quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E OS RECIFES DE CORAIS.

Mudanças Climáticas: Recifes de coral no mundo enfrentam "futuro extremamente sombrio"



Mudanças climáticas – Reunião no Egito pede ações urgentes para travar o problema; situação pode persistir mesmo com níveis de aquecimento global em 1,5º Celsius acima dos níveis pré-industriais, até 90% dos recifes de coral serão perdidos nas próximas décadas.

ONU News
Reunião no Egito pede ações urgentes para travar o problema; situação pode persistir mesmo com níveis de aquecimento global em 1,5º Celsius acima dos níveis pré-industriais, até 90% dos recifes de coral serão perdidos nas próximas décadas.
Representantes de mais de 100 países que fazem parte da Convenção sobre Diversidade Biológica, CDB, estão reunidos até esta quinta-feira em Sharm El Sheikh, no Egito. O objetivo é iniciar um processo de dois anos para adotar uma estrutura global que proteja a biodiversidade, incluindo os recifes de coral.
Os dados mais recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, Ipcc, estimam que mesmo que as ações necessárias sejam tomadas para manter o aquecimento global em 1,5º Celsius acima dos níveis pré-industriais, 70% a 90% dos corais serão perdidos nas próximas décadas.

Relatório do Ipcc destaca que falta ações em relação à mudança climática. Foto: Dia Mundial dos Oceanos/Gaby Barathieu
Relatório do Ipcc destaca que falta ações em relação à mudança climática. Foto: Dia Mundial dos Oceanos/Gaby Barathieu

Ações Urgentes

Os recifes de coral fornecem alimento e meios de subsistência para centenas de milhares de pessoas no mundo e mais de um quarto da vida marinha depende deles. Esses ecossistemas também fornecem proteção de desastres naturais para comunidades e áreas costeiras. De acordo com a ONU Meio Ambiente, se “ações urgentes não forem tomadas, eles serão perdidos para sempre.”
O encontro anunciará uma nova coalizão formada por organizações de conservação intergovernamentais e internacionais além de fundações privadas. A mensagem do grupo é de que é preciso uma “liderança ousada para salvar os recifes de coral da quase extinção até a metade do século.”

Parceria

Entre a nova parceria estão diversas organizações, incluindo a ONU Meio Ambiente, a Iniciativa Internacional para os Recifes de Coral e o Fundo Mundial para a Natureza, WWF. A coalizão pretende aumentar a consciência sobre a crise dos recifes de coral e apelar para que os governos tomem as medidas necessárias.
O diretor da ONU Meio Ambiente, Erik Solheim, disse que “no momento as explosões de cores e vida que ficam no fundo no mar enfrentam um futuro extremamente sombrio, e que as expectativas em relação à coalizão não poderiam ser maiores.” Solheim acrescentou que “a proteção dos recifes de corais precisa se tornar uma prioridade mundial.”

Coalizão pretende aumentar consciência sobre crise dos recifes de coral e apelar para que governos tomem medidas necessárias
Coalizão pretende aumentar consciência sobre crise dos recifes de coral e apelar para que governos tomem medidas necessárias

Kadir van Lohuizen/NOOR/ONU Meio Ambiente

Ameaças

O relatório do Ipcc destaca que a falta de ações em relação à mudança climática resultará em perdas ainda maiores dos recifes de coral. Porém, a redução de ameaças não climáticas tem o potencial de melhorar a recuperação mais resiliente após impactos como eventos de branqueamento.
Práticas contra estas ameaças também podem ajudar a conservar os ecossistemas na medida em que eles enfrentam um estresse térmico sem precedentes.
De acordo com a ONU Meio Ambiente, a mudança climática não é a única ameaça que os recifes de coral enfrentam. A pesca excessiva, a poluição e o desenvolvimento costeiro também causaram grandes perdas nos últimos 30 anos.

Da ONU News, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/11/2018

23% DOS JOVENS BRASILEIROS NÃO TRABALHAM NEM ESTUDAM.

Pesquisa do Ipea revela que 23% dos jovens brasileiros não trabalham e nem estudam (jovens nem-nem)


Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que 23% dos jovens brasileiros não trabalham e nem estudam (jovens nem-nem), na maioria mulheres e de baixa renda, um dos maiores percentuais de jovens nessa situação entre nove países da América Latina e Caribe. Enquanto isso, 49% se dedicam exclusivamente ao estudo ou capacitação, 13% só trabalham e 15% trabalham e estudam ao mesmo tempo.
ABr
As razões para esse cenário, de acordo com o estudo, são problemas com habilidades cognitivas e socioemocionais, falta de políticas públicas, obrigações familiares com parentes e filhos, entre outros. No mesmo grupo estão o México, com 25% de jovens que não estudam nem trabalham, e El Salvador, com 24%. No outro extremo está o Chile, onde apenas 14% dos jovens pesquisados estão nessa situação. A média para a região é de 21% dos jovens, o equivalente a 20 milhões de pessoas, que não estudam nem trabalham.
O estudo Millennials na América e no Caribe: trabalhar ou estudar? sobre jovens latino-americanos foi lançado hoje (3) durante um seminário no Ipea, em Brasília. Os dados envolvem mais de 15 mil jovens entre 15 e 24 anos de nove países: Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Haiti, México, Paraguai, Peru e Uruguai.

