linha da costa, de forma geralmente alongada, produzido por processos de sedimentação, onde se encontram diferentes comunidades que recebem influência marinha, também consideradas comunidades edificas por dependerem mais da natureza do substrato do que do clima. A cobertura vegetal nas restingas ocorrem mosaico, e encontra-se em praias, cordões arenosos, dunas e depressões, apresentando, de acordo com o estágio sucessional, estrato herbáceo, arbustivos e abóreo, este último mais interiorizado; (IX) – manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue, com influência flúvio- marinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os estados do Amapá e Santa Catarina; (X) – duna: unidade geomorfológica de constituição predominante arenosa, com aparência de cômoro ou colina, produzida pela ação dos ventos, situada no litoral ou no interior do continente, podendo estar recoberta, ou não, por vegetação; (XI) – tabuleiro ou chapada: paisagem de topografia plana, com declividade média inferior a dez por cento, aproximadamente seis graus e superfície superior a dez hectares, terminada de forma abrupta em escarpa, caracterizando-se a chapada por grandes superfícies a mais de seiscentos metros de altitude; (XII) – escarpa: rampa de terrenos com inclinação igual ou superior a quarenta e cinco graus, que delimitam relevos de tabuleiros, chapadas e planalto, estando limitada no topo pela ruptura positiva de declividade (linha de escarpa) e no sopé por ruptura negativa de declividade, englobando os depósitos de colúvio que se localizam próximo ao sopé da escarpa.

No entanto, nossa região, está desprovida de qualquer Ação do Estado de Coibir, Fiscalizar e/ou Punir os autores de tais danos ao Meio Ambiente neste lado esquecido do Brasil. “É praticamente impossível fiscalizar ou punir esse povo” (palavras de uma ex-funcionária do órgão de fiscalização ambiental do estado de Pernambuco), indagada sobre a enorme quantidade de caminhões que trafegam com madeira nativa do agreste e sertão de Pernambuco. Tráfego esse, que na sua maioria é feito durante a noite, para driblar uma Utópica fiscalização.
A madeira transportada é geralmente acomodada nos caminhões de modo que fique a vista somente a espécie Prosopis juliflora (Algaroba) que por ser uma espécie considerada invasora, tem seu manejo e extração considerado legal, enquanto as outras espécies citadas acima na reportagem, torne-se camuflada aos olhos alheios. Fato esse que não ocorreu nas imagens deste caminhão (flagrado) nesta imagem; de madeira em especial, que sem nenhum pudor não se deu ao trabalho de fazer esse tipo de camuflagem e deixou amostra muitas das espécies endêmicas citadas neste texto.


É preciso alternativas plausíveis para esse tipo de uso de Matriz Energética. Dados mostras que mais 50% do Bioma Caatinga já foi extinto, quanto à vegetação do Ecotono Agreste não possui dados precisos, no entanto, certamente mais de 90% já foi extinto, consequentemente a biodiversidade e os recursos hídricos que dependem desta condição natural também estão mais escassos a cada ano. Há alternativas tecnológicas disponíveis que podem substituir essa Matriz Energética, por outras que proporcionem um mínimo de impacto possível ao meio ambiente e que seja acessível a quem dela faz uso, como única alternativa.
Nossa região pela diversidade climática carece demais, da preservação dos recursos naturais, porém, o que estamos assistindo é justamente o contrário, é o extermínio impiedoso, da flora da fauna e de toda biodiversidade da região. Precisamos Educar e oferecer condições a nossa gente, em busca de um equilíbrio melhor entre o Homem e o Meio Ambiente. Capra, em A Teia da Vida, diz que, “nós não tecemos a Teia, somos apenas um fio dela, tudo que fizermos a Teia estamos fazendo a nós mesmos”.
Davi Calado
Gestor Ambiental; Esp. Educação Ambiental; Tutor EAD-UNOPAR; Membro COBH- Rio Ipojuca; Auto do Livro – Rio Ipojuca da Nascente à Foz.

