terça-feira, 19 de setembro de 2017

A FOME NO MUNDO ESTÁ EM ASCENSÃO

Depois de uma década de queda, a fome volta a crescer no mundo, afirma novo relatório da ONU


Após um declínio constante por mais de uma década, a fome no mundo está novamente em ascensão, impulsionada por conflitos e mudanças climáticas. Em 2016, a fome afetou 815 milhões de pessoas ou 11% da população global.
Os dados constam na nova edição do relatório anual das Nações Unidas sobre segurança alimentar e nutricional. O documento alertou também que múltiplas formas de má nutrição ameaçam a saúde de milhões de pessoas em todo o mundo.
Metade da população centro-africana passa fome devido à intensificação de conflitos internos, desde setembro de 2015. Foto: ACNUR / H. Caux
Metade da população centro-africana passa fome devido à intensificação de conflitos internos, desde setembro de 2015. Foto: ACNUR / H. Caux
Após um declínio constante por mais de uma década, a fome no mundo está novamente em ascensão e, em 2016, afetou 815 milhões de pessoas ou 11% da população global. Os dados estão na nova edição do relatório anual das Nações Unidas sobre segurança alimentar e nutricional, lançado nesta sexta-feira (15). O documento alertou também que múltiplas formas de má nutrição ameaçam a saúde de milhões de pessoas em todo o mundo.
Esse aumento — de mais 38 milhões de pessoas em relação ao ano anterior — deve-se, em grande parte, à proliferação de conflitos violentos e mudanças climáticas, revelou o estudo “The State of Food Security and Nutrition in the World 2017” (O estado da segurança alimentar e da nutrição no mundo em 2017).
De acordo com o estudo, cerca de 155 milhões de crianças com menos de 5 anos sofrem com atraso no crescimento (estatura baixa para a idade), enquanto 52 milhões estão com peso abaixo do ideal para a estatura.
Estima-se que 41 milhões de crianças estejam com sobrepeso. A anemia entre as mulheres e a obesidade adulta também são motivos de preocupação. Essas tendências são consequências não só dos conflitos e das mudanças climáticas, mas também das profundas alterações nos hábitos alimentares e crises econômicas.
É a primeira vez que a Organização das Nações Unidas (ONU) realiza uma avaliação global sobre segurança alimentar e nutricional após a adoção da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, cujo objetivo é acabar com a fome e com todas as formas de má nutrição até 2030, sendo essa uma das principais prioridades das políticas internacionais.
O documento aponta os conflitos — cada vez mais agravados pelas mudanças climáticas — como um dos principais motivos para o ressurgimento da fome e de muitas formas de má nutrição.
“Na última década, o número de conflitos tem aumentado de forma dramática e se tornaram mais complexos e insolúveis pela natureza”, afirmaram os membros da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), do Programa Mundial de Alimentos (PMA) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), em prólogo conjunto publicado no relatório.
Os dirigentes da ONU dizem, ainda, que esse cenário não pode ser ignorado. “Não vamos acabar com a fome e com todas as formas de má nutrição até 2030, a menos que abordemos todos os fatores que prejudicam a segurança alimentar e a nutrição no mundo. Garantir sociedades pacíficas e inclusivas é uma condição necessária para atingirmos esse objetivo”, declararam.
A fome atingiu algumas partes do Sudão do Sul por vários meses no início de 2017, e há um alto risco de que ela possa se repetir, além de surgir em outros locais afetados pelo conflito, a saber, o nordeste da Nigéria, a Somália e o Iêmen, observaram.
Especialistas indicam que, além da violência que sofrem algumas regiões, as secas ou inundações — ligadas em parte ao fenômeno El Niño —, assim como a desaceleração econômica mundial, também colaboraram para o agravamento mundial da segurança alimentar e da nutrição.

Principais dados

Fome e segurança alimentar
O número total de pessoas com fome no mundo é de 815 milhões:
– Na Ásia: 520 milhões
– Na África: 243 milhões
– Na América Latina e no Caribe: 42 milhões
Porcentagem da população mundial vítima da fome: 11%
– Ásia: 11,7%
– África: 20% (Na África Ocidental: 33,9%)
– América Latina e Caribe: 6,6%
Má nutrição em todas as suas formas
– Crianças menores de 5 anos que sofrem com atraso no crescimento (estatura baixa para idade): 155 milhões;
– Desses, os que vivem em países afetados por distintos níveis de conflitos: 122 milhões;
– Crianças menores de 5 anos que estão com o peso abaixo do ideal para a estatura: 52 milhões;
– Número de adultos obesos: 641 milhões (13% do total de adultos do planeta);
– Crianças menores de 5 anos com sobrepeso: 41 milhões;
– Mulheres em idade reprodutiva afetadas por anemia: 613 milhões (cerca de 33% do total).
Impactos dos conflitos
– Das 815 milhões de pessoas que sofrem com a fome do planeta, 489 milhões vivem em países afetados por conflitos;
– A prevalência da fome nos países afetados por conflitos varia entre 1,4% e 4,4% a mais que em outros países;
– No contexto de conflitos agravados pelas condições de fragilidade institucional e ambiental, essa prevalência é de entre 11 e 18 pontos percentuais a mais
– Pessoas que vivem em países afetados por crises prolongadas têm quase 2,5 mais chances de padecer com a subnutrição do que as que vivem em outros lugares
Relatório sobre segurança alimentar e nutricional
Esta é a primeira vez que o UNICEF e a OMS se unem a FAO, ao FIDA e ao PMA para preparar um relatório sobre o estado da segurança alimentar e nutricional no mundo.
Essa mudança é reflexo da perspectiva ampliada estabelecida pela agenda dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) sobre a fome e todas as formas de má nutrição. A Década de Ação das Nações Unidas sobre Nutrição, estabelecida em Assembleia Geral, atenta para o esforço dos governos em fixar metas e investir em medidas para abordar as múltiplas dimensões da má nutrição.
O relatório foi remodelado para adaptação aos ODS, com melhores medições para quantificar e avaliar a fome, a inclusão de indicadores sobre a segurança alimentar e seis indicadores sobre nutrição.

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