Nem-nem

De acordo com a pesquisa, embora o termo nem-nem possa induzir à ideia de que os jovens são ociosos e improdutivos, 31% dos deles estão procurando trabalho, principalmente os homens, e mais da metade, 64%, dedicam-se a trabalhos de cuidado doméstico e familiar, principalmente as mulheres. “Ou seja, ao contrário das convenções estabelecidas, este estudo comprova que a maioria dos nem-nem não são jovens sem obrigações, e sim realizam outras atividades produtivas”, diz a pesquisa.
Apenas 3% deles não realizam nenhuma dessas tarefas nem têm uma deficiência que os impede de estudar ou trabalhar. No entanto, as taxas são mais altas no Brasil e no Chile, com aproximadamente
Candidatos aguardam abertura do portões do UniCEUB em Brasília, para o primeiro dia de provas do Enem 2018
Pesquisadora diz que os jovens que não trabalham nem estudam não são preguiçosos, mas jovens que têm acesso à uma educação de baixa qualidade – Arquivo/Agência Brasil
10% de jovens aparentemente inativos.
Para a pesquisadora do Ipea Joana Costa, os resultados são bastante otimistas, pois mostra que os jovens não são preguiçosos. “Mas são jovens que têm acesso à educação de baixa qualidade e que, por isso, encontram dificuldade no mercado de trabalhos. De fato, os gestores e as políticas públicas têm que olhar um pouco mais por eles”, alertou.

Políticas públicas

A melhora de serviços e os subsídios para o transporte e uma maior oferta de creches, para que as mulheres possam conciliar trabalho e estudo com os afazeres domésticos, são políticas que podem ser efetivadas até no curto prazo, segundo Joana.
Com base nas informações, os pesquisadores indicam ainda a necessidade de investimentos em treinamento e educação e sugerem ações políticas para ajudar os jovens a fazer uma transição bem-sucedida de seus estudos para o mercado de trabalho.
Considerando a incerteza e os níveis de desinformação sobre o mercado de trabalho, para eles [jovens] é essencial fortalecer os sistemas de orientação e informação sobre o trabalho e dar continuidade a políticas destinadas a reduzir as limitações à formação de jovens, com programas como o Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). “Os programas de transferências condicionadas e bolsas de estudo obtiveram sucesso nos resultados de cobertura”, diz o estudo.
De acordo com o Ipea, o setor privado também pode contribuir para melhorar as competências e a empregabilidade dos jovens, por meio da adesão a programas de jovens aprendizes e incentivo ao desenvolvimento das habilidades socioemocionais requeridas pelos empregadores, como autoconfiança, liderança e trabalho em equipe.
No Brasil, por exemplo, segundo dados apresentados pelo Ipea, há baixa adesão ao programa Jovem Aprendiz. De 2012 a 2015, o número de jovens participantes chegou a 1,3 milhão, entretanto esse é potencial anual de jovens aptos para o programa.
É preciso ainda redobrar os esforços para reduzir mais decisivamente a taxa de gravidez de adolescentes e outros comportamentos de risco fortemente relacionados com o abandono escolar entre as mulheres e uma inserção laboral muito precoce entre os homens.

Conhecimento e habilidades

As oportunidades de acesso à educação, os anos de escolaridade média, o nível socioeconômico e outros elementos, como a paternidade precoce ou o ambiente familiar, são alguns dos principais fatores que influenciam a decisão dos jovens sobre trabalho e estudo, de acordo com a pesquisa. Em todos os países, a prevalência de maternidade ou paternidade precoce é maior entre os jovens fora do sistema educacional e do mercado de trabalho.
A pesquisa traz variáveis menos convencionais, como as informações que os jovens têm sobre o funcionamento do mercado de trabalho, suas aspirações, expectativas e habilidades cognitivas e socioemocionais. Para os pesquisadores, os jovens não dispõem de informações suficientes sobre a remuneração que podem obter em cada nível de escolarização, o que poderia levá-los a tomar decisões erradas sobre o investimento em sua educação. No caso do Haiti e do México, essa fração de jovens com informações tendenciosas pode ultrapassar 40%.
A pesquisa aponta ainda que 40% dos jovens não são capazes de executar cálculos matemáticos muito simples e úteis para o seu dia a dia e muitos carecem de habilidades técnicas para o novo mercado do trabalho. Mas há também resultados animadores. Os jovens analisados, com exceção dos haitianos, têm muita facilidade de lidar com dispositivos tecnológicos, como também têm altas habilidades socioemocionais. Os jovens da região apresentam altos níveis de autoestima, de autoeficácia, que é a capacidade de se organizar para atingir seus próprios objetivos, e de perseverança.
De acordo com a pesquisa, os atrasos nas habilidades cognitivas são importantes e podem limitar o desempenho profissional dos jovens, assim como a carências de outras características socioemocionais relevantes, como liderança, trabalho em equipe e responsabilidade. Soma-se a isso, o fato de que 70% dos jovens que trabalham são empregados em atividades informais. Entre aqueles que estão dentro do mercado formal há uma alta rotatividade de mão de obra, o que desmotiva o investimento do empregador em capacitação.