EcoDebate, 28/01/2014

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

COPA DO MUNDO 2014 : ESTÁDIO DE CURITIBA

Prefeitura de Curitiba assume R$ 8,5 mi de gastos com a Copa que eram da Fifa

A instalação de um centro de mídia na Arena da Baixada custou ao menos R$ 8,5 milhões a mais para a prefeitura de Curitiba garantir a realização de jogos da Copa do Mundo na cidade. Inicialmente, segundo contrato assinado em 2007, esse gasto seria de responsabilidade do Comitê Organizador Local (COL) do Mundial, órgão ligado à Fifa.

A reportagem é de José Marcos Lopes, publicada por Gazeta do Povo, 21-04-2014.

Segundo balanço divulgado ontem pela prefeitura, os cofres do município já destinaram R$ 572 milhões à realização do Mundial. Desses, R$ 8,5 milhões dizem respeito à desapropriação do terreno que será destinado às equipes televisivas que farão transmissão dos jogos e à infraestrutura do local – gasto que, em princípio, seria do COL. Em entrevista à Gazeta do Povo em dezembro, o prefeito Gustavo Fruet afirmou que, após a competição, a área destinada às equipes de transmissão das partidas será usada pela Secretaria da Saúde.

Segundo a própria prefeitura, o valor investido a mais pelo município na realização da Copa em Curitiba pode ser maior. Mas, procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da administração municipal não soube informar quais outras obrigações originalmente eram do COL. Por exemplo: R$ 35 milhões serão destinados, segundo a prefeitura, a “estruturas complementares para o entorno estádio”, que podem incluir construções temporárias não previstas quando o contrato com a Fifa foi assinado.

Além do centro de mídia, os demais gastos incluem a desapropriação de 16 terrenos no entorno da Arena, obras de infraestrutura viária e revitalização da Praça Afonso Botelho e emissão de títulos de potencial construtivo para financiar parte da obra do estádio (veja a tabela). A prefeitura apresentará o balanço hoje, durante entrevista com membros do COL, na sede da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). A assessoria da prefeitura de Curitiba ressaltou ainda que os compromissos com o COL foram firmados na gestão anterior.

A reportagem também entrou ontem em contato com o coordenador-geral de assuntos da Copa no governo do estado, Mario Celso Cunha. Ele preferiu não comentar o assunto. A Fomento Paraná – empresa de economia mista ligada o governo do estado que está investindo nas obras da Arena – negou ter assumido qualquer responsabilidade que era do COL.

Cofre aberto

Quanto a prefeitura de Curitiba já investiu para ter jogos da Copa do Mundo na cidade:

• R$ 143 milhões: potencial construtivo da Arena.
• R$ 14,5 milhões: desapropriação de 16 terrenos no entorno estádio.
• R$ 6,5 milhões: desapropriação do terreno para Broadcast Compound (estrutura para transmissão de tevê).
• R$ 2 milhões: infraestrutura de Broadcast Compound, da Inspeção Veicular, Rede Subterrânea na Rua Madre Maria dos Anjos.
• R$ 6,5 milhões: revitalização da Praça Afonso Botelho (Praça do Atlético).
• R$ 12,2 milhões: obras de implantação da infraestrutura viária no entorno da Arena.
• R$ 35 milhões: estruturas complementares para o entorno do estádio.

Pelo país

Segundo reportagem publicada na edição de domingo do jornal Folha de S. Paulo, termos aditivos assinados desde 2009 transferiram responsabilidades do COL para estados e municípios. O comitê, por exemplo, seria responsável pela infraestrutura de mídia, mas o custo foi repassado para as cidades-sede. A reportagem informou que o valor total repassado ao poder público pode chegar a R$ 870 milhões – incluídos aí gastos em 2013 com a Copa das Confederações, que não teve Curitiba como sede. De acordo com o jornal, o Ministério Público dos seis estados que sediaram a Copa das Confederações deverão ajuizar ações para a Fifa ressarcir os cofres públicos.
 Fonte : Instituto Humanitas Unisinos

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

ENSINO MÉDIO EM TURNO INTEGRAL

Projeto de lei prevê turno integral e mudança no currículo no ensino médio

Comissão defende alterações porque argumenta que o ensino médio está desgastado, com altos índices de evasão de alunos e distorção de séries


