sábado, 31 de março de 2018

BRASIL : PARTIDOS POLÍTICOS PODERIAM SER REDUZIDOS A DOIS.

Partidos políticos são mais do mesmo e poderiam ser reduzidos a dois. apontam estudos de Oxford


Agência Brasil - EBC
Uma explicação comum para justificar o grande número de partidos políticos no Brasil é o fato de o país ser grande e heterogêneo. Portanto, várias legendas seriam necessárias para representar os diferentes grupos que fazem parte da sociedade.
A reportagem é de Nathalia Passarinho, publicada por BBC Brasil, 27-03-2018.
Mas não é isso o que mostra uma pesquisa inédita da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e da Fundação Getulio Vargas (FGV), segundo a qual apenas dois partidos já seriam suficientes para representar a sociedade brasileira no Congresso Nacional.
"Tem muitos partidos desnecessários no Brasil, em termos de representação ideológica. Quando um partido é criado, normalmente é para atender a um grupo ideológico pouco representado, dar voz a grupos. Mas não é o que esta acontecendo. Os partidos no Brasilestão sendo criados por outras razões, não para defender bandeiras", afirmou à BBC Brasil o professor Timothy J. Power, diretor do Programa de Estudos Brasileirosda Universidade de Oxford.
Entre abril e setembro do ano passado, Power e César Zucco, professor da FGV, distribuíram a deputados e senadores um questionário com perguntas sobre diferentes temas – de economia e controle fiscal a reforma política e aborto. O levantamento, chamado de Brazilian Legislative Survey (BSL), é feito a cada quatro anos e tem o objetivo de captar a evolução do pensamento do Congresso Nacional desde a redemocratização.
A partir da resposta dos legisladores, os pesquisadores descobriram que as 25 legendas com representação na Câmara têm posições muito semelhantes.
Seria possível dividir esses partidos em dois grupos, um de centro-direita, composto pelo chamado "centrão", além de PPPSDB e MDB, e outro de centro-esquerda, formado por partidos como PTPC do B e PDT. O bloco de centro-direita têm hoje 60% das cadeiras na Câmara dos Deputados, e o de esquerda, 40%.
"No campo das ideias, pelos 20 assuntos que a gente mediu, dois partidos são suficientes e representariam razoavelmente e de forma coerente a sociedade. Um seria estaria mais à esquerda e outro mais à direita", disse o professor César Zucco à BBC Brasil.
Power traça um paralelo da distribuição atual de cadeiras no Congresso entre centro-direita e centro-esquerda com o cenário partidário do Brasil em 1979, ainda no regime militar, quando havia apenas dois partidos com representação no Congresso.

"Se você pensar, é parecido com o Brasil em 1979. Tinha dois partidos na época. O Arena (partido governista), com 60% das cadeiras, e o MDB (que fazia oposição ao governo militar), com 40%. Nós vemos a mesma coisa hoje: existem dois grupos, sendo que o de centro-direita tem maior representação no Legislativo", afirma.
A conclusão de que duas legendas já seriam suficientes para representar as posições da sociedade mostraria que a acelerada criação de partidos políticos no país não é estimulada pela demanda de grupos por representação, mas sim por estratégias políticas e interesses eleitorais.
"Isso confirma a ideia de que, claramente, esses partidos não existem para representar ideologias e ideias que precisam ser representadas. Eles representam ideias parecidas e existem por questões estratégicas dos deputados e senadores", afirma Zucco.
"Atendem a interesses locais, porque os políticos precisam de legendas diferentes para competir em eleições; a interesses em termos de financiamento, por causa do acesso a recursos partidários; e ao interesse de acesso a recursos dentro do Congresso Nacional, como pessoal, verba, participação em comissões", completa o professor da FGV.

