terça-feira, 31 de janeiro de 2017

USINA DE BELO MONTE AGRAVOU SECA EM ALGUNS MUNICÍPIOS DO PARÁ.

USINA DE BELO MONTE AGRAVOU  SECA EM ALGUNS MUNICÍPIOS.
A barragem da Usina Hidrelétrica Belo Monte tem agravado o período da seca do rio Xingu e causado mais impacto socioambiental para as comunidades ribeirinhas e indígenas que habitam a região da Volta Grande do Xingu, nos municípios de Altamira e Anapu, no sudoeste do Pará. Ao longo de 2016, com a forte estiagem que atingiu a região, comunidades ficaram isoladas devido ao baixo volume do manancial, impossibilitando a navegação, o que não acontecia antes do barramento. 

O reportagem é de Fabio Pontes, publicada por Amazônia Real, 30-01-2017.

Além dos impactos para as populações tradicionais, a barragem tem ocasionado problemas para todo o ecossistema da região.

Áreas que antes ficavam alagadas e serviam para a reprodução de peixes e quelônios, agora passam a maior parte do ano secas. Essa alteração tem comprometido a segurança alimentar e econômica das populações da Volta Grande do Xingu, que encontram na pesca uma de suas principais fontes de sobrevivência.

rio Xingu é um afluente da margem direita do rio Amazonas. A região da Volta Grande do Xingu está localizada abaixo da barragem de Belo Monte numa extensão de 100 quilômetros. A área é conhecida como o “trecho seco” da usina e fica entre a barragem e a casa de força principal. Neste perímetro estão duas terras indígenas onde vivem as etnias JurunasAraras e Paquiçambas

O período mais seco nesta parte do sudoeste do Pará costuma ocorrer entre os meses de julho a novembro. As chuvas mais intensas acontecem entre dezembro e junho.

De acordo com a bióloga Cristiane Costa Carneiro, do Instituto Socioambiental (ISA) em Altamira, o barramento na época seca não poderia ter ocorrido já que o rio Xingu se encontrava em um baixo nível por conta da falta de chuvas.

“O rio Xingu foi barrado num período bem seco. Isso [o barramento] já foi um pouco irresponsável. Em ano de El Niño os impactos foram gigantescos”, diz Cristiane Carneiro, que passou o último ano estudando os impactos na Volta Grande do Xingu. Segundo ela, os efeitos do fenômeno climático El Niño que afetou toda a Amazônia entre 2015 e 2016 foram agravados na região pelo represamento do rio. 

A estiagem do ano passado, afirma a bióloga do ISA, deixou algumas comunidades da Volta Grande do Xingu completamente isoladas. Sem água suficiente, até mesmo as pequenas embarcações ficavam encalhadas nos bancos de areia. 
O isolamento colocou em risco a segurança das famílias, já que em caso de emergência médica, por exemplo, elas não teriam condições de chegar aos hospitais mais próximos.

Outro problema foi a perda da produção agrícola, pois a falta de navegabilidade impossibilitou o transporte dos alimentos para serem comercializados nas cidades.

“O rio neste trecho não ficou mais navegável. Encontramos ribeirinhos totalmente isolados por não conseguirem mais navegar. Eles não conseguem mais escoar a produção. O efeito é cascata: é social, é econômico e é ambiental. Você acaba com o peixe e acaba com a fonte de renda do ribeirinho. Você compromete a segurança alimentar destas famílias”, afirma Cristiane Carneiro, que é doutoranda em Ecologia Aquática e Pesca pela Universidade Federal do Pará.

De acordo com a Defesa Civil do Pará, quatro comunidades rurais de Anapu ficaram parcialmente isoladas, impactando 280 famílias. Segundo o subtenente Marcelo Alberto da Silva, do Corpo de Bombeiros, uma das consequências da estiagem foi o comprometimento do acesso à água potável, já que muitos poços secaram.

O militar, que está em diligência na região, afirmou que a Defesa Civil distribuiu galões de água mineral para as famílias. Assim como toda a região amazônica que teve um 2016 de “ressaca” do grande El Niño de 2015, o sudoeste paraense também foi bastante impactado. O baixo volume de chuvas reduziu o nível dos rios de forma a causar alterações significativas para as populações tradicionais.

Redução da vazão do Xingu

A vazão para a Volta Grande do Xingu é gerenciada por um programa que integra a direção da usina, o Ibama e agências reguladoras como a de água (ANA) e a de energia elétrica (Aneel).
“Quem ‘comanda’ a Volta Grande é um programa de consenso, um programa ecológico. Ele estabelece a vazão média que vai passar para aquele trecho de 100 quilômetros”, explica a pesquisadora do ISA em Altamira, Cristiane Carneiro.

Após o barramento, a região teve uma redução considerável na vazão do rio Xingu, conforme análises de Cristiane Carneiro. Segundo ela, em novembro do ano passado a vazão foi de 800 metros cúbicos por segundo (m3/s). Antes da obra, a média era de 1.800 m3/s. O mês de abril será o de maior vazão pós-barramento, quando o período de chuvas estiver mais intenso: 8.000 m3/s; mesmo assim, bastante abaixo do que ocorria antes: 20 mil m3/s.