Não é de hoje que se discutem novas maneiras de atrair os estudantes de ensino médio e melhorar seu desempenho, com formas mais efetivas de ensinar os conteúdos. Um passo para um ensino médio mais completo e articulado foi dado no final de novembro, quando foi aprovado o texto do Projeto de Lei (PL) 6840/2013, que prevê mudanças na forma como está estruturado o ensino brasileiro, alterando a Lei 9.394, de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
O PL propõe alterações principalmente em relação ao aumento da carga horária e dos conteúdos trabalhados em sua forma de apresentação aos alunos. No texto, a comissão argumenta que é necessário mudar o ensino médio pois ele está desgastado, com altos índices de evasão e distorção de séries - a rede pública brasileira tem uma média de 14,2% de reprovação e 10,8% de abandono. O atual currículo é considerado ultrapassado, com excesso de conteúdos que não consideram as diferenças individuais e geográficas dos alunos. Para a formulação do projeto, foi formada a Comissão Especial destinada a promover Estudos e Proposições para a Reformulação do Ensino Médio, que realizou diversas audiências públicas e seminários estaduais desde 2012 sobre o assunto.
O deputado e relator do projeto, Wilson Filho, acredita que é preciso atrair os estudantes a continuar na escola até o final do ensino médio, motivando também os professores a não mais utilizarem o sistema de “decorebas”, onde o aluno decora a matéria com o único objetivo de passar no vestibular.
Sete horas diárias
Uma das principais mudanças propostas pelo texto é que a jornada do ensino médio passe de 2.400 horas, número praticado atualmente, para 4.200, distribuídas em sete horas diárias. Para esta medida, o deputado acredita que é necessário que as escolas sejam preparadas para estar com o aluno por esse período. “Nessas sete horas, os professores têm de passar o conhecimento e não apenas enrolar. A programação precisa ser interessante”.
Os professores têm de passar o conhecimento e não apenas enrolar. A programação precisa ser interessante
Wilson Filhodeputado e relator do projeto
Aqui entra outro ponto importante do projeto: a mudança nos currículos. Cerca de 80% dos alunos que saem do ensino médio da rede estadual não vão para a universidade. Para eles, o sistema de decorar fórmulas e conteúdos para passar na prova de vestibular não irá ajudar. No novo ensino médio, as disciplinas seriam divididas por áreas do conhecimento, como já ocorre no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): linguagens, matemáticas, ciências humanas e ciências da natureza. Nelas, deverão ser englobados os conhecimentos da língua portuguesa, da matemática, do mundo físico e natural, da filosofia e sociologia, da realidade política e social brasileira, uma língua estrangeira moderna e ainda a inclusão de uma segunda opção de língua estrangeira, e cada região poderia definir a que melhor se encaixa.
O projeto enfatiza a necessidade de se transversalizar o ensino, relacionando disciplinas que conversam entre si, para que as aulas se tornem mais dinâmicas e práticas. Alguns temas, coma prevenção ao uso de drogas e álcool, educação ambiental e sexual, educação para o trânsito e temas legislativos como noções da Constituição Federal e do Código de Defesa do Consumidor, estão citados no projeto para serem tratados dentro da grade curricular prevista. A criação de novas disciplinas continua precisando da autorização do Ministério da Educação e do Conselho Nacional da Educação.
A última grande mudança no currículo dentro do PL se trata do último ano do ensino médio. Os alunos poderiam escolher ênfases em uma das quatro áreas do conhecimento ou no ensino profissional, de acordo com a profissão que queiram seguir. O terceiro ano passaria a ser estudado de acordo com as escolhas dos alunos, mas os assuntos básicos das disciplinas não deixarão de ser tratados. “Ênfase não é exclusividade, é apenas um direcionamento para a área escolhida. Se ao final do ano o aluno mudar de ideia quanto à área que quer seguir, pode refazer no próximo ano com outra ênfase”, explica o relator do projeto. No ingresso às universidades, fica a cargo das instituições decidir se também focarão suas provas de acordo com a ênfase escolhida pelos candidatos no ensino médio.
Ensino profissionalizante