O efeito impeachment: PT mais à esquerda e PSDB, à direita

Além de mapear a posição dos partidos quanto aos principais temas econômicos e sociais, Power e Zucco também mediram a percepção que parlamentares e senadores têm da ideologia das legendas com representação no Congresso.
Os dois pesquisadores perguntaram aos parlamentares onde eles classificariam cada partido político, numa escala de 1 a 10, sendo 1 "de esquerda" e 10, de "direita".
A análise histórica das respostas, captadas desde 1990, demonstra que partidos de centro e centro-esquerda, quando assumem a Presidência, tendem a dar uma guinada à direita, porque precisam fazer concessões a grupos conservadores para governar. Foi o caso de PSDB e PT nos governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Setas mostram trajetória dos partidos, para esquersa ou para a direita no espectro ideológico. PT andou para a "direita" quando esteve na presidência, mas após o impeachment de Dilma deu uma guinada à esquerda (Foto: BLS)
Por causa da enorme fragmentação no Congresso e do excesso de partidos políticos, dificilmente o presidente terá, sozinho, maioria para governar. Por isso, forma coligações com outras legendas, ainda que elas não tenham semelhança ideológica com o partido vencedor da eleição.
No governo Lula, por exemplo, o PT se aliou a partidos de centro-direita e direita, como PMDBPTB e PP. Nos dois mandatos, o Brazilian Legislative Survey captou um "salto" forte do partido para a "direita" em termos de ideologia.
"Se voltamos aos anos 1990, havia uma polarização no governo FHC por causa das políticas neoliberais adotadas. O PT fazia uma oposição forte a elas. Lula ganhou em 2002 e trouxe o PT e partidos mais de esquerda para o centro", disse Power à BBC Brasil.

Desde o governo Lula, a polarização vinha diminuindo no país. Os levantamentos com parlamentares entre 2002 e 2014 mostram a construção de consensos entre partidos em questões econômicas e sociais, como interferência moderada do Estado na economia, necessidade de responsabilidade fiscal e adoção de programas sociais baseados em transferência de renda – Bolsa Família, por exemplo.
Mas, segundo Power, o impeachment de Dilma Rousseff interrompeu o ciclo de aproximação entre partidos de esquerda e centro-direita.
"Durante o governo FHC, os partidos de esquerda eram mais isolados. Nos anos 2000, eles se aliaram a partidos de centro e centro-direita para permitir a governabilidade de Lula. O impeachment cortou essa aliança."
Com o rompimento dos laços com siglas como o MDB, o PT e demais partidos tradicionalmente vistos como de esquerda, como PC do B e PDT, tendem a voltar às raízes, adotando posições mais "esquerdistas", como maior presença estatal na economia.
"Agora que romperam com a direita, nada os impede de adotar uma ideologia de esquerda mais radical", avalia o professor de Oxford.
Enquanto isso, o PSDB deu um passo largo para a "direita", na percepção dos parlamentares, em comparação com o resultado dos levantamentos de 2014. "O PSDBvem andando para a direita desde que iniciamos o levantamento, em 1990. Mas agora o movimento foi bastante forte", diz Zucco.
"A percepção dos políticos de 'esquerdização' do PT e de 'direitização' do PSDB tem a ver com o impeachment", destaca.

Em que espectro estão os partidos

De acordo com a pesquisa de Power e Zucco, o partido hoje visto entre os parlamentares como mais "de esquerda" é o PSOL, seguido por PC do BPT e Rede.

O levantamento também captou a ascensão do chamado Centrão, partidos de médio porte que tiveram papel chave no impeachment de Dilma. Juntos, eles formam uma das maiores bancadas da Câmara e são essenciais à sobrevivência do governo Michel Temer.
Fazem parte desse grupo, visto como "de centro" pelos parlamentares, PSCProsPTBPodemos (visto na tabela acima com a sigla Pode). Classificados como centro-direita, estão MDBPSDBPSD e PR.
O partido visto como mais "de direita" é o Democratas, seguido por PP e PSL. O DEMé também a sigla que de forma mais consistente se manteve "à direita" na percepção dos legisladores desde que o BLS começou a ser feito, em 1990.
Com base nas respostas diretas dos parlamentares às perguntas que medem a posição ideológica, é possível dividir o Congresso em dois grandes grupos, segundo o estudo: um de centro-esquerda, composto por PSOLPC do BPTRedePDTPSBPPS e PV, e outro de centro-direita, com os demais partidos.

O que esses achados dizem sobre o cenário pós-2018?

Em resumo, o Brazilian Legislative Survey captou um Congresso Nacionalpolarizado. E, embora existam 25 partidos com deputados eleitos, o legislativo poderia ter apenas dois se levada em conta a semelhança entre eles em questões ideológicas.
Embora haja movimentos na sociedade por uma renovação na política, os pesquisadores avaliam que a fotografia atual do Congresso tende a ser reeditada após a eleição de outubro. Com a restrição ao financiamento empresarial de campanha, candidatos dependerão do Fundo Partidário. E quem recebe mais dinheiro são os partidos tradicionais, que elegeram mais deputados em 2014.
O presidente que se eleger precisará, segundo Zucco e Power, captar o apoio de parte do bloco de "centro-direita" – que tem 60% das cadeiras –, principalmente dos partidos que hoje integram o chamado Centrão.
"Vai ter menos renovação do que o espírito das ruas sugeririam. Quem tem acesso ao dinheiro são os políticos que já estão no poder. O próximo presidente vai ter que fazer mais do mesmo. O grupo majoritário (Centrão) é o que dá apoio ao Temer e ele vai ter que ser cooptado pelo próximo governo. Não dá para esperar muita diferença", diz Zucco.
"O presidente que se eleger vai ter minoria no Congresso (por causa do grande número de partidos que devem eleger deputados), dificilmente terá 12% das cadeiras. Para governar, ele vai ter que formar alianças com, pelo menos, seis ou sete partidos", completa Power.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos

sexta-feira, 30 de março de 2018

POR QUE GILMAR MENDES E O SUPREMO TEMEM O CLAMOR DAS RUAS ?