Realidade brasileira

No Brasil há cerca de 33 milhões de jovens com idade entre 15 e 24 anos, o que corresponde a mais de 17% da população. Segundo a pesquisadora do Ipea Enid Rocha, o país vive um momento de bônus demográfico, quando a população ativa é maior que a população dependente, que são crianças e idosos, além de estar em uma onda jovem, que é o ápice da população jovem.
“É um momento em que os países aproveitam para investir na sua juventude. Devemos voltar a falar das políticas para a juventude, que já foram mais amplas, para não produzir mais desigualdade e para que nosso bônus demográfico não se transforme em um ônus”, disse.
Além das indicações constantes no estudo, Enid também destaca a importância de políticas de saúde específica para jovens com problemas de saúde mental, traumas e depressão.
A pesquisa foi realizada em parceria do Ipea com a Fundación Espacio Público, do Chile, o Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento Internacional (IRDC), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com apoio do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG).
A pesquisa completa, em espanhol, está disponível na página do BID. Acesse aqui o sumário executivo da pesquisa, em português.
Por Andreia Verdélio, da Agência Brasil , in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 04/12/2018

PERDA SUBSTANCIAL DE ÁGUA NAS BACIAS SEM ACESSO AO MAR.

Cientistas revelam perda substancial de água nas bacias sem acesso ao mar (Bacias Endorréicas)


Juntamente com o aquecimento do clima e a intensificação das atividades humanas, o recente armazenamento de água nas bacias sem acesso ao mar (Bacias Endorréicas) do mundo sofreu um declínio generalizado.

Um novo estudo revela que esse declínio agravou o estresse hídrico local e causou potencial aumento do nível do mar.
Kansas State University*
O estudo, “Recent Global Decline in Endorheic Basin Water Storage“, foi realizado por uma equipe de cientistas de seis países e aparece na edição atual da Nature Geoscience.
“Os recursos hídricos são extremamente limitados no interior do continente, onde a vazão não chega ao oceano. Cientificamente, essas regiões são chamadas de bacias endorréicas”, disse Jida Wang , geógrafa da Universidade Estadual do Kansas e principal autora do estudo.
“Nas últimas décadas, temos visto evidências crescentes de perturbações no balanço hídrico endorréico”, disse Wang, professor assistente de geografia. “Isso inclui, por exemplo, o mar Aral, o aquífero árabe empobrecido e as geleiras eurasianas em recuo. Essa evidência nos motivou a perguntar: o armazenamento total de água no sistema endorréico global, cerca de um quinto da superfície continental, está sendo um declínio líquido?
Usando observações de gravidade dos satélites GRACE, da NASA / German Aerospace Center, Wang e seus colegas quantificaram uma perda líquida de água em bacias endorréicas globais de aproximadamente 100 bilhões de toneladas de água por ano desde o início do atual milênio. Isso significa que uma massa de água equivalente a cinco Grandes Lagos Salgados ou três Lago Meads se foi todo ano nas áridas regiões endorreicas.
Surpreendentemente, essa quantidade de perda endorréica de água é o dobro da taxa de mudanças simultâneas de água em toda a massa terrestre restante, exceto Groenlândia e Antártida, disse Wang. Ao contrário das bacias endorréicas, as regiões restantes são exorréicas, o que significa que a vazão proveniente dessas bacias drena para o oceano. As bacias exorréicas são responsáveis ??pela maior parte da superfície continental e abrigam muitos dos maiores rios do mundo, como o Nilo, o Amazonas, o Yangtze e o Mississippi.
Wang observou que a assinatura de mudanças no armazenamento de água em bacias exoréicas se assemelha a algumas oscilações proeminentes do sistema climático, como El Niño e La Niña, em ciclos de vários anos. No entanto, a perda de água nas bacias endorreicas parece menos responsiva a essa variabilidade natural a curto prazo. Esse contraste pode sugerir um profundo impacto das condições climáticas de longo prazo e da gestão direta da água humana, como desvio de rios, represamento e retirada de água subterrânea, no balanço hídrico no interior seco.
Essa perda de água endorréica tem ramificações duplas, de acordo com os pesquisadores. Não apenas agrava o estresse hídrico nas regiões áridas endorreicas, mas também pode contribuir para um fator significativo de preocupação ambiental global: aumento do nível do mar. O aumento do nível do mar é o resultado de duas causas principais: a expansão térmica da água do mar como resultado do aumento da temperatura global e a massa adicional de água para o oceano.
“A hidrosfera é conservada em massa”, disse Chunqiao Song., pesquisador do Instituto de Geografia e Limnologia de Nanjing, da Academia Chinesa de Ciências e co-autor do estudo. “Quando o armazenamento de água nas bacias endorreicas está em défice, a massa de água reduzida não desaparece. Foi realocada principalmente através do fluxo de vapor para o sistema exorrético. Uma vez que esta água já não está encravada no mar, tem o potencial de afetar o orçamento do nível do mar. ”
Apesar de um período de observação de 14 anos, a perda de água endorréica equivale a uma elevação adicional do nível do mar de 4 milímetros, descobriu o estudo. Os pesquisadores disseram que esse impacto não é trivial. É responsável por aproximadamente 10% do aumento do nível do mar observado durante o mesmo período; compara-se a quase metade da perda simultânea em geleiras de montanha, excluindo a Groenlândia e a Antártida; e corresponde a toda a contribuição do consumo global de água subterrânea.
“Não estamos dizendo que a recente perda de água endorreica acabou completamente no oceano”, disse Yoshihide Wada., vice-diretor do programa de água do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados na Áustria e co-autor do estudo. “Em vez disso, estamos mostrando uma perspectiva de quão substancial foi a recente perda endorréica de água. Se ela persistir, além da escala temporal decadal, o excedente de água adicionado ao sistema exorréico pode significar uma importante fonte de aumento do nível do mar.”
Ao sinergizar observações de satélites multi-missão e modelagem hidrológica, Wang e seus colegas atribuíram essa perda de água endorréica global a contribuições comparáveis da superfície – como lagos, reservatórios e glaciares – bem como a umidade do solo e aquíferos.
“Tais perdas comparáveis são, no entanto, uma agregação de variações regionais distintas”, disse Wang. “Na Eurásia Central endorreica, por exemplo, cerca de metade da perda de água veio da superfície, particularmente grandes lagos terminais, como o Mar de Aral, o Mar Cáspio e o Lago Urmia, e as geleiras recuando na Alta Montanha da Ásia.”
Embora o recuo dos glaciares tenha sido uma resposta ao aquecimento da temperatura, as perdas de água nos lagos terminais foram um resultado combinado de secas meteorológicas e desvios de água a longo prazo dos rios de alimentação.
A perda líquida de água no Saara endorreico e na Arábia, por outro lado, foi dominada pela retirada insustentável das águas subterrâneas, de acordo com os pesquisadores. Na América do Norte endorreica, incluindo a Grande Bacia dos EUA, uma perda de umidade do solo induzida pela seca provavelmente foi responsável pela maior parte da perda de água na região. Apesar de um menor grau, a perda de água superficial no Grande Lago Salgado e no Mar Salton foi de uma taxa substancial de 300 milhões de toneladas por ano, que foi parcialmente induzida pela mineração mineral e irrigação baseada em desvio.
“As perdas de água das bacias endorréicas do mundo são outro exemplo de como as mudanças climáticas estão secando ainda mais as regiões áridas e semi-áridas do globo já secas. Enquanto isso, atividades humanas como a depleção de água subterrânea estão acelerando significativamente essa secagem “, disseJay Famiglietti , diretor do Instituto Global de Segurança da Água, Canadá 150 cadeira de pesquisa em hidrologia e sensoriamento remoto na Universidade de Saskatchewan, Canadá e co-autor do estudo.
Wang disse que a equipe quer transmitir três mensagens de suas pesquisas.
“Primeiro, o armazenamento de água no sistema endorreico, embora limitado em massa total, pode dominar a tendência de armazenamento de água em toda a superfície terrestre durante pelo menos os prazos decadais”, disse Wang. Segundo, a recente perda de água endorreica é menos sensível à variabilidade natural do sistema climático, sugerindo uma possível resposta às condições climáticas de longo prazo e à gestão hídrica humana.
“Em terceiro lugar, essa perda de água no sistema endorréico tem ramificações duplas, tanto para a sustentabilidade regional da água quanto para a elevação global do nível do mar”, disse ele. “Essas mensagens destacam a importância subestimada das bacias endorreicas no ciclo da água e a necessidade de uma melhor compreensão das mudanças no armazenamento de água no interior do mundo.”

Esta ilustração mostra as mudanças no armazenamento de água terrestre nas bacias endorreicas globais
Esta ilustração mostra as mudanças no armazenamento de água terrestre nas bacias endorreicas globais das observações do satélite GRACE, abril de 2002 a março de 2016. Na imagem superior, as tendências de armazenamento de água terrestre – em milímetros de espessura de água equivalente por ano – para cada unidade endorreica são destacadas, seguido por anomalias animadas mensais de armazenamento de água terrestre, também em milímetros. A imagem de baixo mostra anomalias líquidas mensais de armazenamento de água terrestre em gigatoneladas, em sistemas endorréicos e exoréicos globais – excluindo Groenlândia, Antártica e os oceanos – e ligação ao El Niño-Oscilação Sul, eixo direito. As anomalias de armazenamento de água terrestre são relativas à linha de base média de tempo em cada unidade ou sistema, com remoção da sazonalidade. Para comparação, 360 gigatoneladas de armazenamento de água terrestre equivalem a 1 milímetro de equivalente do nível do mar.
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Referência
Recent global decline in endorheic basin water storages
Jida Wang, Chunqiao Song, John T. Reager, Fangfang Yao, James S. Famiglietti, Yongwei Sheng, Glen M. MacDonald, Fanny Brun, Hannes Müller Schmied, Richard A. Marston & Yoshihide Wada
Nature Geosciencevolume 11, pages926–932 (2018)
DOI https://doi.org/10.1038/s41561-018-0265-7

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/12/2018

REÚSO POTÁVEL DE ÁGUA NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO E EM OUTROS PAÍSES.

Reúso Potável de Água na Região Metropolitana de São Paulo e em outros Países, por Ivanildo Hespanhol e Paulo Afonso da Mata Machado


Reúso Potável de Água na Região Metropolitana de São Paulo e em outros Países

Ivanildo Hespanhol, Ph.D.
Professor Titular da Escola Politécnica da USP
Diretor do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água-CIRRA/IRCWR/USP
e
Mata Machado, Paulo Afonso da
Engenheiro Civil e Sanitarista, MS in Environmental Science and Engineering
artigo
1. O cenário
A Região Metropolitana de São Paulo – RMSP, se situa nas cabeceiras do rio Tietê, cuja disponibilidade hídrica é insuficiente para o abastecimento de sua população, estimada em cerca de 20 milhões de habitantes e o consumo industrial de um gigantesco parque industrial. Por isso, necessita importar água de outras bacias hidrográficas, destacando-se a reversão de aproximadamente 30 m3/s da bacia do PCJ (Piracicaba, Capivarí e Jundiaí).
A cultura de importação de água de bacias distantes para satisfazer o crescimento da demanda remonta a mais de dois mil anos. Os romanos, que praticavam uso intensivo de água para abastecimento domiciliar e de suas termas, procuravam, de início, captar água de mananciais disponíveis nas proximidades. À medida que estes se tornavam poluídos pelos esgotos dispostos sem nenhum tratamento ou ficavam incapazes de atender à demanda, os romanos passavam a aproveitar a segunda fonte mais próxima e, assim, sucessivamente. Essa prática deu origem à construção dos grandes aquedutos romanos, dos quais existem, ainda, algumas ruínas, em diversas partes do mundo. (Hespanhol, 2008)
Tal sistemática foi e é irracional, pois resolve, precariamente, o problema de abastecimento de água em uma região em detrimento daquela que a fornece. Há, portanto, necessidade de se adotar novo paradigma que substitua a versão romana de transportar grandes volumes de água de bacias cada vez mais longínquas.
A Agência Nacional de Águas e a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (2017) reportam que 43% da população brasileira possui esgoto coletado e tratado e 12% utilizam-se de fossa séptica (solução individual), ou seja, 55% possuem tratamento considerado adequado. Dizem também que 18% têm seu esgoto coletado e não tratado, o que pode ser considerado como um atendimento precário; e 27% não possuem coleta nem tratamento, isto é, sem atendimento por serviço de coleta sanitário.
Na RMSP, a situação não difere muito. Seu consumo atual de cerca de 80 m3/s gera, aproximadamente, 64 m3/s de esgoto. Como a capacidade instalada de tratamento na região é de apenas 16 m3/s, o esgoto bruto remanescente, isto é, 48 m3/s são despejados sem nenhum tratamento. Desse modo, a importação de água para a RMSP somente vai aumentar o problema do descarte de esgoto em corpos de água adjacentes, tornando-os cada vez mais poluídos.
Está em fase de projeto executivo a captação de água junto ao reservatório Cachoeira do França, no rio São Lourenço, Alto Juquiá, para uma produção média de 4,7 m3/s, desconsiderando a vazão de esgoto a ser gerado por essa nova adução, de aproximadamente 3,8 m3/s, os quais, certamente, serão dispostos nos já poluídos corpos hídricos da RMSP.
Além disso, o projeto envolve sistemas convencionais de tratamento, que já estão ultrapassados, e não tem viabilidade econômica, pois as linhas de água bruta e de água tratada somam, aproximadamente, 100 quilômetros, atingindo a região metropolitana de São Paulo após um recalque superior a 300 metros, demandando investimento de cerca de 2,2 bilhões de reais. (Sabesp, 2011)
2. Sustentabilidade de sistemas de abastecimento de água
Sustentabilidade é um conceito técnico/filosófico genérico que não tem, isoladamente, significado prático e não pode ser avaliado em termos quantitativos.
Em se tratando de sistemas de abastecimento de água, para avaliar sua sustentabilidade, há necessidade de se considerar algumas variáveis sistêmicas. A sustentabilidade, nesse caso, deve ser visualizada como a probabilidade pela qual um sistema de abastecimento de água pode, permanentemente, suprir a demanda em condições satisfatórias. As variáveis mais importantes, que estabelecem, ou não, uma condição de sustentabilidade são: (Hashimoto et al, 1982)
  1. robustez, refletindo desempenho consistente e capacidade de atender a uma demanda crescente, mesmo em condições de diversos tipos de estresses;
  2. resiliência, a habilidade do sistema de recuperar seu estado satisfatório após sofrer impactos negativos, como, por exemplo, a perda de capacidade de atendimento de fontes de abastecimento; e
  3. vulnerabilidade, a magnitude da falha de um sistema de abastecimento.
Sistemas como o que abastece a RMSP, não são, portanto, sustentáveis, porque são pouco robustos, possuem resiliência praticamente nula e são extremamente vulneráveis, uma vez que permanecem na dependência de recursos oriundos de bacias que, por sua vez, também estão submetidas a condições extremas de estresse hídrico.
3. Reúso de Água e Sustentabilidade
A solução moderna e sustentável que potencializa significativamente a robustez e a resiliência do sistema de abastecimento de água da RMSP consiste em se tratar e reusar, para finalidades diversas, os esgotos já disponíveis no planalto em que a região se localiza, inclusive para complementação do abastecimento público.
4. A importância doe reúso potável da água
A falta de recursos hídricos e o aumento dos conflitos pelo uso da água gerou a emergência da conservação e do tratamento e reúso como componentes formais da gestão de recursos hídricos. Os benefícios inerentes à utilização de água recuperada para usos benéficos, ao contrário de disposição ou descarga, inclui a preservação de fontes de qualidade elevada, proteção ambiental e benefícios econômicos e sociais. (Asano, 2007)
Nas regiões áridas e semiáridas, a água se tornou fator limitante para o desenvolvimento urbano, industrial e agrícola. Planejadores e entidades gestoras de recursos hídricos buscam novas fontes de recursos para atender às demandas crescentes, principalmente dos setores domésticos e industriais. No polígono das secas do nosso nordeste, a dimensão do problema é tamanha que resultou na transposição de águas do rio São Francisco, visando ao atendimento da demanda de estados da região semiárida situados ao norte e a leste de sua bacia de drenagem.
Diversos países do Oriente Médio, onde a precipitação média oscila entre 100 e 200 mm por ano, dependem de alguns poucos rios perenes e de pequenos reservatórios de água subterrânea, geralmente localizados em regiões montanhosas, de difícil acesso. Em muitos desses países, a água potável é proporcionada através de sistemas de dessalinização da água do mar e, devido à impossibilidade de se manter uma agricultura irrigada, mais de 50% da demanda de alimentos é satisfeita através da importação de produtos alimentícios básicos. (Hespanhol, 1999)
Entretanto, a prática de reúso de água não é aplicável exclusivamente a regiões áridas e semiáridas. Muitas regiões com recursos hídricos abundantes, mas insuficientes para atender a demandas excessivamente elevadas, também experimentam conflitos de uso e sofrem restrições de consumo que afetam o desenvolvimento econômico e a qualidade de vida. O Alto Tietê, por sua condição característica de manancial de cabeceira, apresenta vazão garantida de apenas 14,0 m3/s, (Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, 2009) e, por isso, sua bacia é considerada crítica em relação a disponibilidade hídrica superficial, de vez que as demandas suplantam a capacidade disponível e somente são atendidas pela regularização e importação de água. (Borges, L. A., 2009)
Antevendo, precocemente, a necessidade de se modificar políticas ortodoxas de gestão de recursos hídricos, principalmente em áreas carentes, o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas propôs, em 1958, que, “a não ser que exista grande disponibilidade, nenhuma água de boa qualidade deve ser utilizada para usos que tolerem águas de qualidade inferior”. (Hespanhol, 2000)
As águas de qualidade inferior, tais como esgotos de origem doméstica, águas de lavagem de filtros de sistemas de tratamento de água, efluentes industriais, águas de drenagem agrícola e águas salobras eram consideradas como fontes alternativas para usos menos restritivos. Hoje, com o uso de tecnologias apropriadas, a Organização Mundial de Saúde (2017) considera que da água dessas fontes podem abandonar sua condição de qualidade inferior para se transformar em água potável e, portanto, uma solução sustentável será a de tratar e reusar os esgotos já disponíveis nas áreas urbanas para complementar o abastecimento público.
Portanto, numa primeira etapa, a proposta de reutilização dos esgotos se desenvolveu em termos de reúso para demandas urbanas não potáveis. Posteriormente, essa proposta se ampliou no sentido de se adotar o reúso para fins potáveis. Esse conceito, além de se constituir em solução econômica e ambientalmente correta, proporciona água segura, o que não é, atualmente, garantido por sistemas convencionais de tratamento que tratam águas provenientes de mananciais extremamente poluídos, inclusive com poluentes emergentes. De acordo com a Agência Nacional de Águas – ANA e a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (2017), mais de 110 mil km de trechos de rio estão com a qualidade comprometida devido ao excesso de carga orgânica, sendo que, em 83.450 km, não é mais permitida a captação para abastecimento público devido à poluição e, em 27.040 km, a captação pode ser feita, mas requer tratamento avançado. As tecnologias de tratamento e de certificação da qualidade da água disponíveis permitem que mananciais desprotegidos, mesmo os considerados inaproveitáveis pela Agência Nacional de Águas, possam fornecer água para estações de reúso potável.
5. Sistemas de Reúso Potável (Hespanhol, 2014)
** Para acessar e/ou fazer o download do artigo na íntegra, no formato PDF, clique no link
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 05/12/2018

A TRANSIÇÃO RELIGIOSA NO BRASIL .

A transição religiosa nas grandes regiões do Brasil, artigo de José Eustáquio Diniz Alves


população do brasil e regiões, por grupos religiosos, em %
[EcoDebate] Quinhentos anos após a Reforma Protestante, o quadro religioso está mudando de maneira irreversível na América Latina. O Brasil e suas grandes regiões estão passando por uma acelerada transição religiosa que se manifesta em 4 aspectos:
1) Declínio absoluto e relativo das filiações católicas;
2) Aumento acelerado das filiações evangélicas (com diversificação das denominações e aumento dos evangélicos não institucionalizados);
3) Crescimento lento do percentual das religiões não cristãs;
4) Aumento absoluto e relativo das pessoas que se declaram sem religião (incluindo ateus e agnósticos);
O quadro que se desenha para um futuro próximo é de mudança de hegemonia entre católicos e evangélicos, com os segundos ultrapassando os primeiros e aumento da pluralidade de crenças e do processo de secularização (grande aumento da desafeição religiosa e da apostasia).
O censo demográfico de 1890, realizado logo após a Proclamação da República (1889), apontava que os católicos eram, praticamente, 100% da população brasileira. Mas esse número veio caindo e estava em praticamente 90% em 1980. Mas a partir daí a queda se acelerou e os católicos ficaram com 83,3% em 1991, 73,9% em 2000 e 64,6% em 2010.
Entre 1890 e 1970 os católicos perderam posição relativa na população total cerca de 1% por década. Entre 1991 e 2010 a perda passou a ser de 1% ao ano. Portanto, o ritmo de queda da presença católica no Brasil foi multiplicado por dez.
Todavia, esta queda não é uniforme e segue ritmos diferenciados nas regiões, nos Estados e nas cidades. A Unidade da Federação com menor proporção de católicos é o Rio de Janeiro e a com maior percentagem de evangélicos é Rondônia. O Rio de Janeiro também é a UF com maior pluralidade de crenças e com o maior percentual de pessoas que se declaram sem religião.
A região geográfica mais avançada na transição religiosa é a Sudeste (com mais de 80 milhões de habitantes em 2010) onde os católicos caíram de 69,2% para 59,5% entre 2000 e 2010, os evangélicos passaram de 17,5% para 24,6%, as outras religiões passaram de 4,9% para 7% e os sem religião passaram de 8,4% para 9%, no mesmo período.
Nas regiões Centro-Oeste e Norte o percentual de católicos é bem parecido com o percentual da região Sudeste. Já o percentual de evangélicos é maior na região Norte, que, no entanto, tinha um percentual de sem religião menor do que em outras regiões, com exceção da região Sul. A região Nordeste tinha o maior percentual de católicos e o menor de evangélicos. Já a região Sul fica na transição religiosa um pouco à frente da região Nordeste, mas atrás das demais regiões.
Nota-se que a transição religiosa não tem uma relação determinística com o grau de desenvolvimento, pois enquanto o Sudeste lidera o quadro de transformações religiosas, juntamente com a região Norte, a região Sul está mais próxima da região Nordeste. O fato comum entre as regiões é que os quatro pontos indicados no início deste artigo seguem ao longo do tempo, apenas com velocidades diferentes de transições.
Referências:
ALVES, J. E. D; NOVELLINO, M. S. F. A dinâmica das filiações religiosas no Rio de Janeiro: 1991-2000. Um recorte por Educação, Cor, Geração e Gênero. In: Patarra, Neide; Ajara, Cesar; Souto, Jane. (Org.). A ENCE aos 50 anos, um olhar sobre o Rio de Janeiro. RJ, ENCE/IBGE, 2006, v. 1, p. 275-308
https://pt.scribd.com/doc/249670739/A-dinamica-das-filiacoes-religiosas-no-Rio-de-Janeiro-1991-2000-Um-recorte-por-educacao-cor-geracao-e-genero
ALVES, JED, BARROS, LFW, CAVENAGHI, S. A dinâmica das filiações religiosas no brasil entre 2000 e 2010: diversificação e processo de mudança de hegemonia. REVER (PUC-SP), v. 12, p. 145-174, 2012.
http://revistas.pucsp.br/index.php/rever/article/view/14570
ALVES, JED, CAVENGHI, S. BARROS, LFW. A transição religiosa brasileira e o processo de difusão das filiações evangélicas no Rio de Janeiro, PUC/MG, Belo Horizonte, Revista Horizonte – Dossiê: Religião e Demografia, v. 12, n. 36, out./dez. 2014, pp. 1055-1085
http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2014v12n36p1055/7518
ALVES, JED. “A encíclica Laudato Si’: ecologia integral, gênero e ecologia profunda”, Belo Horizonte, Revista Horizonte, Dossiê: Relações de Gênero e Religião, Puc-MG, vol. 13, no. 39, Jul./Set. 2015
http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2015v13n39p1315
ALVES, JED et. al. Cambios en el perfil religioso de la población indígena del Brasil entre 1991 y 2010, CEPAL, CELADE, Notas de Población. N° 104, enero-junio de 2017, pp: 237-261
http://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/41954/1/S1700164_es.pdf
ALVES, JED, CAVENAGHI, S, BARROS, LFW, CARVALHO, A.A. Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil, Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2, 2017, pp: 215-242
http://www.revistas.usp.br/ts/article/view/112180
ALVES, JED. CAVENAGHI, S. Igreja Católica, Direitos Reprodutivos e Direitos Ambientais, Horizonte, Belo Horizonte, v. 15, n. 47, p. 736-769, jul./set. 2017
http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2017v15n47p736
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/12/2017

A DEFESA DO INTERESSE PÚBLICO, UM PRINCÍPIO A SER RESGATADO.

A defesa do interesse público, um princípio a ser resgatado, artigo de Clóvis Borges


“As mudanças necessárias e prementes que nos tornem cidadãos mais solidários não representam nenhuma utopia”


artigo de opinião
[EcoDebate] Até que ponto cabe considerar legítimo o jogo de influência sobre o poder público que interfere em decisões estratégicas do governo, altera a legislação e interfere em decisões judiciais? Se as práticas que proporcionam favores excessivos aos mais diversos grupos setoriais trazem como consequência um duro ônus ao resto da sociedade, é necessário evidenciar que tais práticas precisam ser reprimidas de maneira mais contundente.
No Paraná, dois exemplos recentes representam tentativas explícitas de imposição, a qualquer custo, da vontade de minorias influentes. O projeto de lei para a redução da Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana e a tentativa de execução da Faixa de Infraestrutura em Pontal do Paraná são casos que mostram a fragilidade do poder público frente a pressões de ordem econômica e política, vindas de grupos setoriais.
A reação pública frente a essas tentativas permitiu que milhões de paranaenses oferecessem um contraponto em relação aos representantes do poder público envolvidos nesses processos. Uma reação potencializada pelo fato de não haver razão plausível para uma aceitação dessas medidas que pretendem impor.
Vivemos um momento em que o posicionamento de cada cidadão tem enorme importância. Como nunca, devemos estar presentes na defesa de fundamentos consistentes que atendam ao interesse público em vez de buscas seletivas e indevidas, que alimentam os sistemas de corrupção.
Apesar de enormes dificuldades e do reconhecimento de que soluções de maior amplitude não ocorrem de um dia para o outro, está mais do que na hora de todos os brasileiros fazerem um maior esforço em defesa do exercício da cidadania. Precisamos despertar para o valor de causas comuns que atendam verdadeiramente a toda a sociedade, como a proteção do nosso patrimônio natural.
Todos temos o direito de buscar nossas próprias condições de crescimento e de sobrevivência, cumprindo a Lei e lutando de maneira honesta por um futuro melhor. Mas, sem um olhar dedicado ao amparo do que interessa e diz respeito a todos nós, as buscas individualizadas encontrarão enormes obstáculos para avançar como pretendemos.
As mudanças necessárias e prementes que nos tornem cidadãos mais solidários não representam nenhuma utopia. Apenas demandam consciência e senso de responsabilidade sobre o real significado do interesse público.
*Clóvis Borges é diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 07/12/2018