A questão do ensino profissionalizante ser vinculado ao ensino médio já é prevista em lei, mas, segundo o deputado Wilson Filho, apenas 14% das matrículas do ensino médio englobam essa opção. O projeto busca levar o tema à atenção dos alunos. O professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Ocimar Munhoz Alavarse acredita que o ensino profissionalizante pode ser uma opção. “Os jovens do ensino médio precisam saber que o ensino superior não é a única alternativa. Tem muitos postos de trabalho que não precisam de educação superior”. Alavarse cita o caso dos cursos técnicos. “No Brasil, eles parecem não ter prestígio social, sendo que cursos técnicos têm maior empregabilidade e também pagam bons salários”.
Os jovens do ensino médio precisam saber que o ensino superior não é a única alternativa. Tem muitos postos de trabalho que não precisam de educação superior
Ocimar Munhoz Alavarseprofessor da Faculdade de Educação da USP
O PL também prevê que o Enem passe a ser gratuito e obrigatório no histórico escolar e ter validade de três anos. O estudante pode fazer a prova todos os anos se quiser; se no ano seguinte o aluno tirar uma nota maior, ela ficará no registro para ser utilizada no ingresso a universidades e em programas como o Prouni.
O ensino noturno também é abordado no projeto: ficaria restrito a alunos maiores de 18 anos e coma mesma carga horária da opção diurna, porém distribuída de outra forma: 4.200 horas, divididas em quatro horas diárias, com duração de quatro anos. As horas que ficam faltando, seriam estabelecidas pelo sistema de ensino por meio de trabalhos, que poderão ser feitos a distância. Na realidade brasileira, muitos jovens menores de 18 anos se encontram em situações que os impedem de frequentar a escola durante o dia, como o trabalho. O deputado explica que as escolas poderiam decidir pelas exceções. “Uma legislação tem de pensar na maioria absoluta, e a maioria dos estudantes brasileiros pode estudar de dia. Caso contrário, não conseguiremos formatar um novo ensino médio”, diz.
O papel do Estado na gestão escolar
Fernando Luis Schüler, cientista político e diretor geral do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec/RJ), relembra que é importante que se debata a forma como são geridas as escolas públicas. “Me parece que a sociedade continua se recusando a reconhecer a questão mais importante da qualidade do ensino: a gestão. Todos os indicadores dos últimos 20 anos demonstram uma incapacidade congênita do Estado de executar de maneira eficiente a gestão escolar”. Para ele, o projeto de lei propõe uma tese positiva englobando a questão do ensino integral, mas foca no problema errado: se a gestão da escola for precária, o ensino continuará a ser precário, mesmo integral, acredita.
O modelo de gestão brasileiro deveria ser mais autônomo e despadronizado
Fernando Luis Schülercientista político e diretor geral do Ibmec/RJ
Schüler defende o reposicionamento do papel do Estado na educação, que deveria progressivamente sair da gestão direta das escolas e atuar apenas como grande agência reguladora e financiadora da educação. “Nos resultados do Enem 2012, não há, entre as 1.500 primeiras colocações, uma escola pública estadual. O modelo de gestão brasileiro deveria ser mais autônomo e despadronizado. Deveria permitir que o diretor consiga repor um livro faltante ou uma janela quebrada o mais rápido possível, sem precisar passar por burocracias que não permitem que essas reposições sejam feitas no mesmo dia. É preciso mais agilidade”, justifica.
O deputado Wilson Filho explica que não há no projeto uma proposta de mudança na gestão, mas sim indicações ao poder executivo, como a criação de uma modalidade exclusiva do ensino médio no Plano de Ações Articuladas (PAR), do governo federal, para que se possa auxiliar melhor os Estados a investir em educação de qualidade. “Concordo que o Estado não tem condições de gerir as escolas, mas a ideia da federalização da educação brasileira levanta a questão de saber se o governo terá como controlar todas as escolas do País. Quanto a administração pelo setor privado, o tema não entrou no projeto porque se refere a todo o ensino nacional, não apenas ao ensino médio. Já a questão da desburocratização do ensino e da gestão, é um tema que pode ser debatido futuramente”, diz.
Próximos passos
O projeto está aguardando a constituição de uma Comissão Temporária na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados (MESA), que poderá efetuar melhorias no projeto. Após, irá ao Congresso. Se aprovada, a Lei passa a valer para os novos estudantes. As indicações devem ser implementadas em um prazo de 10 anos, englobando 50% das escolas e matrículas e introduzidas totalmente em 20 anos.
Fonte : Terra.com

