terça-feira, 5 de setembro de 2017

COREIA DO NORTE : GUERRA E ECONOMIA

O que uma guerra da Coreia do Norte pode causar na economia

A economia da Coreia do Norte é minúscula e fechada, mas a da Coreia do Sul é o oposto disso - e um conflito entre elas afetaria o mundo, diz relatório


São Paulo – A tensão entre Estados Unidos e Coreia do Norte subiu de temperatura na última semana.
Apesar do foco (e do medo) global estar no embate verbal entre os dois líderes imprevisíveis, um conflito real provavelmente ficaria restrito entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul.
A primeira é uma das menores e mais fechadas economias do planeta e a segunda é o oposto disso.
Em relatório recente assinado por Gareth Leather, economista sênior para Ásia, a consultoria britânica Capital Economics reflete sobre o que aconteceria com a economia em caso de conflito.
A Coreia do Norte não precisaria nem recorrer ao seu arsenal nuclear para afetar sua vizinha, já que seu exército de 700 mil homens seria capaz de fazer um bom estrago sozinho.
O alvo privilegiado seria Seul, a capital sul-coreana, que está a apenas 56 quilômetros da fronteira e reúne um quinto da população e da economia do país.
A Coreia do Sul é a nona maior economia do mundo e responde por cerca de 2% do PIB global.
Ou seja: se seu PIB cair pela metade, o do mundo cai 1% – e este não é um número exagerado. Na Síria, por exemplo, a guerra que já dura 5 anos derrubou o PIB em 60%.
O mais devastador conflito em termos econômicos desde a Segunda Guerra Mundial foi justamente a Guerra da Coreia (1950-1953), que matou 1,2 milhão de pessoas e derrubou o PIB do país em 80%.
Desta vez, são as repercussões globais que seriam maiores porque desde então a Coreia do Sul se integrou fortemente com cadeias de valor e de fornecimento globais.
Uma comparação possível é com as inundações da Tailândia em 2011, que causaram uma escassez de meses em fábricas automotivas e eletrônicas de vários países.
A Coreia do Sul exporta três vezes mais bens intermediários do que a Tailândia e sedia as três maiores fabricantes de navios do mundo, além de empresas como Samsung e LG.
O país também é o maior produtor mundial de telas de cristal líquido, com 40% do mercado, e o segundo maior produtor de semicondutores, com participação de 17%.
A previsão da Capital Economics é que as empresas que usam estes produtos, como a Apple, não teriam como substituir fornecedores rapidamente, o que causaria aumento generalizado nos preços de eletrônicos.
A incerteza geral também derrubaria os mercados financeiros, o que poderia levar à intervenção de bancos centrais, e estimularia a busca por ativos seguros como ouro.
O franco suíço, procurado em tempos de turbulência, teve a sua maior alta em um ano em relação ao euro justo após a confirmação do último teste e dos comentários explosivos de Trump.
Com o tempo, outros países absorveriam a produção perdida na Coreia, com Taiwan e China como “óbvios candidatos”, até que começasse o processo de reconstrução.
Uma fábrica de semicondutores demora de dois a quatro anos para ser construída, e precisaria ser precedida por toda a infraestrutura comum (água, luz, estrada, etc) potencialmente destruída em um conflito.
A previsão oficial do Pentágono é que uma guerra na península coreana seria curta e não tão destrutiva, mas eles já erraram antes.
Um exemplo é a guerra do Iraque, que deveria ter custado US$ 60 bilhões e acabou saindo por US$ 1 trilhão. Se a reconstrução sul-coreana precisar ser feita com dinheiro americano, a dívida do país (que já é alta) poderia subir até 30%.
Se por acaso a guerra culminar na queda do regime de Kim Jong Un e uma união entre as duas Coreias, há custos e oportunidades, diz o relatório da Capital.
A estimativa oficial da Coreia do Sul é que reconstruir a economia da vizinha e evitar uma migração em massa custaria US$ 1 trilhão – duas ou três vezes mais do que custou a reunificação alemã, segundo estimativas.
Mas uma Coreia do Sul pacificada também poderia gastar menos em defesa e ter acesso às matérias-primas presentes no Norte, além de contar com uma população de jovens para balancear sua força de trabalho que envelhece rapidamente.
Fonte : Revista Exame

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