domingo, 27 de setembro de 2015

GEOLOGIA E RELEVO DE SANTA CATARINA / VESTIBULAR 100%


AULA DE REVISÃO : PROJETO VESTIBULAR 100% DO COLÉGIO SALESIANO ITAJAÍ DISCIPLINA : GEOGRAFIA 

PROFESSORA : Conceição Aparecida Fontolan               

Tema: Geologia e Relevo De Santa Catarina
Objetivo : Caracterizar, identificar e localizar o relevo e a geologia de Santa Catarina.
Conteúdo no Blog Geo-Conceição em 06/2012.

01- (UFSC) “Ao longo das últimas décadas, o mesmo desenvolvimento que trouxe emprego, renda e atraiu imigrantes de todos os cantos do mundo, acabou comprometendo boa parte dos ecossistemas existentes no Estado”, foi o subtítulo da página central de um caderno especial relativo ao Dia Mundial do Meio Ambiente, do Diário Catarinense, no dia 05/06/2000. Considere o texto e observe atentamente o mapa.  Assinale, a seguir, a(s) proposição (ões) CORRETA(S). (Total da somatória ______________)


Fonte: Atlas de SC. Rio de Janeiro, Aero foto Cruzeiro, 1991. (Adaptado)
Adaptado por Geo-Conceição

01. A linha dupla no mapa assinala o divisor de águas em Santa Catarina, sendo que a bacia do Itajaí-Açu, representada pelo número 2, a maior da vertente do Atlântico, está bastante poluída por dejetos domésticos e industriais de cidades como Blumenau, Brusque e Rio do Sul.
02. A dramática situação em que se encontram os rios e lagoas da região de número 3, exige de todos, medidas urgentes e profundas, para resolver o problema da poluição provocada por agrotóxicos e resíduos de carvão.
04. O número 4 representa o Vale do Rio do Peixe, região sem problemas de erosão dos solos e assoreamento dos rios, e que se especializou no aproveitamento da araucária para a fabricação de papel, papelão e móveis.
08. A região Oeste, indicada pelo número 5, foi povoada por excedentes gaúchos, e é onde tem destaque a agricultura – fornecedora de matéria-prima para a agroindústria – e a suinocultura, responsáveis pela degradação ambiental daquela área.
16. Weg, Tupi e Embraco são indústrias de destaque nacional que se localizam na região de número 1, a qual apresenta grande concentração urbano-industrial, responsável pela poluição, principalmente de rios que cortam Joinville e Jaraguá do Sul.

02- (UFSC) O pré-sal se tornou uma importante página da história dos recursos energéticos no Brasil. A partir de sua descoberta, um novo universo de possibilidades foi aberto para a indústria petrolífera brasileira.
Sobre o pré-sal, assinale a(s) proposição (ões) CORRETA(S). (Total da somatória ______________)

01. As formações da camada pré-sal estão localizadas em bacias sedimentares entre o litoral do Espírito Santo e o litoral de Santa Catarina.
02. Em face da grande profundidade, a exploração do petróleo da camada pré-sal não afetará o ambiente.
04. As camadas do pré-sal estão localizadas nas áreas da planície amazônica e do pantanal mato-grossense.
08. A descoberta da camada de petróleo do pré-sal poderá dar ao Brasil uma independência energética de derivados deste hidrocarboneto.
16. Considerando o tempo geológico, as formações do pré-sal são recentes, ou seja, datam do Quaternario da Era Cenozoica, mesmo período em que surge o Homo sapiens.

03- (UFSC) Assinale a(s) proposição (ões) CORRETA(S) com base no mapa abaixo.
(Total da somatória ______________)

professorridaltovaz.blogspot.com   Adaptado por Geo-Conceição

 01. A área assinalada com o número 1 corresponde ao planalto, levemente inclinado para leste, onde se destacam as formações vegetais da Floresta Latifoliada Subtropical. É a área de mais recente colonização de Santa Catarina.
02. Na área assinalada com o número 2, encontram-se as formações pré-cambrianas, um relevo acidentado pela formação de serras e a presença do maior rio totalmente  catarinense. Nesta área está situado um importante polo industrial têxtil.
04. A área assinalada com o número 3 corresponde ao planalto de Lages e foi ocupada a partir do caminho dos tropeiros provenientes de São Paulo em direção ao Rio Grande do Sul.
08. A área assinalada com o número 4 corresponde à área de expansão da colonização eslava, proveniente do Paraná. No passado, teve papel destacado na produção de erva mate.
16. Da área assinalada com o número 5 partiram, no século XVIII, aqueles que fundariam a cidade de Porto Alegre (RS), tendo em vista o excedente populacional existente.
32. A área assinalada com o número 6 destaca-se pela ocupação de pessoas provenientes da
Península Itálica, no sul da Europa, em virtude da forte crise econômica pela qual passava aquela região.

04- (UFSC) Na madrugada do dia 06 de abril de 2009, os moradores da região de Abruzzo, no centro da Itália, foram acordados por um terremoto que atingiu 6.3 pontos na Escala Richter. O terremoto com epicentro nos arredores de Áquila, a capital da região de Abruzzo, matou cerca de 300 pessoas, deixou aproximadamente 20.000 desabrigados e destruiu em torno de 15.000 edificações, algumas de grande valor histórico e artístico. Erguida no século XIII e relíquia arquitetônica da Itália Medieval, a cidade veio abaixo.
(VEJA. São Paulo: Editora Abril, n. 16, abr. 2009). [Adaptado]
Assinale a(s) proposição (ões) CORRETA(S). (Total da somatória ______________)

01- Assim como em Blumenau (SC), os desmoronamentos e deslizamentos que ocorreram na região de Abruzzo estão associados aos movimentos naturais internos da crosta terrestre.
02- De acordo com o texto acima, parcela significativa das edificações da região é muito antiga e não estava preparada para resistir a abalos sísmicos mais fortes.
04- Os agentes endógenos do relevo são processos estruturais que estão relacionados ao movimento das placas tectônicas e a fenômenos magmáticos.
08- A estrutura geológica, os tipos de rochas e a morfologia do relevo não devem ser levados em consideração na organização do espaço, pois não estão relacionados com a ocorrência dos abalos sísmicos.
16- Na Escala Richter o terremoto de índice 6.3 é aquele que liberou seis vezes mais energia do que um de índice 1.05.
32- Os maiores e mais violentos terremotos ocorrem, principalmente, nas bordas das placas tectônicas.

05- (UFSC) Na camada superficial da litosfera forma-se o solo, onde as plantas se fixam e do qual extraem água e elementos nutrientes.
Sobre o solo, é CORRETO afirmar que: (Total da somatória ______________)

01. É resultante da desagregação das rochas originais e da decomposição química das mesmas, formando uma camada superficial composta de água e minerais que se vai enriquecendo de matéria orgânica com o tempo.
02. Os solos catarinenses são considerados pobres em função da intensa lixiviação, considerando que os totais pluviométricos assemelham-se aos encontrados na Região Norte.
04. O solo é o resultado de muito tempo de modificações nas rochas pelos agentes externos, como o clima e a vida microbiana. Áreas com o mesmo tipo de rocha, mas com climas diferentes, apresentam o mesmo tipo de solo.
08. A vegetação do Cerrado desenvolve-se sobre solos pobres e ácidos que, apesar de sustentar a diversidade biológica desse ambiente, necessitam de insumos agro tecnológicos para o desenvolvimento da cultura da soja.
16. Características do solo, como quantidade de umidade, composição química e textura, não influenciam no desenvolvimento, abundância, diversidade e aspecto da cobertura vegetal.

06- (UFSC) Com o auxílio da tabela sobre a evolução física ou estrutural da Terra, assinale a(s) proposição (ões) CORRETA(S). (Total da somatória ______________)

EVOLUÇÃO FÍSICA OU ESTRUTURAL DA TERRA
Eras Características gerais Acontecimentos no Brasil

Cenozoica Aparecimento do homem, glaciações e formação dos Dobramentos Modernos. Formação das bacias sedimentares, atividade vulcânica com a formação de ilhas oceânicas.

Mesozoica Intensa atividade vulcânica, início da separação dos continentes. Formação de petróleo e dos terrenos basálticos que originaram o solo de terra roxa.

Paleozoica Vida aquática e formação de jazidas carboníferas. Soterramento de florestas e formação do carvão mineral.

Pré-Cambriana Formação de escudos cristalinos, formação de minerais metálicos. Formação dos escudos cristalinos (Brasileiro e Guiano) e das principais jazidas de minerais metálicos; formação das serras do Mar e da Mantiqueira.
Azoica Resfriamento da Terra, ausência de vida.

 COELHO, Marcos de A.; TERRA, Lygia. Geografia geral e Geografia do Brasil: o espaço natural e socioeconômico. São Paulo:

01. Os solos de terra roxa originários de rochas ígneas extrusivas são encontrados, sobretudo nos Complexos Regionais da Amazônia e do Centro-Sul.
02. As cordilheiras dos Andes e do Himalaia tiveram a sua origem na Era Cenozoica.
04. No Brasil, minerais metálicos como Fe, Ca, Hg, Mn, S, Al e Na têm as suas maiores reservas na Região Nordeste.
08. O arquipélago de Fernando de Noronha (PE) tem a sua origem associada à Era Pré-Cambriana.
16. As jazidas de carvão mineral em Santa Catarina têm a sua origem, principalmente, na Era Paleozoica.
32. Em Santa Catarina, a Serra Geral pertencente às formações do Escudo Brasileiro adquire a direção norte-sul, sendo, porém, as direções norte-nordeste e sul- sudoeste as mais frequentes.
64. Com altitude aproximada de 3.000 metros, o Pico da Neblina – o ponto culminante do Brasil – tem a sua origem na Era Cenozoica.

07- (UFSC) A estrutura geológica do Brasil é constituída por bacias sedimentares e escudos cristalinos. Os escudos cristalinos originados nos períodos Arqueozoico e Proterozoico, apesar de não serem majoritários, são importantes porque apresentam grandes riquezas minerais, como. (Total da somatória ______________)

01. Sal gema e carvão mineral, minerais de origem inorgânica.
02. Calcário utilizado na fabricação de cimento.
04. Petróleo e ouro em abundância.
08. Xisto betuminoso e diamantes.
16. Ferro e manganês.

08- (UFSC) No ano passado, estados da Região Centro-Sul foram castigados por intensos temporais, que provocaram caos em cidades dessa área. Congestionamentos, alagamentos, queda na distribuição de energia, queda de árvores e desabamentos, que deixaram uma grande quantidade de famílias sem teto, foram registrados. Em 2010, o Nordeste, acostumado a secas prolongadas, foi surpreendido por um volume de chuvas além do esperado, que resultou, também, em alagamentos e consequente destruição.
Os fatores responsáveis por esse quadro estão relacionados.
(Total da somatória ______________)

01. À ação antrópica, unicamente, tanto no Nordeste quanto no Centro-Sul.
02. À atuação do fenômeno El Niño, que elevou a temperatura do Oceano Índico.
04. Às mudanças climáticas registradas apenas no Hemisfério Sul e ao aumento do índice pluviométrico em todas as regiões do país, devido ao desmatamento.
08. A os fatores de ordem natural, ao rompimento de barragens e à ocupação desordenada do solo.
16. Ao tipo de solo arenoso existente nas regiões Nordeste e Centro-Sul, que não absorve facilmente a água das chuvas.

09- (UFSC) Ocupam cerca de 75% da superfície das terras emersas e se caracterizam pelo fato de serem áreas de crátons, com tendência à concavidade. A estrutura geológica descrita corresponde. (Total da somatória ________)

01. Às bacias sedimentares, em geral associadas à ocorrência de minerais metálicos, como o ferro, o alumínio e o manganês.
02. Aos dobramentos modernos, cuja formação está estritamente relacionada à tectônica de placas.
04. Às plataformas cobertas, que, no decorrer do tempo geológico, sofreram intenso processo erosivo.
08. Aos escudos cristalinos, amplamente formados por rochas pré-cambrianas, que se configuram como baixos planaltos.
16. Às bacias fanerozoicas, formadas durante as eras Paleozoica, Mesozoica e Cenozoica, onde podem ser encontrados os combustíveis fósseis.

10- (UFSC) Os conhecimentos sobre a regionalização do espaço brasileiro permitem afirmar:
(Total da somatória _____________)

01. A paisagem da Região Norte é dominada pela Floresta Amazônica, cuja biodiversidade está representada pelo endemismo de todas as suas espécies vegetais ombrófilas e decíduas.
02. A macrorregião que apresenta as mais altas densidades demográficas na zona costeira é a Nordeste, reforçando e reafirmando o caráter concentrador da urbanização devido a condicionantes históricos, políticos e econômicos.
04. Os movimentos migratórios têm relação com a dinâmica econômica das regiões, razão pela qual a Região Centro-Oeste tem registrado o maior percentual de imigrantes em sua população devido, dentre outros fatores, ao crescimento do agronegócio.
08- A Região Sul apresenta as melhores condições do país para instalação de hidrelétricas, em decorrência, principalmente, da permeabilidade dos solos de terra roxa e da temporalidade do regime fluvial, com duas estações de altas águas.
16. A queda do movimento interno migratório em direção à Região Sudeste, nos dias atuais, relaciona-se, sobretudo, aos ecos da “década perdida”, cujas dificuldades produzidas pela crise econômica na região também resultam nas migrações de retorno.

11- (UFSC) O relevo do Estado de Santa Catarina é um dos principais fatores condicionantes dos aspectos climato -botânicos predominantes no seu território. Com base no mapa das áreas altimétricas, assinale a(s) proposição (ões) CORRETA(S).
(Total da somatória _____________)


LAGO, Paulo Fernando. Gente da Terra Catarinense. Desenvolvimento e educação ambiental.
                                 Florianópolis: Ed. UFSC/FCC Edições/Ed. Lunardelli /UDESC, 1988

01. Nas altitudes acima de 601 m  a  formação vegetal predominante é a Floresta Mista ou Subcaducifólia Subtropical com predomínio da espécie Araucária angustifólia.
02. Nas altitudes entre 601 m e 1 400 m, coincidentes com as áreas de maior produção da fruticultura, as geadas ocorrem até cerca de 20 dias por ano.
04. As áreas  cujas  cotas altimétricas  são  superiores a 1 000 m apresentam isotermas anuais que variam de 10 ºC a 16 ºC e são mais vulneráveis no inverno à ocorrência de geadas, que atingem até 30 dias por ano.
08. Nas altitudes entre 1 001 m e 1 400 m ou mais é comum a ocorrência de precipitação sólida na forma de neve, no inverno.
16. Na vertente oceânica do Estado, a partir de altitudes em torno de 600 m até a planície litorânea, ocorrem condições topo-climático que permitem o predomínio de uma Floresta Ombrófila Densa.

12- (UFSC) Com relação à localização do Brasil e de Santa Catarina assinale a(s) proposição (ões) CORRETA(S). (Total da somatória _____________)


 ATLAS DE SANTA CATARINA. Florianópolis: IGSC, Departamento Estadual de Geografia/IBGE, 1958.

01. O território brasileiro localiza-se totalmente em áreas de baixas latitudes.
02. Santa Catarina encontra-se com 2/3 de suas terras na porção setentrional do trópico de Capricórnio.
04. Em relação ao meridiano de Greenwich, o território de Santa Catarina está totalmente inserido no hemisfério oriental.
08. Na América do Sul, o Brasil é o único país que é cortado pelos paralelos de 0° e 23°27’S.
16. Santa Catarina possui fronteira com um dos países membros do MERCOSUL.
32. O Brasil possui fronteiras com todos os países da América Andina.
64. Devido à sua localização, Santa Catarina encontra-se no segundo fuso horário brasileiro.

13- (UFSC) Após a leitura do poema abaixo, assinale a(s) proposição (ões) CORRETA(S) sobre elementos da paisagem natural e do quadro geomorfológico brasileiro e catarinense em particular. (Total da somatória _______________)

O Rio
“Uma gota de chuva
A mais, e o ventre grávido
Estremeceu, da terra.
Através de antigos
Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore
Um fio cristalino
Distante milênios
Partiu fragilmente
Sequioso de espaço
Em busca de luz.
Um rio nasceu.”

MORAES, Vinicius de. Nova antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 142.

01. No sul de Santa Catarina, nas formações do Planalto de Mafra, localizam-se os principais municípios produtores de carvão mineral.
02. O mármore, principal fonte de matéria-prima nas indústrias siderúrgicas, é encontrado nas áreas de Dobramentos Modernos do Sudeste Brasileiro.
04. Os Escudos Cristalinos costumam dar origem a relevos planálticos e podem apresentar Fe, Mn, Au, Al e outras riquezas minerais.
08. As rochas sedimentares são formadas, exclusivamente, por minerais não metálicos.
16. As rochas e os minerais não estão distribuídos de maneira uniforme pela superfície terrestre.




GABARITO
01- 27 (01+02-08-+16)
02- 09 (01+08)
03- 14 (02+04+08)
04- 38 (02+04+32)
05- 09 (01+08)
06- 18 (02+16)
07- 16 (16)
08- 08 (08)
09- 16 (16)
10- 04 (04)
11- 23 (01+02+04+16)
12- 88 (08+16+64)
13- 20 (04+16)

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

ESTADO BRASILEIRO É ROBIN HOOD AO CONTRÁRIO

Estado brasileiro é Robin Hood ao contrário: tira dos pobres e dá aos ricos, diz líder dos sem-teto

Em meio à instabilidade política e econômica que cerca o governo Dilma Rousseff, a presidente enfrenta desgaste também junto aos movimentos sociais, tradicional base de apoio do PT. O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) realizou na manhã desta quarta-feira manifestações em mais de dez capitais – entre elas São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília – contra os cortes dos gastos sociais, especialmente a redução de recursos para o Minha Casa, Minha Vida.
Guilherme Boulos, principal liderança do MTST, diz que os mais pobres não aceitam pagar a conta da crise e cobra mais impostos sobre os segmentos de maior renda da sociedade. Ele defende, por exemplo, a taxação de grandes fortunas e dos lucros e dividendos das empresas. Por outro lado, critica os gastos do governo com a dívida pública, que consomem mais de 40% do Orçamento.
"A carga (tributária) é ridícula em relação a quem de fato pode pagar. O grande problema é a má distribuição (da cobrança de impostos). O Estado brasileiro funciona como um Robin Hood ao contrário: tira dos pobres pelos impostos e dá aos ricos pelos juros da dívida pública", afirma.
A entrevista é de Mariana Schreiber e publicada por BBC Brasil, 23-09-2015.
Segundo Boulos, o movimento repudia as tentativas de impeachment da presidente, não vê ganhos em um eventual governo do atual vice Michel Temer, mas nem por isso deixará de criticar a política econômica.
"O MTST não aceita esta política, independentemente de quem esteja aplicando seja o governo liderado pelo PT, na esfera federal, ou pelo PSDB em Estados como São Paulo. Pau que bate em Chico bate em Francisco", disse. "Se o governo quer ser defendido, ele precisaria primeiro tornar-se defensável", acrescentou.
MTST não deve voltar às ruas no dia 2 de outubro, quando outros movimentos estão convocando uma manifestação "contra o golpe" para retirar Dilma da Presidência.
Eis a entrevista.
Qual a motivação dos protestos?
As mobilizações desta quarta ocorrem pela opção do governo em cortar mais investimentos sociais, particularmente em moradia, como forma de responder à crise. O orçamento do Minha Casa, Minha Vida enviado para o Congresso, de R$ 15,6 bilhões em 2016, já seria muito insuficiente. Os novos cortes (anunciados em R$ 4,8 bilhões) comprometem ainda mais. Já dissemos e repetimos: não aceitamos pagar a conta da crise. Há outras saídas possíveis.
Os protestos são contra o governo? Por quê?
São contra a política de austeridade e cortes, que está sendo implementada pelo governo Dilma e também pelos governos estaduais. O MTST não aceita essa política, independentemente de quem esteja aplicando - seja o governo liderado pelo PT, na esfera federal, ou pelo PSDB em Estados como São Paulo. Pau que bate em Chico bate em Francisco.
Em meio à instabilidade política e às tentativas de impeachment contra a presidente, o movimento não teme enfraquecer mais o governo com os protestos?
Veja, achamos que o que enfraquece este governo é sua definição de aplicar um programa oposto em relação ao que foi eleito pela maioria. O que enfraquece este governo é, a cada grito da banca (mercado financeiro), da mídia ou doPMDB, anunciar novas medidas de austeridade. Fica refém e perde base de apoio na sociedade. Se o governo quer ser defendido, ele precisaria primeiro tornar-se defensável.
O governo parece cada vez mais fraco. Os processos contra a presidente têm avançado no TCU e no TSE. O movimento está preocupado com uma possível queda da presidente?
MTST repudia qualquer saída à direita para a crise política. Acreditar que (o vice-presidente Michel) Temer representaria algum avanço para os interesses populares é de uma cegueira impressionante. Surfar na onda do impeachment achando que os trabalhadores podem ganhar com isso é tolice ou oportunismo. Não caímos nessa e vemos que a tentativa do PSDB e de setores amplos do PMDB, articulados com figuras como (o ministro do STF) Gilmar Mendes no Judiciário, querem derrubar Dilma para implantar algo ainda mais agressivo à maioria popular. Mas, ao mesmo tempo, isso não vai nos deixar imobilizados ante os ataques que têm vindo do governo. O governo tem tomado a opção de repactuar com o PMDB e setores da direita a qualquer custo. Essa opção tem um preço.
Como o movimento vai reagir no caso de um impeachment?
MTST está e estará mobilizado contra os ataques aos direitos sociais e também contra qualquer saída mais à direita para a crise.
A terceira fase do Minha Casa, Minha Vida aumentou o valor das prestações para as famílias mais pobres. Além disso, as concessões para faixa 1, destinadas aos mais pobres, estão paralisadas. Qual a avaliação do movimento sobre o MCMV 3?
O anúncio do Minha Casa, Minha Vida 3 no dia 10 pela presidenta incorporou pautas importantes do MTST e dos movimentos de luta por moradia, como maior prioridade ao Entidades (modalidade em que as moradias subsidiadas no programas são erguidas pelos movimentos sociais, e não por construtoras), aumento do limite da faixa 1 (teto da renda familiar nesta faixa subiu de R$ 1.600 para R$ 1.800), recurso para equipamentos públicos (escolas, postos de saúde, etc), entre outros pontos.
Houve essa redução do subsídio, que de fato prejudica a capacidade de pagamento das famílias que ganham entre R$ 800 e R$ 1.800 (ao elevar as prestações). Mas, além disso, o que é pior é que criou-se uma situação de "ganhar e não levar". Não adianta melhorar pontos no programa e não dar orçamento, não ter meta de contratação. Esse é o principal problema e é por isso que estaremos nas ruas nesta quarta.
Como foi a reunião com a presidente para discutir o programa na semana passada?
A reunião em si, como disse, atendeu pautas dos movimentos. Mas quatro dias depois lá estava o governo em cadeia nacional anunciando novos cortes. Aí não dá!
Já que o movimento se opõe aos cortes de gastos, quais medidas o MTST defende para resolver o problema do Orçamento?
O movimento defende que quem pague a conta da crise seja o andar de cima, não o andar de baixo. Você não tem imposto sobre grandes fortunas, você não tem imposto sobre distribuição de lucros e dividendos. Um recurso inacreditável da União é destinado a juros e amortizações da dívida pública (mais de 40% do Orçamento). A Constituição de 88 prevê uma auditoria da dívida pública que nunca foi feita nesses quase 30 anos. O movimento defende esse tipo de medida para equacionar o preço da crise.
O movimento não entende que a carga tributária no Brasil já é alta, como dizem muitas pessoas?
Alta para quem, né? Mais de 50% da carga incide sobre consumo. Imposto sobre a renda é 20% no total, imposto sobre propriedade é 4%. Então, a carga é ridícula em relação a quem de fato pode pagar. Você pode inclusive reduzir imposto sobre consumo e aumentar a taxação sobre capital financeiro, especulativo e sobre propriedade, sobre imóveis, tanto rurais quanto urbanos. A carga do Brasil é alta para os mais pobres e até para os setores médios. Quem ganha até dois salários mínimos deixa 54% de seus gastos em impostos. Já quem ganha mais de 30 salários deixa 29%.
Ou seja, o grande problema é a má distribuição. O Estado brasileiro funciona como um Robin Hood ao contrário: tira dos pobres pelos impostos e dá aos ricos pelos juros da dívida pública.
Qual balanço faz do Minha Casa, Minha Vida?
O programa Minha Casa, Minha Vida é importante na medida em que o Brasil ficou 20 anos, desde o BNH (Banco Nacional da Habitação, extinto em 1986), sem programa habitacional. Mas é um programa cheio de contradições. Ele precisa ser alterado, precisa ser modificado. A questão do papel das empreiteiras em produzir habitação de baixa qualidade e tamanho ruim precisa ser revisto. Quem ganha mais hoje com o programa são as empreiteiras. Agora, mais do que isso, precisamos de uma política urbana de combate à especulação imobiliária. Combater essa lógica de cidade que na prática é uma máquina de criar novos sem-teto.
Você constrói novas habitações pelo Minha Casa, Minha Vida, mas tem novos despejos a cada dia, especulação imobiliária crescendo, as pessoas sendo expulsas das regiões por conta do valor proibitivo do aluguel e da especulação imobiliária.
A Câmara dos Deputados aprovou na semana passada uma Medida Provisória que permite que unidades do Minha Casa, Minha Vida sejam disponibilizadas para profissionais envolvidos na Olimpíada antes da entrega para os usuários. Agora, segue para votação no Senado. O movimento vê algum problema?
Achamos que deveriam utilizar os imóveis novos de alto padrão na Barra da Tijuca para isso...
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos

VALOR DA ENERGIA É CARA PARA AS COMUNIDADES PRÓXIMAS À PRODUÇÃO.

Rio Grande do Norte: um polo de negociação energética? Entrevista especial com Ângelo Magalhães da Silva

“Por mais que exista um crescimento de energias renováveis no país, o acesso a essa energia não é garantido nos municípios produtores, porque o valor dessa energia é elevado e as comunidades que se localizam próximo das empresas não recebem benefícios”, afirma o sociólogo.
Foto: revistanegocios.net.br
A expansão dos parques eólicos do litoral do Rio Grande do Norte para os municípios do interior do estado está associada ao custo da terra, “porque a instalação de parques eólicos na região litorânea é mais cara para as empresas, justamente porque elas têm de disputar capitais com o setor turístico. É por essa razão que elas passaram a investir no interior, onde as terras não são utilizadas para investimentos do turismo”, diz Ângelo Magalhães da Silva, que está pesquisando as contradições socioeconômicas da produção de energia eólica no estado.
Segundo ele, na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por telefone, a expansão dos parques eólicos para os municípios pobres também está associada a um “falso discurso” de aumento de empregos e superação da dependência de arrecadação dos municípios do estado e da União. Contudo, alerta, “depois de 10 anos de produção de energia renovável no litoral, não houve melhora no ritmo das arrecadações, ou seja, não estamos vendo transformações significativas desses investimentos nos municípios produtores”. Segundo ele, ao longo da última década, não foram produzidos ou divulgados dados que comprovem “mudanças nas condições de acessibilidade aos bens públicos como saúde, educação, alteração da infraestrutura dos municípios” em função dos investimentos de energia eólica nesses municípios.
Ângelo Magalhães da Silva frisa ainda que a população dos municípios não é beneficiada com a produção de energia e tampouco tem acesso à energia mais barata. “Toda essa energia ingressa no sistema nacional de energia e é comprada por empresas que têm participação na própria produção de energia. Então, é uma energia renovável, mas não há nenhum retorno dessa energia para as funções sociais que estão ligadas à sua consolidação, ou seja, as comunidades não recebem um barateamento da energia renovável”. Segundo ele, também não existem dados que indiquem o consumo dessa energia. “O discurso é de que a energia que as pessoas estão utilizando é a do parque eólico, mas não há como constatar isso através de dados a fim de verificarmos, porque depois que a energia entra na rede ela é distribuída, ficando difícil localizar o real destino dela. O maior consumidor interno da energia eólica não é quem precisa, são as empresas que usam o mercado de energia como elemento de competitividade. A energia eólica é cara porque a sua produção se dá em função dos mecanismos de regulação do mercado, ou seja, via os leilões realizados pelo Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – Proinfa, os quais não visam o beneficiamento da população, mas a negociação nos mercados de energia”, conclui.
Ângelo Magalhães da Silva é licenciado e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. É doutor em Ciências Sociais na área de Política, Desenvolvimento e Sociedade pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da mesma universidade. É ainda professor adjunto de Sociologia da Universidade Federal Rural do Semiárido – UFERSA.
Confira a entrevista.
Foto: fatosedados.blogspetrobras.com.br
IHU On-Line - O que suas pesquisas têm verificado sobre os parques eólicos instalados em 18 municípios do Rio Grande do Norte?
Ângelo Magalhães da Silva – Essa pesquisa foi aprovada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e envolve duas universidades, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN e a Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA, e oito pesquisadores. Nosso objetivo é compreender quais são os impactos socioeconômicos dos parques eólicos e já temos algumas constatações. Entre elas, constatamos uma relação entre os governos municipais, as comunidades e as empresas de energia eólica, a qual revela uma associação entre economias pobres e estruturas produtivas modernas. Por exemplo, estamos percebendo que há um avanço, ou seja, uma interiorização da produção de energia eólica no Rio Grande do Norte, a qual já ocupa também uma parte significativa do litoral setentrional do Rio Grande do Norte, que faz uma conexão com o litoral do Ceará. Mas essa expansão da energia eólica vem sendo insuficiente para o projeto de expansão da energia eólica no estado. Então, o setor empresarial vem descobrindo, no interior do Rio Grande do Norte, os municípios pobres que ficam mais do lado agreste do estado, ou seja, estão descobrindo terras devolutas, terras sem propriedade formal, terras improdutivas e assentamentos que podem ser negociados. Nesse sentido, está havendo uma migração da energia eólica do litoral para o interior, porque a instalação de parques eólicos na região litorânea é mais cara para as empresas, justamente porque elas têm de disputar capitais com o setor turístico. É por essa razão que elas passaram a investir no interior, onde as terras não são utilizadas para investimentos do turismo.
Inicialmente, quando as empresas passaram a investir em energia eólica no estado, tinham um discurso de que era preciso investir no litoral, porque lá havia vento e as condições necessárias para garantir a produção da energia. Mas esse é um discurso falacioso, porque a energia eólica não vive exclusivamente de vento, mas de um pacote de elementos de competitividade, que envolvem a condição da terra, os mecanismos de mercado, que no caso brasileiro são os leilões, e também – esse é um fato novo que estamos analisando – da deficiência tributária dos municípios em que as empresas se instalam.

“No RN não há desdobramento de cadeias econômicas do ponto de vista da criação de empresas locais”

 

10 anos de investimentos em energia eólica
discurso das empresas para produzir energia eólica no interior enfatiza a maior arrecadação dos municípios para suprirem as dependências do Estado e da União. As empresas argumentam que, com os parques eólicos, haverá empregos. Mas no Rio Grande do Norte, depois de 10 anos de produção de energia renovável no litoral, não houve melhora no ritmo das arrecadações, ou seja, não estamos vendo transformações significativas desses investimentos nos municípios produtores. O que percebemos ainda é que há uma dependência dos municípios com relação às transferências governamentais e da União. Não temos ainda nenhum dado que comprove que as mudanças nas condições de acessibilidade aos bens públicos como saúde, educação, alteração da infraestrutura dos municípios, ocorrem em função dos investimentos de energia eólica nesses municípios.
Além disso, há um dado que deve ser revelado: por mais que exista um crescimento de energias renováveis no país, o acesso a essa energia não é garantido nos municípios produtores, porque o valor dessa energia é elevado e as comunidades que se localizam próximo das empresas não recebem benefícios. O que se percebe é que as aproximações que as empresas fazem com as famílias mantêm aquele discurso antigo que já percebemos no Nordeste: de que a saída para o desemprego e para a falta de crescimento está em dispor as terras das comunidades para as grandes empresas. Esse discurso do crescimento e da responsabilidade das empresas com as comunidades não se efetiva, porque há empregabilidade no período de instalação dos parques, e há uma transferência dos recursos tributários durante a instalação dos parques, mas depois desse processo o que se vê nos municípios produtores de energia renovável é o aumento da criminalidade, de doenças transmissíveis como HIV, elitização do acesso à terra, falta de mobilidade populacional.
Estrutura econômica moderna e suas condições ambíguas
O que vemos é uma estrutura econômica moderna que opera em condições sociais ambíguas e desiguais. Por isso o discurso de que a energia eólica é barata e de que seremos autossuficientes em energia eólica não revela as contradições que ocorrem nos municípios, porque eles continuam pobres. Esse discurso de atrair os projetos de energia eólica para os municípios não revela que a terra, nesses municípios, será mais cara, que a especulação imobiliária será crescente.
terra é o principal fator que faz com que as empresas migrem para o interior e é isso que determina o impacto da energia eólica. Percebemos que essas empresas têm estratégias diferentes para se instalarem, de acordo com a condição do uso da terra: quando elas se deparam com assentamentos de camponeses, a negociação exige mais habilidade das empresas, porque estão lidando com grupos organizados. Mas quando a estratégia consiste em comprar terra de camponeses ou de uma família que tem casa na cidade e uma pequena fazenda no interior, o discurso é diferente: de um lado, argumentam que é preciso regularizar a terra para vendê-la e, de outro, junto com a prefeitura, dizem que a terra não é propriedade das famílias e deve ser desapropriada para o uso da energia renovável.
O que ocorre no Rio Grande do Norte é uma clássica manifestação de acumulação de capital realizada pelas empresas, governos municipais e camponeses ou proprietários. Ou seja, são formas antigas de acumulação que ganham características novas no capitalismo moderno através da especulação, da espoliação fundiária e da despossessão da terra.
Desdobramentos econômicos
No aspecto econômico, no Rio Grande do Norte não há desdobramento de cadeias econômicas do ponto de vista da criação de empresas locais para atender os quase 90 parques eólicos que existem. Ou seja, não há nenhum desdobramento desses parques na criação de novas empresas nos municípios, não há a criação de uma dinâmica de serviços e comércios em função desses parques, que poderiam transformar a vida das pessoas que vivem nesses municípios. Ao contrário, essa energia, que é moderna e competitiva, tem sua manutenção feita por empresas que são de fora dos municípios. A estrutura física dos cata-ventos é composta não por uma gestão municipal, mas porque alguns municípios são ricos em calcário e por conta disso conseguem produzir a estrutura do cata-vento, mas a estrutura tecnológica do aerogerador vem de fora. Somente no Ceará há um desdobramento desse tipo de investimento, e lá já surgiram empresas competitivas, modernas, que são resultado do investimento em energia eólica e fotovoltaica, que deram uma nova dinâmica ao estado do Ceará.

“O discurso de que a energia eólica é barata e de que seremos autossuficientes em energia eólica não revela as contradições que ocorrem nos municípios”

IHU On-Line – Como funciona a instalação dos parques em relação ao uso da terra? Os proprietários arrendam as terras ou elas são compradas pelas empresas?
Ângelo Magalhães da Silva – Eles arrendam as terras e recebem de 2 a 5 mil reais por cata-vento instalado, mensalmente, dependendo da área em que cada parque será instalado. Então, a negociação de compra e venda depende da infraestrutura que existe próximo aos parques, como por exemplo, estradas, rodovias federais, distribuição de gás, turismo. Com isso estou querendo dizer que as negociações variam de acordo com a localização das terras e as condições de competitividade que envolvem a condição fundiária da terra. Esse valor de 2 a 5 mil dá-se em função do tamanho da terra, da condição dela, do fato de ela estar regulamentada ou ser uma terra devoluta, em função da condição morfológica, se permite mais ou menos vento, em função da proximidade com a comunidade, etc.
Os parques de energia eólica estão cada vez mais próximos das comunidades, ou seja, de onde as pessoas moram. A literatura mostra que o impacto dos parques gera descaracterização na migração das aves, morte das aves, além de ruído, mas nada disso é levado em consideração durante a construção dos parques. Ao contrário, se diz que eles não têm ruídos, e o principal discurso das empresas se dá na comparação da produção de energia eólica com energias que poluem de forma absurda. Esse tipo de comparação não pode ser feito porque estamos falando de uma energia que tem outras finalidades e que ocupa um território em outras condições. O impacto, nesse caso, é social.
IHU On-Line – Quais as condições nefastas desses parques?
Ângelo Magalhães da Silva – Durante a instalação, primeiro, a proliferação de doenças sexualmente transmissíveis – o que já consta em pesquisas de mestrado -, depois, desemprego gerado após a instalação dos parques. Outro fator negativo é a dependência parcial que os municípios passam a ter, durante a instalação, da tributação de circulação de qualquer mercadoria. Durante o processo de manutenção da energia, o município não tem nenhum controle sobre a arrecadação, ou seja, dos tributos que derivam da comercialização da energia eólica. Outro fato diz respeito ao crescimento da especulação imobiliária nos municípios que têm energia eólica. Além disso, temos dados compartilhados pelo Ministério Público e pelas procuradorias de meio ambiente, da invasão de 20% de área de preservação ambiental permanente. Tenho dados que não posso divulgar agora, de empresas que estão respondendo a processos judiciais porque seus parques eólicos estão instalados em áreas de preservação ambiental. No polo Costa Branca, que fica no litoral setentrional, num território que envolve cinco municípios, já há 20% de área de preservação permanente ocupada, sendo que essas áreas não podem ser ocupadas para atividades econômicas.
Outro problema é o seguinte: para onde irão, depois de 20 ou 30 anos, os resíduos sólidos desses equipamentos dos cata-ventos? Essas torres irão virar sucata e as paisagens que hoje são bonitas vão virar centros de sucatas. Como as empresas se responsabilizarão por isso? As empresas não têm uma prática sócio corporativa e ambiental nas regiões em que estão instaladas. Elas se aproximam das escolas e das famílias com um discurso de que a energia eólica é fundamental, se apropriando de duas grandes instâncias que são estratégicas para o grande capital: a escola e a família. Pela escola, fazem o trabalho de alienação e convencimento de que é possível e necessário que se legitime a energia renovável e, pelas famílias, as convencem a disponibilizarem suas terras para o uso de energia eólica. É uma falta de conscientização, que não tem nenhuma responsabilidade social.
A responsabilidade social que as empresas realizam nos município se limita a encontros com as escolas, que são convidadas a visitarem os parques. O discurso da empresa é o de dizer que a energia renovável irá gerar renda no município, e que o emprego e a renda serão permanentes, quando na verdade crescem os empregos informais e sazonais durante a instalação dos parques. Ao mesmo tempo essa dinâmica esconde os efeitos posteriores da instalação dos parques: a diminuição do emprego e o aumento da especulação imobiliária.

 


“Empresas estão respondendo a processos judiciais porque seus parques eólicos estão instalados em áreas de preservação ambiental”

IHU On-Line – Há possibilidade de gerar empregos em função da manutenção dos parques? O que dificulta a criação de uma rede econômica que preste esse tipo de serviço na região?
Ângelo Magalhães da Silva – O maior índice de empregabilidade se dá na instalação do parque. Até aí parcialmente ocorre uma intervenção municipal, mas a manutenção posterior não é feita por empresas do município, e sim por empresas internacionais que não têm sede no Rio Grande do Norte, que vêm para o estado e em um mês fazem a manutenção de todos os parques. Depois disso, o acompanhamento dos parques é feito por um número muito reduzido de engenheiros.
Em contrapartida, as empresas dizem que não absorvem a mão de obra local para fazer a manutenção permanente dos parques, porque ela não é qualificada. Mas temos, no Rio Grande do Norte e no Nordeste, diversas universidades que formam engenheiros de energia. Mas os polos preferem contratar empresas que têm expertises e estão instaladas fora do Estado. A manutenção dos parques não é feita pelo conhecimento produzido localmente. No Ceará, ao contrário, isso já acontece, porque eles estão mais avançados.
Apesar disso, o que permitiu a presença da energia eólica no Rio Grande do Norte foi a estrutura logística já existente e criada pelo petróleo, pelo turismo, por uma estrutura produtiva primária que facilitou o acesso das empresas ao litoral.
Outra questão polêmica é o destino dessa energia: ela não é destinada ao consumo local, comunitário, e tampouco se fala em reduzir o preço da energia para municípios em que a energia é gerada; ao contrário, toda essa energia ingressa no sistema nacional de energia e é comprada por empresas que têm participação na própria produção de energia. Então, é uma energia renovável, mas não há nenhum retorno dessa energia para as funções sociais que estão ligadas à sua consolidação, ou seja, as comunidades não recebem um barateamento da energia renovável. Ao invés disso, trata-se de uma energia que se torna muito cara e não consegue ser moderna ou dinâmica para as populações que precisam de uma energia mais barata.
Não há nenhum dado que indique que uma parte desses municípios consuma energia eólica. O discurso é de que a energia que as pessoas estão utilizando é a do parque eólico, mas não há como constatar isso através de dados a fim de verificarmos, porque depois que a energia entra na rede ela é distribuída, ficando difícil localizar o real destino dela. O maior consumidor interno da energia eólica não é quem precisa, são as empresas que usam o mercado de energiacomo elemento de competitividade. A energia eólica é cara porque a sua produção se dá em função dos mecanismos de regulação do mercado, ou seja, via os leilões realizados pelo Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – Proinfa, os quais não visam o beneficiamento da população, mas a negociação de energia nos mercados de energia.
O Brasil é um mercado promissor de energia eólica porque seu consumidor é intracorporativo, ou seja, se produz energia eólica barata e quem vai consumir essa energia são as grandes corporações, as empresas que compram energia no mercado de energia, mas essa energia não é destinada à sociedade.

“O discurso da empresa é o de dizer que a energia renovável irá gerar renda no município, e que o emprego e a renda serão permanentes, quando na verdade crescem os empregos informais e sazonais durante a instalação dos parques”

IHU On-Line – Como se dá a distribuição dessa energia na rede?
Ângelo Magalhães da Silva – Ela entra na rede elétrica pelo operador nacional, mas pode ser adquirida pelas empresas que compram energia elétrica no mercado. O mercado de energia elétrica no Brasil é um mercado aberto, livre de concorrência e regulado parcialmente pelos leilões. Por exemplo, uma empresa que trabalha com produção de cana-de-açúcar pode comprar uma parcela de gigawatts dos Parques Eólicos, ou os Parques podem produzir energia e distribuir diretamente da fonte do parque nas bolsas de ações; é uma negociação empresarial.
O que quero dizer é que as comunidades, os 18 municípios que estamos estudando, estão formalmente envolvidos com a atividade de energia renovável. Esses municípios não sofreram alterações na sua estrutura produtiva e muito menos na distribuição e no consumo de energia que é resultado da expansão da energia eólica. Ao contrário, o que resulta da energia eólica nos municípios é uma redefinição do mercado de terras, em que se beneficia a parcela da população que tem terras. Alguns municípios têm suas receitas acrescidas, mas por um tempo muito exíguo, muito pequeno, e mesmo aqueles municípios que têm parcialmente suas receitas elevadas pela energia renovável não demonstram, segundo as nossas pesquisas, mudanças. Ao contrário, são 18 municípios pobres que continuam dependentes das transferências governamentais. Ou seja, a atuação das corporações que fabricam energia não se desdobra em questões econômicas locais.
Não tem sido possível regular essa situação porque não há cultura ou movimento político que determine o controle da produção dessa energia e tampouco a forma como ela deve ser utilizada. Em outros países, na Espanha, por exemplo, há um controle da energia e da água pelo Estado, pelas comunidades e pelas empresas que produzem energia. No Brasil, ao contrário, temos uma falta de consciência política sobre o que é energia renovável, o que é sustentabilidade, e após a concessão e a contratação da terra para produção de energia renovável, a comunidade fica à mercê do ritmo dessas energias.
Um dado interessante: é sabido que a produção de petróleo é feita através dos cavalos mecânicos, que geram uma área de devastação já medida pela própria Petrobras. O sistema de energia eólico é muito parecido, porque cria umaárea devastada que, em seu somatório, chega a ser bastante elevada - não tenho o dado de área devastada porque ainda estamos analisando. Mas essa área passa a ser de uso privado, é feito o cercamento das terras e são criadas novas vias de acessos, as quais são de uso exclusivo para a empresa que produz energia eólica.
Nós ainda não conseguimos detectar quais são essas famílias envolvidas nesse processo e como estão lidando com isso, mas há uma coerção sutil por parte das empresas, que necessitam de fazendas, terras e áreas ambientalmente protegidas, há uma coerção das empresas perante as prefeituras e há uma coerção entre empresa e prefeitura com relação às famílias.
Outro dado é que essa contratação de terras para uso da energia eólica impõe limites à produção agrícola dos camponeses, ou seja, no momento em que se instala a energia eólica, há um contrato entre os participantes que diz que não será possível desenvolver atividades econômicas na área, ou seja, não poderá desenvolver a agricultura de subsistência, a pecuária, a caprinocultura, nem desenvolver outra atividade paralela sem a autorização da empresa. Portanto, há um processo claro de despossessão e espoliação. Acredito que essas questões ligadas ao Rio Grande do Norte serão expandidas como estratégias corporativas para o Nordeste.

“A contratação de terras para uso da energia eólica impõe limites à produção agrícola dos camponeses”

 

IHU On-Line O senhor mencionou que foi verificado um aumento no índice dos casos de HIV. Qual a relação entre a instalação dos Parques Eólicos e o aumento dos índices da doença?
Ângelo Magalhães da Silva – Essa informação consta numa pesquisa de mestrado de um aluno do Observatório, que constatou, segundo entrevistas com moradores dos municípios locais do litoral, que após a instalação dos parques eólicos o índice de HIV cresceu. Essa é uma informação que não está baseada num dado oficial, porque foi obtida através de entrevistas com líderes locais, assistentes sociais, pedagogos e as comunidades. Há informações correntes que a transmissão do HIV foi feita através de um trabalhador infectado, que trabalhava no parque eólico e veio de fora do estado, e ele teria transmitido a doença para alguns moradores locais.
Além disso, as pesquisas mostram que o índice de gravidez entre jovens é muito alto e crescente. As entrevistas que esse mestrando fez com membros dos postos de saúde local revelam também um crescimento das doenças infectocontagiosas. Nós ficamos muito espantados com esses dados, mas tivemos de relativizá-los, porque ainda não sabemos se essas doenças infectocontagiosas estão se expandindo para os 18 municípios. Com certeza há umimpacto nas condições de saúde pública local nas cidades, que já são decadentes. O que se verifica, de fato, é um crescimento da violência, com roubos de carros e motos, porque a dinâmica da instalação envolve uma logística muito rápida na cidade.
Por Patricia Fachin
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

TRABALHOS DOS SEGUNDOS ANOS DO EM.









































PARABÉNS ITAJAÍ.

Itajaí é a melhor cidade de porte médio do Brasil e também a melhor cidade de porte médio em qualidade de vida. O resultado é de um levantamento inédito, feito pelo Ranking Isto É/Austin Ratings, que envolveu os 5,565 municípios brasileiros. A avaliação teve como base mais de 500 indicadores, que foram agrupados em quatro pilares principais: Fiscal, Econômico, Social e Digital. A premiação ocorreu na noite de quinta-feira (17), em São Paulo, durante solenidade do anuário As Melhores Cidades do Brasil 2015. O prefeito Jandir Bellini esteve presente no evento e destacou a população de Itajaí na conquista desta colocação.
“No ano em que nos posicionamos como Polo Náutico do Brasil, e quando vivemos um momento econômico delicado no país, ser considerada a melhor cidade brasileira de porte médio é uma grande conquista. A premiação mostra que estamos no caminho certo e que devemos continuar trabalhando ainda mais” falou o prefeito. “Dedico esta conquista aos itajaienses e também àqueles que escolheram Itajaí como sua cidade, pois juntos estamos fazendo dela a melhor”, finalizou.
A premiação é promovida pela Editora Três, através da Revista Isto É, e reconhece os municípios com destaque para a gestão pública. Curitiba foi a vencedora, e Congonhas a melhor cidade de porte pequeno. De Santa Catarina, também foram premiadas Balneário Camboriú (vencedora indicadores sociais) e Florianópolis (vencedora indicadores digitais).
A Austin Rating é uma das principais consultorias em classificação de risco, e utilizou indicadores das áreas de Saúde, Educação, Qualidade de Vida, Assistência Social, Indicadores Financeiros e Presença Digital. Foram pelo menos seis meses de pesquisa e levantamento de dados para chegar ao resultado. O economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostin, afirma que, mesmo com dados públicos, o grande desafio do levantamento foi cruzar dados tão volumosos e tão díspares quanto os analisados para a realização do ranking. “A grande inteligência é dar o valor devido a cada indicador, o peso dele, numa estrutura que foi desenvolvida e pesquisada pela Austin”, conta ele.
Fonte : CLICKCAMBORIÚ