COPA DO MUNDO 2014 : ESTÁDIO DE CURITIBA

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

ALERTA PARA RISCOS MUNDIAIS.

Fórum de Davos. O abismo entre ricos e pobres é o maior risco para a economia mundial

O abismo crônico entre as rendas dos cidadãos mais ricos e dos mais pobres é o risco que mais probabilidades têm para causar graves prejuízos em escala mundial na próxima década, segundo o relatório Global Risks 2014, doFórum Econômico Mundial.
Fontehttp://bit.ly/1dxmOhV

Com uma perspectiva de 10 anos, o relatório avalia 31 riscos de natureza mundial que poderiam causar impactos negativos significativos em indústrias e países, caso se concretizarem. Os riscos se agrupam em cinco categorias – econômica, ambiental, geopolítica, social e tecnológica – e são medidas tanto em termos de suas probabilidades de concretização, como em seu impacto potencial.
O estudo assinala que, depois da disparidade de rendas, os episódios meteorológicos extremos representam o risco mundial que mais probabilidades têm de causar um efeito sistêmico importante em escala mundial. A este se seguem o desemprego e o subemprego, a mudança climática e os ataques cibernéticos.
O relatório, do qual participaram mais de 700 especialistas mundiais, identifica as crises fiscais como o risco mundial que poderá causar o maior impacto sobre os sistemas e países ao longo dos próximos 10 anos.
Este risco econômico é seguido de dois riscos ambientais: a mudança climática e a crise da água, e do desemprego e subemprego. Em quinto lugar, cita uma interrupção crítica da infraestrutura da informação, que constitui um risco tecnológico, como um dos riscos de maior impacto potencial.
“Cada risco considerado neste relatório encerra o potencial de provocar uma falha em escala mundial; no entanto, é sua interconectividade que faz com que suas repercussões negativas sejam tão pronunciadas já que, em seu conjunto, podem exercer um efeito aumentado”, afirmou a economista-chefe do Fórum Econômico MundialJennifer Blanke.
Por isso, Blanke defendeu que é “fundamental” que todos os atores de uma sociedade (governos, empresas e sociedade civil) cooperem com o objetivo de fazer frente à presença de riscos mundiais e adaptar-se aos mesmos.
Desemprego e subemprego juvenil
Por outro lado, o estudo também faz um alerta sobre o desemprego e subemprego juvenil, os dois desafios altamente associados aos quais fazem frente os jovens que chegam à vida adulta na atual década de menores oportunidades de emprego e custos crescentes da educação.
Neste sentido, recorda que mais de 50% dos jovens de alguns países desenvolvidos estão buscando trabalho e que há um nível crescente de emprego informal em regiões em desenvolvimento, onde vive mais de 90% da juventude do mundo atual.
O Diretor de Riscos da Swiss ReDavid Cole, incidiu em que atualmente muitos jovens enfrentam uma “situação muito difícil”, já que, como resultado da crise financeira e da globalização, a geração mais jovem dos mercados maduros luta contra “uma situação desesperada, com cada vez menos oportunidades de trabalho, e com a necessidade de suportar o envelhecimento da população”.
“É vital que nos sentemos com os jovens agora e comecemos a propor soluções que tenham como objetivo criar sistemas de educação mais adequados, mercados de trabalho funcionais, intercâmbios eficazes de competências e o futuro sustentável do qual todos dependemos”, acrescentou.
Por outro lado, destaca que a crescente dependência da internet para realizar tarefas essenciais e a expansão massiva de dispositivos conectados à rede fazem com que o risco de uma falha sistêmica, numa escala capaz de desintegrar sistemas ou inclusive sociedades, “seja maior do que nunca em 2014”.
“O efeito poderá ser uma balcanização da internet, ou o chamado ‘apocalipse cibernético’, no qual os piratas informáticos gozam de uma superioridade assustadora e no qual se generalizaram as interrupções massivas”, adverte.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos.

FÉ E RESISTÊNCIA NOS ANOS DE CHUMBO.