POR QUE GILMAR MENDES E O SUPREMO TEMEM O CLAMOR DAS RUAS ?

A sociedade aumenta a cada dia o divórcio entre ela e aqueles que deveriam oferecer-lhe a garantia de uma Justiça sem dois pesos e duas medidas.

O comentário é de Juan Arias, jornalista, publicado por El País, 24-03-2018.
Às vezes é o povo, a sociedade, que intui melhor que os próprios legisladores o espírito que subjaz à letra fria da lei. Um exemplo: a discussão neste momento no Supremo sobre a prisão depois da condenação em segunda instância. Os magistrados legalistas, que são a favor de que todos os recursos sejam esgotados, dizem zelar pela lei da presunção de inocência. É verdade que mesmo o maior criminoso deve ter garantido o direito à defesa. Nada mais trágico para a dignidade humana do que a condenação de um inocente.
Ao mesmo tempo, o espírito da lei é pisoteado muitas vezes. E é a quebra desse espírito que as ruas advertem quando se defende para os poderosos a possibilidade de recursos infinitos a todas as instâncias para evitar a prisão. Algo que pode levar anos e acabar favorecendo aqueles que têm a possibilidade de pagar advogados que mantenham o condenado em liberdade. E os outros? Os pobres que não têm esses recursos? Para eles é impossível eternizar o processo até a prescrição da sentença. Somos realmente todos iguais perante a lei?
É mais fácil que seja a sociedade e não os legisladores quem indique essa dissonância que leva a distinguir os criminosos poderosos dos simples mortais. Estamos, portanto, diante de dois direitos conflitantes: o da presunção de inocência e o da Justiça que deve ser igual para todos. São dois conceitos igualmente importantes que devem valer para todos ou acabam prejudicando os menos favorecidos.
Dado que com aqueles que não são poderosos os escrúpulos pela presunção de inocência acabam sendo esquecidos e eles são, portanto, arrastados para a prisão sem mais, seria mais próximo da Justiça igualitária que todos, pobres e ricos, começassem a cumprir a pena ao mesmo tempo. Com presos sem nome há menos escrúpulos do que com os famosos e eles são presos tantas vezes antes mesmo de serem julgados. Quantos milhares desses presos anônimos apodrecem nas prisões nessa situação? No Brasilaparentemente eles são mais de duzentos mil.
Mesmo com prisão depois da condenação em segunda instância, os presos privilegiados continuarão levando a melhor, pois permanecerão menos tempo atrás das grades por disporem de advogados que fornecem habeas corpus, que na maioria dos casos lhes permitem cumprir a pena em liberdade. Pergunte-se a Gilmar Mendes, tão cheio de compaixão pelos presos de luxo. Os outros, aqueles sem advogados presunçosos, continuarão presos enquanto Deus quiser, abandonados à própria sorte.
Daí que, diante de dois direitos legítimos, o da presunção de inocência e o de que todos devem ser iguais perante a lei, a sociedade acabe vendo o primeiro como um biombo para evitar a prisão dos privilegiados e se sinta mais sensível ao outro direito não menos sagrado de que a lei é a mesma para todos. São as ruas que entenderam, por exemplo, que Carmen Lúcia e Barroso –mais do que Gilmar Mendes– estão mais próximos do espírito da lei do que de sua letra fria. Ou será que alguém acredita que, se, por exemplo, Lula foi preso, permanecerá na cadeia o mesmo tempo de um condenado comum e anônimo, réu pelos mesmos crimes que ele, mas sem advogados ilustres e magistrados amigos? Quando os membros do Supremo reclamam que não podem ser pressionados pelo clamor das ruas, esquecem que muitas vezes a sensibilidade e o senso comum da sociedade são os melhores interpretes do espírito da lei.
Em sua última coluna para este jornal, o escritor espanhol Juan José Millás usou uma metáfora entre a letra das palavras e seu significado, usando para isso a imagem da gaiola e do pássaro. A gaiola, com seu engradado, é apenas a palavra escrita ou o seu som; o pássaro é o significado. O perigo dos legalistas, como a maioria dos magistrados do Supremo parece ser, é confundir o envoltório das palavras da lei com a alma do que palpita dentro dela.
A sociedade –que possui um radar especial para detectar as manobras em favor dos poderosos– aumenta a cada dia o divórcio entre ela e aqueles que deveriam oferecer-lhe a garantia de uma Justiça sem dois pesos e duas medidas. É um esgarçamento da credibilidade que aumenta a cada dia entre o povo e seus representantes. Até onde pode levar essa perda de fé na autoridade e como ela pode prejudicar a já frágil democracia brasileira?
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos

MORADORES DAS ILHAS GALÁPAGOS COMBATEM A MARÉ DE PLÁSTICO

Moradores das Ilhas Galápagos combatem a maré de plástico


Quando os voluntários de uma operação de limpeza costeira nas Ilhas Galápagos encontraram uma lata de refrigerante de uma marca proveniente da Indonésia, não se surpreenderam. Há meses estavam recolhendo toneladas de plásticos vindas de outras regiões do planeta e que chegavam a essas praias remotas, localizadas a 1 mil quilômetros do Equador.
O país é parte da campanha global Mares Limpos da ONU Meio Ambiente, o movimento mais ambicioso das Nações Unidas contra o lixo marinho. A campanha promove a aliança entre governos, setor privado e cidadãos para deter a poluição por plástico.
Quando os voluntários de uma operação de limpeza costeira nas Ilhas Galápagos encontraram uma lata de refrigerante de uma marca proveniente da Indonésia, não se surpreenderam. Há meses estavam recolhendo toneladas de plásticos vindas de outras regiões do planeta e que chegavam a essas praias remotas, localizadas a 1 mil quilômetros do Equador.
O emblemático arquipélago equatoriano, que inspirou Charles Darwin para sua teoria da evolução das espécies, não está alheio à maré de plástico que inunda o globo. O lixo que acaba nas ilhas ameaça as espécies vulneráveis da região, assim como seus habitantes, que dependem dos recursos marinhos de Galápagos para sua alimentação e sustento.
Com uma extensão de 138 mil quilômetros quadrados de reserva marinha — uma das maiores do mundo — e 8 mil quilômetros quadrados de reserva terrestre, Galápagos abriga 2.017 espécies que só vivem nesse local: 86% dos répteis das ilhas são endêmicos, assim como 27% dos mamíferos e 25% das aves. Corvos e iguanas marinhas, pinguins, lobos marinhos, os fringilídeos de Darwin e as tartarugas gigantes estão entre as espécies icônicas do arquipélago.
Devido à sua enorme riqueza ecológica, cultural e econômica, estas áreas protegidas se tornaram Patrimônio Natural da Humanidade em 1978.
Mas a atividade humana está alterando este ecossistema antigo: restos de plástico foram recentemente encontrados em ninhos de fringilídeos de Darwin e nos estômagos de tartarugas marinhas e albatrozes, durante uma investigação em curso conduzida em conjunto pela Direção do Parque Nacional de Galápagos e pela Universidade San Francisco de Quito.
O plástico se desintegra em micropartículas que são impossíveis de coletar, de modo que é inevitável sua entrada na cadeia alimentar. “Muitos animais as confundem com ovos de espécies marinhas das quais normalmente se alimentam”, explica Jorge Carrión, diretor encarregado do Parque Nacional Galápagos.
Calcula-se que anualmente sejam jogadas nos mares do mundo até 13 milhões de toneladas de plástico. Ao menos 50% desse lixo é composto por plástico descartável, que pode permanecer no meio ambiente por até 500 anos.
As autoridades de Galápagos tomaram medidas significativas para controlar a contaminação por plásticos nas ilhas. Inclusive declararam 2018 o ano da guerra contra a poluição por plásticos, unindo os esforços de governos, cientistas e cidadãos.
Um programa de gestão de resíduos em Santa Cruz, a ilha mais povoada, conseguiu uma recuperação de 45% dos resíduos sólidos recicláveis, porcentagem mais alta no Equador. Produtos como garrafas plásticas e latas foram enviadas à parte continental equatoriana para reciclagem, enquanto outros, como as garrafas de vidros, são reutilizadas localmente. Em uma resolução de 2014, o Conselho de Governo do Regime Especial de Galápagos proibiu que sacolas plásticas entrassem nas ilhas, e as autoridades esperam introduzir restrições para outros produtos plásticos descartáveis.
Os residentes se uniram a esses esforços e frequentemente participam de limpezas costeiras. Em fevereiro passado, em uma iniciativa de limpeza de praias remotas, os voluntários retiraram 2,5 toneladas de rejeitos durante uma travessia de oito dias.
“No Equador, promovemos um novo paradigma de desenvolvimento, baseado em um equilíbrio entre o ser humano e a natureza. Os moradores de Galápagos são um exemplo de como uma cidadania informada entende que a biodiversidade é um recurso estratégico e, portanto, tem o impulso de lutar ativamente contra a poluição marinha”, disse Tarsicio Granizo, ministro do Meio Ambiente do Equador.
Os pescadores, que dependem do mar para sobreviver, não ficaram de braços cruzados. Por exemplo, participam de limpezas submarinas e geram incentivos para que seus companheiros não abandonem no mar os sacos plásticos nos quais compram gelo.
Alberto Andrade, membro de um grupo de pescadores artesanais, participou das limpezas e encontrou garrafas plásticas da China, mas também lixo marinho proveniente da América Central, do México ou do Peru. Ele é testemunha dos efeitos malignos do plástico: viu centenas de animais presos em redes fantasmas de pesca, e acredita que a situação é alarmante. Mas tem esperança, porque “a conservação está no DNA de quem vive em Galápagos”.
As redes sociais ajudaram Andrade a mobilizar seus colegas e vizinhos a favor do meio ambiente. Seu grupo, a Frente Insular Reserva Marinha de Galápagos, defende a proibição de todos os plásticos descartáveis no arquipélago e está pressionando para que os restaurantes deixem de oferecer canudos. “Agora estão começando a usar alternativas, como os canudos de metal”, disse.
“Ainda estamos em tempo de liberar o arquipélago do lixo marinho, manter uma biodiversidade saudável e preservar Galápagos como um laboratório de evolução”, disse Jorge Carrión. “Mas ainda temos um longo caminho a percorrer”.
O Equador é parte da campanha global Mares Limpos da ONU Meio Ambiente, o movimento mais ambicioso das Nações Unidas contra o lixo marinho. A campanha promove a aliança entre os governos, o setor privado e os cidadãos para deter a poluição por plástico.
Um planeta sem poluição por plásticos é o tema do Dia Mundial do Meio Ambiente 2018.
Fonte : ONUBR

ESCREVE-SE GUERRA, LÊ-SE FOME.

Escreve-se guerra , lê-se fome.



Observatório do 3° Setor
FAO, o World Food Program e outras agências das Nações Unidas apresentam um relatório conjunto: fome e escassez de alimentos não são provocadas apenas por eventos naturais, mas, acima de tudo, por conflitos.
A reportagem é de Giampaolo Cadalanu, publicada no jornal La Repubblica, 22-03-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
FAO as chama de “crises alimentares”, ou, em seus documentos, fala de “insegurança”. Às vezes, aparece a palavra “fome”. A linguagem é a das agências da ONU, portanto, de uma necessidade fria, quase asséptica, tendencialmente imparcial. Mas palavras que permanecem abstratas no Terceiro Milênio não são mais suficientes: talvez valha a pena começar a usar termos como “esfomeadores”. Porque a mensagem que vem do “Relatório global sobre as crises alimentares 2018”, realizado pela FAOWorld Food Program e outras agências da ONU é clara demais: a fome não é um destino, não vem por acaso sobre os mais infelizes da Terra. A fome vem através de responsabilidades humanas muito precisas.
Acima de tudo, ela vem com as guerras. Não é realmente uma novidade, mas, mostrado claramente em uma tabela, parece ainda mais escandaloso. Quer sejam conflitos preventivos ou defensivos, quer sejam missões chamadas de humanitárias, acertos de contas brutais ou, ao contrário, simplesmente operações de poder: para aqueles que continuam envolvidos nos combates ou são atingidos pelas consequências, isso não importa. Não importa aos 17 milhões de iemenitas, aos quase 9 milhões de nigerianos, aos 7,7 milhões de congoleses, aos 7,6 milhões de afegãos, aos 6,5 milhões de sírios, e assim por diante, do Sudão do Sul à Somália, passando pelo Iraque.
É a conta daqueles que, ainda na linguagem neutralizada dos documentos oficiais, são vítimas da “insegurança alimentar” por motivos ligados às guerras. Famintos por causa das escolhas de outros, em palavras mais simples.
Outra tabela do horror coloca em ordem as populações cuja capacidade de se alimentar é “insegura” por motivos climáticos. E aqui devemos nos perguntar: os 8,5 milhões da Etiópia, os 5,1 milhões do Malawi, os 4,1 milhões do Zimbábue, os 3,4 milhões do Quênia, e assim por diante, serão mais propensos a amaldiçoar o destino ou os poderosos do planeta?
Entre estes últimos, há vários que não acreditam no efeito estufa e nas mudanças climáticas. Ou, pelo menos, garantem um ceticismo mercenário, com conclusões que favorecem, invariavelmente, interesses industriais muito concretos. Mas mesmo se quiséssemos atribuir a responsabilidade total pela fome e pela seca à natureza, não devemos esquecer que as capacidades produtivas do planeta, se geridas adequadamente e sem guerras, são mais do que suficientes para saciar também os mais desafortunados.
Se fosse necessária uma confirmação visual para entender como funciona a distribuição das desgraças, basta dar uma olhada nos mapas publicados no relatório que a FAOdesenvolveu com outras agências internacionais: as áreas indicadas com as cores da necessidade se sobrepõem às das crises políticas, com as zonas de emergência absoluta no Afeganistão, no Congo, no Chifre da África e, especialmente, no Iêmen, onde a gravidade do confronto se soma à nefasta decisão das partes, que, de fato, limitam o acesso das ajudas humanitárias.
No total, as pessoas afetadas pela “insegurança alimentar” são 124 milhões em 51 países. E a FAO sublinha: “Não devemos esperar nenhuma melhoria significativa na segurança alimentar global enquanto a paz não voltar”. Mas quem decide sobre as guerras, geralmente, está de barriga cheia.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos

FAKE NEWS : A DEMOCRACIA TEM UM PROBLEMA GRAVE

Fake News: A democracia tem um problema grave


Estudos Nacionais
"Não sabemos o que o Facebook sabe. Não sabemos o que ainda desconhece", escreve Pedro Doria, jornalista e escritor, em artigo publicado por O Estado de São Paulo, 22-03-2018.

Eis o artigo.

No final da semana passada, surgiram simultaneamente algumas notícias falsas referentes à vereadora carioca assassinada, Marielle FrancoFake news existem de três tipos. Um é o boato espontâneo, que nasce do nada e se alastra como fogo. Outro, é para fazer dinheiro. A manchete chama atenção, o inocente clica e chega a um site cheio de publicidade. O terceiro tem objetivo político. Várias notícias falsas que surgem ao mesmo tempo não parecem boatos espontâneos. Como não apontavam para site algum, não fizeram dinheiro. O mais provável é que gente profissional com objetivo político colocou as histórias no ar. Mas o Facebook não consegue dizer sua origem.
Mesmo: não é possível mergulhar no banco de dados e descobrir quem publicou primeiro, ou quem fez os compartilhamentos iniciais. Não dá para mapear o percurso da fake news política. É o que explica Monika Bickert, uma das vice-presidente globais da plataforma, que esteve essa semana no Brasil. Ela recebeu um grupo de jornalistas na sede do Facebook, em São Paulo, para conversar sobre as políticas de comportamento na rede. Mas o escândalo envolvendo a Cambridge Analytica, o mau uso de dados de 50 milhões de pessoas, assim como a possível manipulação de inúmeras eleições por grupos que usaram a plataforma, dominou a conversa.
Facebook está sentindo a pressão. Não é à toa que Mark Zuckerberg, em entrevista na quarta à emissora CNN, citou especificamente a eleição presidencial brasileira. É um dos focos de atenção. Tampouco é acidente que, à veterana repórter do Vale Kara Swisher, editora do Recode, ele disse que irá ao Congresso americano se convocado a depor. Além de CNN e Recode, na quarta Zuck falou também ao New York Times e à revista Wired. Gerenciamento de crise em estado puro.
O mundo está atento à relação entre tecnologia e política. Atento e, convenhamos, perdido.
Porque por trás de cada parlamentar que protesta, entre Londres e Washington, há mais dúvidas do que certezas. Em cada texto de especialista em tecnologia, está lá sempre o imponderável. Ninguém, fora do Facebook, conhece como funciona o sistema Facebook. É uma surpresa, por exemplo, que não seja tecnicamente possível descobrir quem planta fake news.
A empresa parece realmente preocupada. E suas propostas de combate ao problema da influência política por agentes que buscam perturbar eleições fazem sentido. Estão melhorando a tecnologia para localizar rápido perfis falsos — de onde surgem manipulações. Vão deixar mais claro, para os usuários, o que apps aparentemente inocentes podem fazer. E vigiarão mais os apps.
O problema, no entanto, não vai embora. O que o Facebook está dizendo, essencialmente, é: confie em nós.
Diz ‘confie em nós’ sem explicar em detalhes o que seus estudos a respeito da interferência nas eleições americanas revelaram. Diz ‘confie em nós’ ao mesmo tempo em que o alto executivo responsável pela segurança está demissionário porque acredita que a empresa deveria ser mais transparente. Diz ‘confie em nós’ ao mesmo tempo em que admite ter sido pego de surpresa pelas ações de uma empresa de marketing eleitoral com práticas de todo antiéticas. Não temos como saber qual a eficácia das táticas da Cambridge Analytica. Não temos porque não conhecemos em detalhes o que o Facebook descobriu.
Não sabemos o que o Facebook sabe. Não sabemos o que o Facebook ainda desconhece.
E o problema é o seguinte. A praça pública, aquele ambiente fundamental às democracias onde a política é debatida e os argumentos e dados que informam as opiniões circulam, é o Facebook. E, aqui no Brasil, o WhatsApp, que pertence ao Face. A praça pública é privada e opaca. Temos um problema.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO SÉCULO 21

Educação Ambiental no Século 21 – Reavaliando Paradigmas, artigo de Roosevelt S. Fernandes


artigo de opinião
[EcoDebate] No seu sentido mais amplo, educação significa o meio formal (ação do Estado) e informal (ação difusa) em que os hábitos, saberes, costumes, maneiras de interagir com o ambiente e valores de uma comunidade, são transferidos de uma geração para a seguinte.
Por sua vez, a educação ambiental é uma dimensão da educação, atividade intencional que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando a potencializar a prática social e a ética ambiental.
Tais conceitos servem como pano de fundo para a nossa reflexão: o princípio do desenvolvimento sustentável não é mais o caminho único para enfrentar as diferentes facetas da temática ambiental. Ou seja, já passamos da fase do “desenvolvimento sustentável”; a hora agora é da “produção e consumo sustentáveis”.
Para isso, as ações de governo e as pressões da sociedade devem ter a adequada, imediata e responsável resposta – com práticas sustentáveis – por parte do setor produtivo, sem a qual não há como levar o Brasil para padrões mais sustentáveis de produção e consumo.
Por outro lado, nesse caso, ao analisar a posição das maiores economias mundiais, observa-se uma nítida preocupação com a crise financeira, porém, com um discurso vago e breve em relação à problemática ambiental.
No entanto, entre o contexto limite das visões dos pesquisadores e dos políticos, persiste uma análise de idêntica importância, ainda não suficientemente abordada, voltada a saber como a sociedade está preparada para, depois de devidamente informada, pressionar por soluções proteladas, aceitar as consequências da adoção das mesmas e, sobretudo, como nossos futuros gestores, no horizonte do curto e médio prazo, estão preparados não apenas para implementar as propostas conhecidas, mas gerar novas e efetivas respostas para o cenário que a sociedade deverá enfrentar, já que o tempo, nesse novo contexto, é uma variável progressivamente mais crítica.
No Espírito Santo, através de Resolução do Conselho Estadual do Meio Ambiente / CONSEMA, de número 001 / 2016, foi definida uma metodologia básica para a estruturação de Programas de Educação Ambiental, privilegiando a consulta prévia (e não, como na maioria dos casos, a posteriori, quando da divulgação / implantação dos programas) da comunidade para a qual a proposta estará sendo direcionada.
Tal objetivo é assegurado através da realização de pesquisa de avaliação da percepção ambiental e social do segmento visado, a disponibilidade de informações essenciais sobre como a sociedade percebe os vários pontos relacionados às temáticas ambiental e social, que deverão ser levados em conta quando da estruturação do programa.
Como define a referida norma legal, que deveria ser visitada por todos que se dedicam a estruturação de estudos e programas de Educação Ambiental, as informações decorrentes da pesquisa prévia da sociedade, são debatidas em evento público, de modo que as informações tenham o pleno respaldo da sociedade e, sobretudo, que sejam compulsoriamente absorvidas por aqueles que estarão estruturando os programas de Educação Ambiental.
Em síntese, uma significativa mudança de paradigmas voltada a ampliar o debate de como deve ser desenvolvida a Educação Ambiental no século XXI
Roosevelt S. Fernandes é coordenador do Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental e Social / NEPAS – www.nepas.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/03/2018

DIVERSIDADE E FUNCIONALIDADE ECOSSISTÊMICA

Diversidade e funcionalidade ecossistêmica, artigo de Roberto Naime


Considerada o maior felino das Américas, a onça-pintada (Panthera onca) está presente em cinco biomas brasileiros (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal). Animal de hábitos solitários e mordida potente, a Panthera onca é classificada como ameaçada de extinção
Considerada o maior felino das Américas, a onça-pintada (Panthera onca) está presente em cinco biomas brasileiros (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal). Animal de hábitos solitários e mordida potente, a Panthera onca é classificada como ameaçada de extinção. Foto e informação do ICMBio
[EcoDebate] Todos os animais como abelhas, anfíbios, antas, onças, cupins e peixes-boi exercem funções ecossistêmicas importantes na manutenção do habitat.
Todos os animais possuem papéis importantes para o equilíbrio da natureza. São eles que dispersam sementes, plantando árvores, controlam populações de outras espécies e ainda produzem remédios para cura de muitas doenças, inclusive humanas. A função deles é primordial para a existência de outras espécies.
O site do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) selecionou algumas espécies que se destacam na natureza ressaltando a importância delas para a manutenção e o equilíbrio ecossistêmico e da biodiversidade.
As abelhas praticam a polinização, que contribui com a manutenção da diversidade de espécies na terra, sendo o fator mais importante para a existência da vegetação.
O desaparecimento das abelhas levará à redução de várias espécies de plantas e animais e também dos serviços ambientais fornecidos por elas, como é o caso da polinização, que promove a diversidade das espécies de plantas.
Acredita-se que as principais causas na redução de populações de abelhas sejam as mudanças climáticas, a grande quantidade de inseticida utilizado pela agricultura e o desmatamento.
Os anfíbios são considerados bioindicadores, conseguem prever alterações ambientais. A pele permeável e o ciclo de vida em ambiente aquático e terrestre são características que os tornam suscetíveis a alterações no ambiente, tanto físicas, como químicas.
A sensibilidade de algumas espécies de anfíbios permite dizer que o ambiente não vai bem, quando deveriam estar presentes e não estão. O declínio de tantas espécies de anfíbios é grave. Mesmo em áreas em que o ambiente está aparentemente preservado, o desaparecimento de espécies de anfíbios nos diz que existe um problema.
A anta tem o hábito de procurar comida durante o fim de tarde, de noite e de madrugada. Durante o dia costuma descansar escondida na mata ou dentro da água, local considerado como refúgio para elas. Em períodos de cheias, com a inundação das florestas, a anta mergulha atrás de frutos caídos das árvores. A principal predadora da anta adulta é a onça-pintada.
Os jovens e filhotes também são presas das suçuaranas e jacarés. A anta, além de ser o maior mamífero terrestre da América do Sul, é considerada a jardineira de nossas florestas, por ser uma excelente dispersora de sementes, contribuindo dessa forma para a formação e manutenção da biodiversidade dos biomas brasileiros onde vive, como Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal.
Os cupins podem ser considerados como uma espécie-chave devido a sua grande abundância e impacto no ambiente. Esses insetos capazes de digerir celulose servem de alimento para um grande número de organismos, e os seus ninhos, os cupinzeiros, servem de abrigo a vários animais de diversas espécies, incluindo invertebrados e vertebrados. São muito importantes para o solo, influenciando diretamente na sua estruturação e fertilidade.
Os cupins ao construírem seus ninhos no solo fazem vãos e pequenos canais, permitindo com que os solos sejam aerados e drenados. A movimentação dos cupins faz com que haja maior circulação de partículas no solo.
Por consequência, outras funções importantes são a de descompactação e a de manutenção da porosidade e distribuição de matéria orgânica. Ou seja, este grupo é muito importante tanto para a estruturação física quanto química do solo.
Cupins têm função importante nos processos de decomposição, ciclagem de nutrientes, fixação de nitrogênio, fluxo do carbono, incorporação de matéria orgânica e condicionamento do solo.
A onça-pintada exerce importante função ecológica para a manutenção do equilíbrio dos ambientes onde ocorre, principalmente por regular o tamanho das populações de suas espécies presas como queixadas, capivaras e jacarés.
É um animal que exige extensas áreas preservadas para sobreviver e se reproduzir. Dessa forma, a onça-pintada é considerada uma espécie guarda-chuva, pois suas exigências ecológicas englobam todas as exigências das demais espécies que ocorrem no seu ambiente. Ou seja, quando a onça estiver bem, outras espécies estarão bem também.
Finalizando, o peixe-boi fertiliza a água dos rios com os nutrientes encontrados em sua urina e fezes que serve de alimento para muitas larvas de peixes e fitoplânctons.
Além disso, contribui para o controle biológico de plantas aquáticas, regulando a sua multiplicação. A espécie marinha evita que algas se acumulem em um único local da costa e também as impedem de alcançar superfícies litorâneas e dificultar a vida marinha nesses locais.
Referência:
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/03/2018