Os efeitos para o ecossistema da região passaram a ser evidentes, conforme mostram os estudos da pesquisadora. O principal deles foi a perda da capacidade de espécies aquáticas se reproduzirem por já não haver o ambiente natural. Até mesmo a piracema (período de reprodução dos peixes) não ocorreu ao longo de 2016 na Volta Grane do Xingu.

Áreas conhecidas como Sarabau – que ficam inundadas em boa parte do ano e abrigam vegetação que fornecem alimento para os peixes – sofreram redução. “Este ambiente não está resistindo à vazão reduzida. Ela não foi suficiente para alagar o ambiente. A falta de alimento para essas espécies acarreta impacto no processo reprodutivo. Eles [peixes] precisam se alimentar para ter reserva energética para desovar. O tamanho e quantidade dos ovos estão relacionados com o período que a fêmea conseguiu se alimentar”, afirma Cristiane Carneiro

Para ela, o grande questionamento neste momento é saber como ficarão os impactos na Volta Grande do Xingu agora que a usina está oficialmente em operação e gerando energia. De acordo com Cristiane Carneiro, todas estas alterações observadas entre 2015 e o ano passado se deram quando Belo Monte ainda não estava em plena atividade. “Nosso grande questionamento é como isso vai acontecer agora que [Belo Monte] está gerando energia,” disse.

O sumiço dos peixes

Sem também saber como será o futuro da região está o pescador Anacleto Teles dos Santos, 29 anos, morador da comunidade Rio das Pedras, onde vivem 20 famílias, em Anapu. Ele reclama das dificuldades de se conseguir uma boa quantidade de pescado diante do sobe e desce constante do nível do rio Xingu na região da Volta Grande.
“O ribeirinho agora para pegar peixe é a maior dificuldade. Está muito ruim de pegar peixe até para a alimentação”, diz Anacleto Santos à Amazônia Real.

Outro problema apontado pelo pescador é o aumento na quantidade de mosquitos por conta de poças d’água que se formam, já que agora não há correnteza suficiente para impedir este acúmulo. O resultado? Crescimento no caso de pessoas infectadas pela malária, doença bastante comum na Amazônia.

“Como não há mais água suficiente com força, criam-se poças que se transformam em criadouros de mosquito. De vez em quando alguém aqui pega malária”, conta Santos.

O problema que pode ser considerado o mais grave para as comunidades da Volta Grande do Xingu após o barramento do rio é a escassez de água salubre para o consumo. Com o baixo volume da vazão, a água do rio não oferece mais condições de ser bebida por ter muito sedimento; para agravar, os poços secaram. “Agora temos que ir muito longe para conseguir água limpa. Procuramos onde tenha água corrente ou guardamos água da chuva”, afirma Anacleto Santos.

Sobre o isolamento, ele afirma que as comunidades só não ficaram 100% ilhadas porque em algumas delas há estradas de barro (chamadas de ramal) que as interligam a AnapuAltamira, num percurso de 80 quilômetros até a Transamazônica.

“Quem tem moto consegue ir até a cidade, mas quem não tem fica isolado mesmo. Aqui não temos assistência nem do governo nem da empresa [responsável pela usina]. Estamos totalmente esquecidos”, diz o pescador.

Usina é inviável, diz pesquisador


Os índios do Xingu fizeram protesto contra a construção de Belo Monte, no Rio Xingu (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Pesquisador dos impactos ambientais das barragens de hidrelétricas na Amazônia, o ecólogo Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), afirma que as previsões climáticas para os próximos anos na região do Xingu apontam para o agravamento dos períodos secos. O aquecimento global será o principal influenciador destas alterações, também reforçado pelo desmatamento.
“As previsões de mudanças climáticas atingem fortemente aquela região. O leste da Amazônia ficará com muito mais secas.
Isso está previsto em vários modelos de clima. O Xingu, por exemplo, ficará com muito mais secas. Isso será muito ruim para a própria hidrelétrica. Há também o próprio impacto do desmatamento que vai reduzir a vazão do rio”, afirma o cientista.

Philip Fearnside diz que o desflorestamento na Alto Xingu, localizado na divisa do Pará com o Mato Grosso, é uma das grandes ameaças ao Xingu tanto para sua viabilidade na geração de energia em Belo Monte, como para a sobrevivência de comunidades ribeirinhas e indígenas às suas margens. “Então se tem vários fatores que agem juntos para que se tenha menos água nos rios.”

Questionado se estes cenários futuros podem tornar a usina Belo Monte inviável, o ecólogo Philip Fearnside responde:
“Ela já está inviável. Não há água suficiente para movimentar as turbinas durante muitos meses do ano. Durante três meses não há água suficiente para movimentar uma turbina entre as 20 instaladas na casa principal. Isso inviabiliza qualquer hidrelétrica pois as turbinas são as partes mais caras de uma usina”, diz Fearnside.

Segundo ele, deixar inativas turbinas que custam alguns milhões de dólares e não gerar energia para ser comercializada durante alguns meses “é loucura em termos financeiros”. Na opinião do cientista do Inpa, por conta destas oscilações no volume de água do rio XinguBelo Monte alcançará sua capacidade máxima de geração (11 mil MW) apenas nos meses de pico das cheias; em meses normais a produção média será de 4.000 MW.

Empresa reconhece impactos

A construção da barragem da Usina Hidrelétrica Belo Monte foi finalizada em novembro de 2015. A obra foi inaugurada em maio de 2016 pela ex-presidente Dilma Rousseff(PT). Segundo o governo, a usina é a terceira maior do mundo.

Atualmente de turbinas estão operando energia. Quando as 24 turbinas estiveram instaladas até 2019, a hidrelétrica terá capacidade de gerar 11.233,1 Megawatts (MW) de energia para atender 60 milhões de pessoas em 17 Estados do país.
Usina Hidrelétrica Belo Monte é gerenciada pelo consórcio Norte Energia S/A, formado pelas empreiteiras OdebrechtCamargo Corrêa e Andrade Gutierrez, além da estatal Eletrobras e fundos de pensão.

Investigações da Polícia Federal, por meio da Operação Lava Jato, apontaram que políticos do PT e do PMDB receberam propina das empreiteiras para que obtivessem os contratos de construção. Segundo delação premiada de executivos da Andrade Gutierrez, o valor das propinas pagas chegou a R$ 150 milhões.

Em sua página na internet, a Norte Energia afirma que Belo Monte terá capacidade máxima de geração de 11.233 MW “no pico”. Já a produção média em outras épocas do ano será de 4.571 MW. A empresa afirma que a usina foi projetada para operar a “fio d’água”, ou seja, estar ativa durante todo o ano, independentemente do volume de água no rio Xingu

“Quando a vazão é pequena, ela gera menos energia”, diz o texto oficial.

O reservatório da hidrelétrica tem 503 km2. Apresentando-se como uma usina de baixo impacto ambiental, a Norte Energia afirma que Belo Monte não tem necessidade de alagar grandes áreas de terra para manter suas operações.

Sobre a Volta Grande do Xingu, a Norte Energia reconhece que houve “alterações” na vazão do rio para esta região, mas que os impactos para as comunidades tradicionais seriam amenizados.

“Ocorrerá mudança da vazão do rio Xingu na área conhecida como Volta Grande do Xingu, mas o hidrograma proposto pelo estudo de impacto ambiental da obra garante as condições adequadas para a manutenção do modo de vida das etnias Juruna do Km 17, Arara da Volta Grande e Paquiçamba, que habitam essa área”, afirma a empresa.

A agência Amazônia Real procurou a assessoria de imprensa da empresa Norte Energia, em Altamira, mas as perguntas enviadas por e-mail sobre os impactos socioambientais na Volta Grande do Xingu não foram respondidas até a publicação desta reportagem.

O monitoramento hidrológico do rio Xingu, no Pará, é realizado pela empresa estatal Eletronorte, subsidiária da Eletrobras. A reportagem não localizou representantes da empresa em Altamira para falar sobre a atual situação dos níveis do manancial. 

Na Justiça Federal tramitam várias ações contra a obra da hidrelétrica Belo Montedevido aos impactos socioambientais às populações tradicionais pelo não cumprimento de condicionantes, inclusive há denúncia feita por organizações civis à Organização dos Estados Americanos (OEA) por violações de direitos humanos.

FEBRE AMARELA E OS MACACOS.

Desinformação sobre surto de febre amarela coloca macacos em perigo

Embora não transmitam diretamente o vírus, primatas vêm sendo mortos por pessoas que temem contrair febre amarela

Bugio - Alouatta seniculus / Imagem: Luciano Malanski - ICMBio
Bugio – Alouatta seniculus / Imagem: Luciano Malanski – ICMBio
Mais de 80 primatas, na sua maioria bugios (do gênero Alouatta), morreram com suspeita de febre amarela nessas últimas semanas no Espírito Santo. Nos últimos dias, as estimativas atualizadas apontam a morte de milhares de outros indivíduos no mesmo estado. A atual epidemia, que atinge as zonas rurais de Minas Gerais e Espírito Santo, não ameaça apenas os humanos, mas populações inteiras de primatas. Além da doença, os macacos também correm o risco de serem eliminados por falta de informação, pois em algumas localidades existe a crença de que sejam transmissores do vírus, o que não ocorre. O último surto de febre amarela em macacos ocorreu entre 2008 e 2009, no Rio Grande do Sul, e causou a morte de mais de dois mil bugios, infectados pelo vírus ou assassinados por pessoas desinformadas sobre o ciclo da febre amarela.
Thais Leiroz Codenotti, pesquisadora e coordenadora do Convidas – Associação para Conservação da Vida Silvestre, que liderou um projeto sobre o tema na época, com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, alerta que o problema tem se repetido neste ano. “Mesmo com os focos de febre amarela sendo em outros estados, já registramos aqui no Rio Grande do Sul casos de bugios sendo agredidos pela população”, alerta a pesquisadora.
“Este tipo de comportamento gera um desequilíbrio ecológico e agrava a situação”, completa. Maltratar, apreender ou perseguir animais silvestres configura crime ambiental (Lei Federal de Crimes contra o Meio Ambiente 9.605/98).
Para a pesquisadora o melhor meio de prevenção da doença em seres humanos é a vacinação. “É importante monitorar os casos, investigar a real causa das mortes e manter a vacina de febre amarela em dia. Sair matando macacos não resolverá o problema”, ressalta.

Sentinelas

Primatas são tão vítimas da doença quanto humanos. O primatólogo Fabiano Melo, pesquisador responsável pelo Programa de Conservação Muriquis de Minas, que recebe apoio da Fundação Grupo Boticário, afirma que “as espécies de macacos nativas do Brasil, por não terem tido um contato histórico evolutivo com o vírus, tendem a ter baixa resistência ao seu contato”.
Melo alerta que “a doença é transmitida apenas pelos mosquitos e que os macacos, mesmo doentes, mal servem de reservatório do vírus, porque acabam morrendo muito rápido”. Além disso, os primatas se comportam como sentinelas, sinalizando a presença do vírus. “Por estarem na mata, estão mais expostos aos mosquitos e acabam sendo afetados antes dos seres humanos. Quando um primata aparece doente, temos indícios de que nós, humanos, também estamos expostos”, explica.
A importância dos macacos não se resume à sua atuação como sinalizadores da doença. “Esses animais são semeadores naturais. Além de espalharem sementes pelo solo quando comem frutas, o esterco que produzem também favorece o nascimento de novas árvores”, afirma Melo.
O pesquisador realiza estudos em áreas protegidas situadas em Minas Gerais, e admite que na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Feliciano Abdala, localizada no município de Caratinga (MG), epicentro da epidemia em Minas Gerais, a doença pode atingir os muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus). Essa RPPN é a unidade de conservação mais importante para a proteção da espécie, que são os primatas mais ameaçados de extinção das Américas. “Aparentemente, a vulnerabilidade varia de espécie para espécie, mas todos os primatas neotropicais são vulneráveis. O vírus pode atingir uma população de muriqui e dizimá-la, como está acontecendo com os bugios”, completa.

Transmissão

A transmissão da febre amarela pode ocorrer de duas formas: silvestre e urbana. O contágio silvestre ocorre de macacos para mosquitos, normalmente das espécies Haemagogus ou Sabethes, que só vivem na floresta. Os mosquitos, então, transmitem o vírus desses macacos infectados para humanos. “Já a febre amarela urbana, muito mais comum que a silvestre, ocorre quando uma pessoa já infectada pelo vírus é picada pelo Aedes aegypti, que retransmite a doença para outras”, explica Codenotti.

Colaboração de Cintia da Rocha, in EcoDebate, 31/01/2017

A IMPORTÂNCIA DO CERRADO.

Estudo coordenado pelo INPE aponta os riscos da exploração do Cerrado

área de abrangência do Cerrado brasileiro
Imagem: www.sabordocerrado.com.br / IHU

No artigo “Desvalorizando e Superexplorando o Cerrado Brasileiro: Por Nossa Conta e Risco”, pesquisadores abordam a importância do bioma para frear as ameaças associadas às mudanças climáticas e para o desenvolvimento humano e econômico do país e da região. Coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o estudo foi recentemente publicado na Environment Magazine.
“Novas políticas públicas são necessárias para promover e integrar este bioma à nação. Em um contexto internacional, esforços importantes estão sendo feitos para preservar as florestas tropicais do Brasil. Enquanto isso, a destruição do Cerrado, o mais antigo bioma do país, avança a passos largos, com poucas controvérsias”, diz Myanna Lahsen, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do INPE.
Segundo a pesquisadora, está sob grande ameaça a existência dos ecossistemas e dos recursos naturais que são vitais para a maioria dos brasileiros, bem como para a viabilidade da agricultura.
Lahsen, que assina o artigo com Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB), e Eloi Dalla-Nora, também do INPE, ressalta que a beleza e importância ecológica do cerrado são profundamente desvalorizadas, apesar de o bioma ser classificado como um dos 35 hotspots de biodiversidade existentes no planeta devido sua excepcional concentração de biodiversidade endêmica e altos níveis de degradação por conta da exploração econômica.
Ecossistemas naturais no Cerrado são essenciais para a manutenção das reservas hídricas que abastecem o Brasil. “Os muitos serviços ecossistêmicos fornecidos pela vegetação nativa do Cerrado incluem a regulação do clima e da água doce limpa para grande parte do Brasil, incluindo a Amazônia e países vizinhos. Além de estabilizar o clima regional, a enorme circulação da água correndo através da vegetação nativa do Cerrado forma muitas dos importantes bacias hidrográficas do Brasil e contribui para o sistema subterrâneo do aquífero Guarani. O Cerrado fornece água, tanto para as regiões mais ricas quanto para as mais pobres do Brasil. Ele fornece cerca de 70% da água que flui para o norte para a bacia do Araguaia-Tocantins, para o sul-sudeste à bacia do Paraná, e para o nordeste para a bacia do São Francisco, alimentando 8 das 12 regiões hidrográficas do Brasil (Amazonas, Tocantins-Araguaia, Nordeste do Atlântico Ocidental, Parnaíba, São Francisco Atlântico Leste, Paraná, Paraguai), além da água atmosférica ou subterrânea para outras regiões e países. Isto significa que a estabilidade e o funcionamento dos ecossistemas circundantes em todas essas regiões dependem muito da integridade biológica do Cerrado. Além disso, devido ao fato de que 80% da eletricidade do Brasil vêm de usinas hidrelétricas em rios que têm suas nascentes no Cerrado, a conservação do bioma também é fundamental para a segurança energética do país”, escrevem os autores.
Os pesquisadores alertam ainda para a implementação de sistemas de monitoramento regulares para o Cerrado e melhorias na gestão daqueles que já estão estabelecidos, bem como para a diminuição de novos desmatamentos e a restauração de áreas degradadas.
“É preciso cumprir a legislação ambiental brasileira existente e os compromissos internacionais relacionados às mudanças climáticas, conservação da biodiversidade e desenvolvimento sustentável. Mas a resposta requer mais do que soluções técnicas. Por isso estamos chamando também atenção aos problemas estruturais de governança, obstáculos à integração nas decisões econômicas e do desenvolvimento com considerações de sustentabilidade ambiental e do bem estar humano. Nada menos do que a segurança hídrica, alimentar e energética do país está em jogo”, ressalta Lahsen.
Para os autores do estudo, a solução passa por melhorar a educação e a participação dos atores locais nas decisões sobre a região, com olhar crítico sobre os caminhos historicamente traçados para o desenvolvimento econômico do país.
Ainda na Environment Magazine, um segundo trabalho – Civil Society and Environmental Change in Brazil’s Cerrado, por Donald Sawyer e Myanna Lahsen – analisa a capacidade das instituições para enfrentar o desafio de conseguir um desenvolvimento humano e econômico ambientalmente mais sustentável e viável para um maior número de brasileiros no presente e no futuro.

Do INPE, in EcoDebate, 31/01/2017

domingo, 29 de janeiro de 2017

VAMOS PLANTAR FLORESTAS ?

Guia da Muvuca: Vamos plantar florestas!

Do ISA
Lançado pelo ISA, o Guia da Muvuca, também digital, pretende ajudar quem quiser semear florestas e campos, mostrando o passo a passo da muvuca, como é chamada a mistura de sementes de diferentes espécies para recuperação ambiental de áreas degradadas


Está no ar a nova publicação do Instituto Socioambiental (ISA) para disseminar técnicas de reflorestamento. O Guia da Muvuca traz ilustrações e textos explicativos mostrando todas as etapas da utilização da técnica: desde a coleta de sementes, o planejamento, a preparação do terreno, o plantio, a época melhor para semear, o manejo, o cálculo da quantidade de sementes necessárias, a aquisição de sementes até a colheita. Acesse.

O reflorestamento de áreas degradadas como nascentes e matas ciliares de rios e lagoas, que os técnicos do ISA no Xingu vêm realizando há dez anos, utiliza a técnica da muvuca, uma mistura de sementes de espécies diferentes que se planta de uma só vez, direto na terra. A técnica da semeadura direta para plantar espécies nativas ou não é empregada por agricultores e povos indígenas há séculos e foi incorporada pela Campanha Y Ikatu Xingu, que o ISA e parceiros lançaram no final de 2004 para recuperar matas ciliares nas cabeceiras do Rio Xingu, no Mato Grosso.
As atividades de restauração tiveram início em 2006, e hoje a região contabiliza mais de 3 500 hectares reflorestados. A partir do acúmulo de experiências do ISA ao longo desses 10 anos, e do consenso que existe sobre a urgência de restaurar a vegetação ao redor de nascentes, rios e lagoas, agricultores familiares, grandes agricultores, pecuaristas, povos indígenas e populações urbanas plantam, hoje, espécies nativas nessas áreas.
Todos comprovam os benefícios que a restauração florestal traz aos peixes, pelas frutas e sombra que propicia; aos animais, pelos corredores naturais que formam; ao clima regional e global, pela retenção de água e carbono atmosférico e à qualidade da água, bem finito e necessário à perpetuação da vida.
Além das sementes, a muvuca pode incluir também ervas, arbustos, cipós e árvores, pode-se quebrar a dormência das sementes ou inocula-las, pode-se ou não misturar com terra ou areia e seu plantio pode ser realizado de diferentes formas, mecanizadas ou manuais.

Ilustrações e textos explicam as etapas



A nova publicação do ISA explica como cada espécie presente na muvuca é selecionada em função de sua forma de vida, taxa de germinação, velocidade de crescimento, tempo de vida, tolerância à seca, inundação, geada, fogo, atração à fauna e uso econômico. A quantidade de semente de cada espécie é planejada para que sempre haja plantas em todas as alturas da vegetação, em quantidade suficiente para recobrir toda a área. Em áreas degradadas é interessante misturar também leguminosas para adubação verde.

As sementes nativas estão à venda por diversos fornecedores no Brasil e na Associação Rede de Sementes do Xingu (www.sementesdoxingu.org.br), que produz em organização coletiva 250 espécies de plantas nativas do Cerrado e da Amazônia. Outra opção é a coleta que cada pessoa pode fazer perto do seu local de plantio.