O professor e intelectual brasileiro Roberto Romano conta como foi sua experiência durante o regime militar 
 
 
De criança Roberto Romano aprendeu a conviver com a violência, não exatamente porque quisesse, mas porque a vida lhe impôs. A aura de tranquilidade da cidade onde cresceu, nas décadas de 1940 e 1950, no município de Juguatipã, no norte do Paraná,  era constantemente manchada pela violência das grilagens, bandidagem e maus-tratos, inclusive, por parte do governo estadual da época em relação aos professores, profissão de sua mãe. “A região onde vivia quando pequeno era muito violenta, o que levou meus familiares a retornarem a São Paulo”, conta Romano. Esse era só o começo de uma história que, durante os anos de chumbo, foi marcada por resistência, desespero e fé.
Ainda muito jovem, toda a família voltou para o Estado de São Paulo, sobretudo por conta das condições de vida no norte do Paraná. Em Marília, no sudoeste paulistano, Roberto Romano, já na adolescência, começou seu contato com o professor e filósofo católico Ubaldo Pupi. “Entrei para a Juventude Estudantil Católica – JEC com 16 ou 17 anos, quando ocorreu a tragédia do Golpe Militar de 1964. Houve muita perseguição política na cidade, e o professor Ubaldo foi preso e perdeu o emprego na faculdade”, explica.
Por Ricardo Machado
Sombras do regime
1º de abril de 1964, dia da mentira, foi marcado por uma das piadas de maior mal gosto da história do Brasil, a deposição forçada de João Goulart, Jango, por parte dos militares. A sombra da ditadura só se dissiparia 20 anos depois. No final da década de 1960, quando o regime, que era para ser apenas de transição, de no máximo dois anos, dava mostras de que perduraria por mais tempo. Romano volta para São Paulo, depois de ficar alguns anos no Convento dos Dominicanos, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Quando retornou ao estado paulistano tentou vestibular no Instituto de Filosofia e Teologia de São Paulo. “Não fiquei muito satisfeito com o curso de Filosofia que tinha feito. Havia dominicanos que faziam Filosofia na Universidade de São Paulo – USP. Aí pedi autorização para fazer vestibular lá”, relembra.

Quando eu cheguei no Convento 
do Leme, chamei um colega para 
irmos até a casa do pai do Ivo, e 
na porta mesmo fomos presos pelo 
Centro de Informações da Marinha

 
Ato Institucional 5 – AI5 marcou o recrudescimento da ditadura. O céu tornou-se escuro como a noite. Em 1969, Carlos Marighella, líder e fundador da Ação Libertadora Nacional – ALN fora assassinado em uma emboscada doDelegado Fleury, um dos principais carrascos do regime. O apoio dos religiosos dominicanos era aceito dentro da ALN. “O Ivo Lesbaupin foi preso. Quando ele disse que ia para o Rio de Janeiro, o clima já estava pesado, pediu-me que caso ele não aparecesse em tantos dias era para ligar para seus pais”, conta. “Passaram os dias e ele não apareceu. Eu pedi ao superior do convento para ir até o Rio de Janeiro para saber notícias dele. O telefone do convento estava grampeado. Quando eu cheguei no Convento do Leme, chamei um colega para irmos até a casa do pai do Ivo, e na porta mesmo fomos presos pelo Centro de Informações da Marinha – Cenimar”, revela Romano. 
Dias de escuridão
Aos militares não importava que a relação de Roberto Romano com a ALN fosse tênue, prenderam-no. “Fui levado e interrogado, mas não tinha muito que dizer, pois não tinha trato com a ALN. Fui transferido do Rio de Janeiro para São Paulo, onde encontrei o Ivo na cela do Departamento de Ordem Política e Social – DOPS, com o rosto totalmente esfacelado. Só o reconheci porque ele usava a mesma camisa xadrez canadense de quando saiu do convento. Quando o vi, pensei — Eu conheço essa camisa”, recorda Romano.
Quando estava em São Paulo, Romano encontrou Frei Betto, que havia sido preso no Rio Grande do Sul e encaminhado ao Dops paulista. “Fiquei mais ou menos dois meses no Dops, depois fomos para o presídio Tiradentes. Meses depois, Frei Tito, que havia sido muito torturado, tentou suicídio. Até que houve uma greve de fome para diminuir o rigor da repressão”, recorda. 

