segunda-feira, 14 de agosto de 2017

DEFENDER OS BIOMAS.NÃO PODEMOS ABDICAR DE NOSSA TAREFA.

Defender os biomas brasileiros. ‘Não podemos abdicar de nossa tarefa’, alerta Roberto Malvezzi (Gogó)


IHU

Biomas Brasileiros
Biomas Brasileiros. Imagem: EBC

A riqueza e a biodiversidade nos biomas brasileiros são imensas, mas os desafios frente a sua sistemática dilapidação são gigantescos. Buscar alternativas a esse sistema predatório é mais que urgente. “Não podemos abdicar de nossa tarefa”, afirma o ambientalista Roberto Malvezzi (Gogó), filósofo, teólogo, escritor e compositor. Trata-se de alguém forjado na luta que, desde inícios dos anos 1980, enraizou-se no nordeste brasileiro. Reside em Juazeiro, na Bahia, mas percorre todo o país, promovendo encontros, debates e oficinas. Com longa passagem pela Comissão Pastoral da Terra e sempre muito ativo no trabalho de assessoria junto à CNBB, atualmente, está empenhado no fortalecimento das ações da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM)
Roberto Malvezzi esteve em Curitiba, no último sábado, dia 05, para o 4º encontro pelo ciclo de debates Brasil: conjuntura, dilemas e possibilidades. Discorreu sobre o tema Análise dos biomas brasileiros: da biodiversidade à espoliação. O ciclo é promovido pelo CEPAT, em parceria com o Núcleo de Direitos Humanos da PUCPR, Cáritas Regional Paraná e apoio do IHU.
Em sintonia com a Campanha da Fraternidade deste ano, cujo tema é Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida e o lema: Cultivar e guardar a Criação, refletiu-se a respeito da vital importância de se conhecer, preservar e lutar em defesa dos biomas. No atual estágio da exploração capitalista, é preciso vencer a cegueira e passar a enxergar que todas as formas de vida são interdependentes, estão interligadas e que uma necessita da outra. É preciso superar a visão fragmentada e, para além dos discursos de conveniência, incorporar o debate ambiental na agenda de luta pelos direitos, principalmente na agenda daqueles que estão inseridos nas causas populares e de esquerda. O debate ambiental não pode ser um apêndice ou, simplesmente, algo alheio aos projetos que se pensa para as sociedades atuais e vindouras.
Malvezzi não iniciou sua fala a partir dos imensos desafios atuais frente à espoliação de nossos biomas, mas, sim, resgatando o sentido mais profundo da vida, que é o mistério. Para além de todos os avanços científicos, a vida segue sendo um mistério. Diante de tal mistério, cabe a reverência profunda, o respeito e a acolhida de tal gratuidade.
Tendo isto presente, Malvezzi trouxe a definição de bioma: “um conjunto organizado de vidas, em um espaço contínuo, com clima semelhante, com solo semelhante e relevo semelhante”. Em seguida, destacou elementos acerca dos seis biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa. E retomando Darcy Ribeiro, fez questão de enfatizar a riqueza étnica e cultural do povo brasileiro nesses seis biomas, ressaltando a resistência das comunidades tradicionais: índios, quilombolas, ribeirinhos, etc.
Um dos grandes desafios de um país tão rico em biodiversidade como o Brasil, mas ao mesmo tempo com intensa concentração demográfica nas áreas urbanas, é fazer com que aqueles que vivem cotidianamente nas cidades compreendam que também pertencem a um bioma e que a preservação deste é vital para a continuidade da vida de todos. “Muitos só se lembram da importância da água, quando a mesma falta em sua torneira”, lembrou Malvezzi, ao destacar como a preocupação com a preservação de nossos biomas ainda passa distante das inquietações ordinárias das pessoas.
O ciclo das águas brasileiras é apenas um dos exemplos apresentados acerca da centralidade dos biomas brasileiros. A partir dele, Malvezzi enfatizou como os biomas brasileiros são interdependentes para a produção de chuvas: “Sem a Amazônia não há produção de chuvas. Sem o cerrado não há aquíferos para abastecer as bacias brasileiras. Sem a Amazônia ou o Cerrado não há o Rio São Francisco tal qual o conhecemos. Sem a Amazônia e o Cerrado a região sudeste (área de maior concentração urbana do país) se transforma em deserto”.
Abaixo, indicamos o vídeo apresentado por Roberto Malvezzi, no qual o pesquisador Antonio Donato Nobre, autor do relatório O Futuro Climático da Amazônia, explica como e por que os Rios Voadores são ligados às florestas nativas, e qual as consequências benéficas para o ciclo hidrológico da América do Sul.
(EcoDebate, 10/08/2017) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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