Sementes versus mudas

Restaurar ecossistemas usando sementes, em vez de mudas, apresenta vantagens econômicas, sociais e ambientais que a experiência do ISA em Mato Grosso comprova e a de diversos outros parceiros também. É o caso da Embrapa, UFSCar, USP, Unemat, Ipam, Ansa, CPT, IOV, ICV, Idesam, Aitupiapabra, CI, TNC, ILG, Agropec. Fazenda Brasil, Fazenda Bang-Bang, Gerdau, Fibria, entre outros. O resultado desses plantios se destaca pela quantidade de árvores estabelecidas por m2, pelo recobrimento rápido do terreno, praticidade e baixos custos.


A muvuca começou a ser disseminada no Brasil pelo trabalho do grupo Mutirão Agroflorestal com Ernst Göstch na década de 1980 e 1990, focado até hoje no desenvolvimento e multiplicação de sistemas agroflorestais produtivos. A partir dessas experiências, o ISA e diversos parceiros da Campanha Y Ikatu Xingu começaram em 2006 a testar a técnica em Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legais (RLs), especialmente em áreas de Cerrado e Amazônia no nordeste de Mato Grosso.
Vale lembrar que toda propriedade rural deve ter, além das APPs, que protegem principalmente a água, as nascentes, uma Reserva Legal (RL) proporcional ao tamanho da propriedade. É nela que se deve manter ou recompor a vegetação nativa que pode e deve ser manejada de forma sustentável para aproveitamento econômico.
Os testes deram bons resultados iniciais e a iniciativa se ampliou com a criação da Rede de Sementes do Xingu em 2007, que impulsionou o reflorestamento na região e conta hoje com 420 coletores incluindo indígenas (saiba mais em www.sementesdoxingu.org.br), que produzem mais de 20 toneladas anualmente para restauração.

Como a muvuca se desenvolve ?

O guia mostra que logo após o plantio, a área é recoberta rapidamente por ervas e arbustos que são plantados ao mesmo tempo e por outros arbustos que já haviam no solo. Isso protege as árvores que estão germinando contra ventos fortes, ressecamento do solo, erosão, capivaras, formigas cortadeiras e auxilia a proteger de plantas muito agressivas, como o capim braquiária. Para essa função podemos usar ervas, arbustos, cipós e plantas leguminosas chamadas de adubos verdes.
Quando ervas e trepadeiras de ciclo de vida anual-bianual morrem, arbustos e árvores de crescimento rápido começam a ocupar o espaço deixado por elas Mas esses arbustos e árvores também têm ciclo curto, de alguns anos.
Já quando morrem as árvores de crescimento rápido, são substituídas por árvores de crescimento mais lento e vida mais longa.

Acesse aqui Guia da Muvuca , inspire-se e crie a sua!!

Parceiros e apoiadores

São parceiros no projeto a Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat), a Associação Xingu Araguaia (AXA), a Universidade Federal de São Carlos (UfsCAR), a Rede de Sementes do Xingu e a Embrapa. Os apoiadores são a Fundação Rainforest da Noruega, a EDF (Environmental Defense Fund) e a Fundação Gordon e Betty Moore.
Do ISA – Instituto Socioambiental, in EcoDebate, 19/01/2017

2016 : O ANO MAIS QUENTE DESDE 1880.

O ano de 2016 bateu o recorde de ano mais quente desde 1880

Temperatura global bate recorde e 2016 foi o ano mais quente desde 1880

Da Agência Ansa / ABr
Termômetros registram temperatura alta na região da Central do Brasil durante onda de calor que atinge a cidade do Rio de Janeiro nos últimos dias de inverno. (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Termômetros registram temperatura alta na região da Central do Brasil durante onda de calor que atingiu recentemente o Rio de Janeiro. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
 
O ano de 2016 bateu o recorde de ano mais quente desde 1880, quando foram feitos os primeiros registros históricos da temperatura, informaram nesta quarta-feira (18) cientistas na Nasa e da Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (Noaa, na sigla em inglês). As informações são da Agência ANSA.
Segundo a Noaa, a média da temperatura da superfície da Terra ficou em 0,94ºC acima da média registrada no século 20, de 13,9%. Desde o século 20 o recorde anual de temperatura global foi quebrado cinco vezes: 2005, 2010, 2014, 2015 e 2016. Este é o terceiro ano consecutivo em que o recorde é quebrado.
“Muito do calor recorde sentido no planeta pode ser atribuído ao aumento das temperaturas nos oceanos”, diz o documento se referindo aos efeitos do El Niño, fenômeno caracterizado pela elevada temperatura das águas do oceano Pacífico, sobretudo nos primeiros meses de 2016. Durante o ano passado, os meses de janeiro, março, abril, junho, julho e agosto, estão entre os 12 meses mais quentes em 137 anos. De acordo com a Nasa, “as temperaturas estão atingindo níveis que podem ameaçar nossa civilização”.
Um dos países mais afetados é a Itália, que em 2016, ficou em quarto lugar entre os países mais quentes, com uma temperatura 1,24 graus mais alta que a média para o período. “Estamos enfrentando os efeitos da mudança climática, que se manifestam com um forte impacto sobre a agricultura italiana”, disse em comunicado a Confederação Nacional dos Cultivadores italianos.
Acordo de Paris
Como forma de contrabalançar o problema, também no ano passado entrou em vigor o Acordo de Paris, que é o primeiro esforço global contra as mudanças climáticas que envolve todo o planeta. O acordo tem o objetivo de limitar o aquecimento planetário a menos de 2ºC acima da temperatura média.
Os dados foram divulgados próximo a data em que o republicano Donald Trump assumirá a maior potência mundial, os Estados Unido. Considerado cético, Trump questiona se a mudança climática tem uma causa humana.
in EcoDebate, 19/01/2017


PRIORIDADE NO BRASIL DEVE SER COMBATER A DESIGUALDADE SOCIAL

DESIGUALDADE SOCIAL E O CRESCIMENTO ECONÔMICO.
Após ouvir o ministro da Fazenda brasileiro, Henrique Meirelles, defender a necessidade de adotar amargas reformas, como o governo Michel Temer tem feito no país, a presidente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde  afirmou nesta quarta-feira que a prioridade das políticas econômicas precisa ser o combate à desigualdade social.

O comentário de Lagarde ocorreu durante a participação de ambos em um painel do Fórum Econômico Mundial, que ocorre em Davos, na Suíça.

A informação é publicada por BBC Brasil, 18-01-2017.

Questionado pela moderadora sobre como convencer a classe trabalhadora a aceitar reformas que exigirão dela "grandes sacrifícios", Meirelles havia dito que o Brasil, diferentemente dos países ricos, não tem a tradição de uma classe média sólida, o que tornaria necessário o pacote de medidas - que inclui a instituição de teto para os gastos públicos, afetando áreas como saúde e educação.

"Nos países em desenvolvimento temos uma dinâmica diferente, não temos uma história de classe média crescente ou grande parte da população sendo classe média, como é nos países desenvolvidos. Isso é um fenômeno recente no Brasil", afirmou o ministro.

"Nos últimos quinze anos, vimos a proporção da classe média na população dobrar. E isso aconteceu ao longo da última década. Por causa da recessão que vimos nos últimos anos, essa dinâmica se inverteu, mas isso é um problema de curto prazo", disse Meirelles.

Lagarde respondeu na sequência.

"Não sei por que as pessoas não escutaram a mensagem (de que a desigualdade é nociva), mas certamente os economistas se revoltaram e disseram que não era problema deles. Inclusive na minha própria instituição, que agora se converteu para aceitar a importância da desigualdade social e a necessidade de estudá-la e promover políticas em resposta a ela", afirmou a francesa.

Desigualdade no foco

Meirelles também havia argumentado que os problemas brasileiros são recentes.
"Isso se deve à recessão dos últimos anos e está afetando a classe média e, em particular, a de baixa renda. Em resumo, a saída para uma economia como a brasileira é voltar a crescer de novo, criando empregos novamente e se modernizando abrindo o mercado de forma a se tornar mais eficiente", afirmou.

"Estamos em um outro momento do que as economias ricas. Estamos estabelecendo a classe média, fazendo ela crescer com a abertura da economia", defendeu.

Em sua fala, porém, Lagarde destacou que a desigualdade social precisa estar no centro das atenções dos economistas se eles quiserem um crescimento sustentável e, como consequência, uma classe média forte.

"Nosso argumento é de que, se há excesso de desigualdade, isso é contraprodutivo para o crescimento sustentável ao qual os membros do G-20 aspiram", disse.

"Se quisermos um pedaço maior de torta, precisamos ter uma torta maior para todos, e essa torta precisa ser sustentável. O excesso de desigualdade está colocando travas nesse desenvolvimento sustentável", afirmou, retomando a mensagem central do discurso de abertura que fez no Fórum de 2013.

Desemprego e Quarta Revolução Industrial

Um estudo do próprio FMI de 2013, assinado pelos especialistas Jaejoon WooElva BovaTidiane Kinda e Y. Sophia Zhang, aponta que políticas de controle de gastos públicos resultam na geração de desemprego a curto prazo, o que contribui para a contração da classe média e o aumento do fosso social entre ricos e pobres.
O estudo mostra que pacotes de ajustes fiscais como o adotado pelo Brasil podem ter resultados adversos, dependendo das estratégias escolhidas na gestão pública.

"Pacotes de cortes nos gastos públicos tendem a piorar mais significativamente a desigualdade social, do que pacotes de aumentos de impostos", afirma o levantamento.

Direito de imagem Reuters Image caption Estudo do FMI mostrou que pacotes de ajustes com os implantados por Temer resultam em desemprego

O documento de 2013 revisou políticas de ajuste fiscal executadas durante os últimos 30 anos por países desenvolvidos e em desenvolvimento.

A conclusão foi de que o primeiro reflexo de cortes nos gastos públicos é um aumento do desemprego e consequente aumento da desigualdade social, indicador medido pelo índice Gini - um coeficiente Gini 0 representa a plena igualdade, enquanto que 1 é o máximo de desigualdade.