Suicídio

A situação ficou de tal modoinsuportável que eu, 
inexperiente e tolo, 
tentei suicídio. 
Fui socorrido por Dom 
Paulo Evaristo, a quem 
devo a vida

A dor da tortura escapava às veias e escorria pelo corpo. Se é verdade que o sangue se estanca com curativos, a cólera e o desespero, que contaminam o cérebro, são incontroláveis. A combinação inexperiência, medo e dor, quase custou a vida de Romano, que tentou suicídio. “A situação ficou de tal modo insuportável que eu, inexperiente e tolo, tentei suicídio. Fui socorrido por Dom Paulo Evaristo Arns, a quem devo a vida”, relata. “Depois disso fomos ouvidos pela segunda auditoria militar, e o Ivo, o Fernando e o Betto foram transferidos para o presídio de Presidente Venceslau. E eu fui liberto em um regime em que a pessoa é solta, mas tem que assinar um livro toda semana. Aí voltei para a universidade e continuei o curso de Filosofia, ainda como dominicano”, explica. Após o julgamento, Romano foi absolvido por absoluta falta de provas, sendo que recentemente recebeu um documento em que o Estado brasileiro informa que lhe concedeu anistia e reconhece o regime de exceção praticado pelos governantes da época. 
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Fonte: http://pessoas.hsw.uol.com.br
 A Igreja e o Regime
A instabilidade política que precedeu e seguiu após o Golpe de 1964 tornou as relações entre Estado e sociedade um tanto quanto nebulosas. A Igreja Católica, em seu grupo majoritário, apoiou o Golpe, embora outros setores, mais alinhados à esquerda, tenham criado importantes movimentos de resistência. A figura de Dom Hélder Câmara, na época Arcebispo do Recife, é emblemática como exemplo de resistência. A coragem e a visibilidade de Dom Hélder custaram-lhe a permanência no Brasil, sendo que, na década de 1970, ele era o segundo brasileiro mais conhecido no mundo, ficando atrás somente de Pelé. O religioso percorreu o planeta denunciando as violações aos direitos humanos do regime militar brasileiro.
Com a saída de Dom Hélder, Dom Paulo acabou sendo um dos protagonistas da resistência contra a ditadura. “Houve corajosíssimos cardeais, bispos, religiosos e leigos que agiram quase profeticamente em defesa dos direitos humanos e da fé cristã no sentido autêntico; Dom Paulo foi um deles, assim como Dom Tomás Balduíno”, pondera.
Após a tentativa de suicídio, Dom Paulo visitava Roberto Romano com alguma frequência no presídio, até que um dia teve uma surpresa desagradável, quando outro monsenhor foi visitá-lo. “Eu estranhei quando Dom Paulo não veio, pois ele sempre vinha. Aí o monsenhor que veio me visitar disse: ‘nós decidimos que o Dom Paulo não pode vir’. Mas nós quem? Não tive resposta”, recorda. “A ida de Dom Paulo ao hospital era muito significativa, pois era um claro recado de que ele sabia onde eu estava, com quem eu estava e como eu estava. Isso era um aviso direto para qualquer tentativa mais truculenta que existia na polícia naquela época.”

Reabertura política

Houve corajosíssimos cardeais,bispos, religiosos e leigos queagiram quase profeticamenteem defesa dos direitos humanose da fé cristã no sentido autêntico

 
Como não há mal nem temporal que sempre dure, as nuvens negras do regime militar se dissiparam, apesar da demora. Os anos mais combativos de Roberto Romano contra o Estado na luta pelos direitos humanos deram lugar a um período mais ameno de sua vida. A luta permaneceu e permanece, mas no campo das ideias. Agora, o único padecimento do corpo é o do cansaço intelectual.
Nos últimos anos Romano tem dedicado seu tempo às atividades acadêmicas de aula e pesquisa. Atualmente vive em São Paulo, capital, no bairro Jardim Paulistano, que como ele mesmo define “não é rico como o Jardim Europa, nem pobre como os outros jardins”.
As lembranças que se passam por debaixo dos cabelos brancos de Romano trazem momentos de uma vida atravessada pela história recente do Brasil. A violência que o acompanhou da infância à maturidade não parece ter se transformado em ressentimento, afinal, manteve sua resignação resistente com estudos e esforço compreensivo da realidade social. Aos 67 anos de idade, Roberto Romano atravessou boa parte de sua vida lutando contra violência, sem violência. Ele parece ser um daqueles exemplos vivos de que o presente só faz sentido quando visto pelas lentes do passado.
Nota: A fonte da primeira foto que ilustra a reportagem é unicamp.br.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos