segunda-feira, 6 de julho de 2015

FLORESTA AMAZÔNICA EM RISCO.

Das fotos com Obama à Amazônia em risco, artigo de Montserrat Martins

Publicado em julho 6, 2015 
O acordo prevê investimentos em fontes renováveis de energia. Foto de Roberto Stckert Filho/PR

[EcoDebate] Manchete da semana: Obama e Dilma fazendo acordos para combate ao desmatamento. Obama já havia tratado com a China a redução de gases efeito estufa, quer que uma das marcas do governo dele seja a ambiental. A questão é: qual a seriedade do governo brasileiro no cumprimento dessas promessas?
A economia nacional hoje depende das “commoditties”, da exportação de produtos em estado bruto (matérias primas), os indicadores econômicos mostram que só o agronegócio prospera no país. Pois é principalmente da soja e do gado que vem o desmatamento da Amazônia, e o governo cedeu a todas pressões feitas pelo agronegócio, fechando os olhos para o desmatamento.
O ritmo do desmatamento havia sido reduzido de 2004 a 2012, quando voltou a crescer muito, de 2012 a 2013 cresceu assustadores 92%, logo depois que o Congresso Nacional anistiou desmatadores e flexibilizou leis de proteção, com as mudanças no Código Florestal Brasileiro.
Pior ainda, o atual Congresso brasileiro, dando sinal verde para o plantio de cana-de-açúcar na Amazônia, cometeu mais um retrocesso desde que “podou” o Código Florestal, em 2012. O Brasil, maior produtor mundial de cana-de-açúcar, já produz cerca de 650 milhões de toneladas de cana, cerca de 55% usadas na fabricação do etanol.
Ao contrário do que se pensa não é o Nordeste o maior produtor de cana, mas é no Sudeste e seu entorno que se situa 87% da produção nacional (norte de SP, sul de MG e algumas áreas do PR, GO e MS), sendo que só SP responde por 60% da cana brasileira. O curioso nesse dado é que a biodiversidade nordestina foi devastada pela monocultura da cana-de-açúcar, como já alertava o sociólogo Gilberto Freyre há quase um século atrás. Produtividade não depende só da extensão de área plantada, e a relação custo-benefício da cana nordestina inclui o amplo desmatamento da região, contribuindo para a falta de chuvas e desertificação regional.
O que o governo poderia fazer, diferente do que vem (ou não vem) fazendo? Existe um agronegócio sustentável, que não implicasse no aumento do desmatamento da Amazônia como vem ocorrendo hoje?
Este debate tem de passar pela questão da produtividade, que não depende somente de grandes extensões de terra, mas de tecnologia e métodos de plantio e colheita adequados. Como já vimos na questão da cana, as imensas áreas cultivadas do Nordeste respondem por cerca de apenas 10% da produção nacional de cana, contra 87% no Sudeste e entorno. Liberar o desmatamento para plantar é um tiro no pé logo adiante, pois sem floresta não há água, como a que falta em São Paulo.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade.

Publicado no Portal EcoDebate, 06/07/2015

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