Na média, um corte nos gastos da ordem de 1% do PIB gera aumento de 0.19 ponto percentual no nível de desemprego durante o primeiro ano, enquanto o aumento da desigualdade no índice Gini oscila de 0,4% a 0,7% nos dois primeiros anos, afirma o estudo.

Em termos amplos, é o desemprego gerado pelo corte nos gastos o grande vilão.

"De forma aproximada, cerca de 15% a 20% do aumento de desigualdade social por conta de pacotes fiscais ocorrem por causa do aumento de desemprego", diz o relatório.

Políticas públicas

No debate em DavosLagarde recomendou a escolha cautelosa de políticas públicas no contexto da quarta revolução industrial, de modo que governos como o do Brasil não olhem apenas para os desafios imediatos da globalização, mas se preparem para o futuro de longo prazo.

"Estamos agora em um momento muito oportuno para colocar em prática as políticas que sabemos que irão funcionar (…)

Um momento de crise, como o ministro (Meirelles) disse, é o momento de avaliarmos as políticas que estão em ação, o que mais podemos fazer, que tipo de medidas tomamos para reduzir a desigualdade social?", questionou a presidente do FMI.
"Qual tipo de redes de apoio social temos para as pessoas? Qual o tipo de educação e treinamento que oferecemos? O que temos em ação para responder não apenas à globalização, mas às tecnologias que irão descontinuar e transformar o ambiente de trabalho no longo prazo?", acrescentou.
"Há coisas que podem ser feitas: reformas fiscais, reformas estruturais e políticas monetárias. Mas elas precisam ser graduais, regionais, focadas em resultados para as pessoas e isso provavelmente significa busca uma maior distribuição de renda do que há no momento", reforçou Lagarde.
À BBC Brasil o professor e ex-ministro do Planejamento e do Trabalho Paulo Paiva afirmou que a produtividade é o grande desafio que o Brasil tem pela frente para a retomada do crescimento e, a julgar pela história recente, os ventos demográficos não estão a favor do país.
"O crescimento econômico é composto de crescimento da força de trabalho e da produtividade. Tivemos dois períodos distintos na nossa história recente: de 1950 a 1980 e de 1980 até hoje", introduziu.
"De 1950 a 1980 a economia brasileira cresceu a uma taxa média de 7% ao ano. Se eu decompor esse número em crescimento da força de trabalho e ganho de produtividade, houve um aumento de 2,8% do PIB por causa da população e 4,2% de ganho de produtividade, que inclui melhor qualificação do trabalhador e ambiente de trabalho."
"De 1980 pra cá, decompondo o crescimento da mesma forma, 0,9% se de deu pelo aumento da população e 1,5% pelo ganho de produtividade. Então isso dá 2,4% de crescimento médio anual do PIB", acrescentou.
"O problema é que a partir de 2015-30 a população não vai mais crescer, então se o Brasil não fizer nada (para aumentar o ganho de produtividade) está fadado a um crescimento de 1,5% ao ano. Essa é a visão mais dramática que temos pela frente e você pode imaginar o impacto dessa quarta revolução industrial numa situação dessa."

Vendendo o Brasil

Depois do painel, Meirelles participou de entrevista coletiva em conjunto com o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn.
No encontro com a imprensa, ele buscou vender a ideia de que o Brasil está em plena recuperação - e de que é um bom momento para investidores estrangeiros aportarem no país.
O ministro reforçou que as reformas da Previdência e trabalhista irão permitir ao Brasil se beneficiar ainda mais da globalização.
"No caso dos emergentes, a globalização foi definitivamente positiva. No caso do Brasil especificamente, o que precisamos fazer é reformar a economia para obtermos maiores vantagens da globalização, porque esse não foi o caso até o momento", afirmou.
"O crescimento brasileiro no passado foi muito baseado no mercado doméstico. Temos que aproveitar melhor a globalização como outros emergentes o fizeram, e estamos caminhando nessa direção."
O Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, fez questão de apontar que o Brasil têm reservas da ordem de 20% do seu PIB e deverá utilizar esse recurso para manter as taxas cambiais dentro do esperado, amortecendo qualquer ataque ou volatilidade inesperada em relação ao real.
Direito de imagem AFP Image caption Meirelles participou de coletiva em Davos, onde vendeu ideia de que Brasil está em plena recuperação
Meirelles também afirmou que a entrada de capital estrangeiro continua forte e que, diferentemente de outros emergentes, não se desenha no horizonte brasileiro o risco de uma fuga de capitais, conclusão que pesou para a decisão de cortar em 0,75 ponto percentual a Selic (taxa básica de juros) anunciada na semana passada.
"Não estamos vendo uma saída de capital que exija que o Brasil use suas reservas para segurar o valor de sua moeda. Muito pelo contrário, estamos em uma posição equilibrada. Estamos em uma recuperação econômica", afirmou.
"Apenas para dar os números que sustentam isso: o investimento estrangeiro direto no país está próximo de 4,4% do PIB e o deficit de conta corrente é de pouco mais de 1,1%, então há uma grande diferença, um é quatro vezes maior que outro", concluiu Goldfajn.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos.